Sexta-feira,
14/7/2006
Digestivo nº 287
Julio
Daio Borges
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MASHUP
Mais de seis meses atrasada (para não dizer um ano) saiu, no Brasil, a primeira revista com capa para a Web 2.0. Foi a Informática Exame, que deve ter ficado cansada de dedicar dezenas de capas ao “próximo” Windows, aos “truques” do MS Office – à Microsoft, em suma. Quem não lia há tempos a publicação, deve ter estranhado o apoio incondicional da “Info” ao fim da era do software. A Abril, que é mainstream, nunca foi assim tão vanguarda (no mínimo, a subsidiária de Bill Gates, no Brasil, deve ter cortado a verba para publicidade...). E a própria Abril, ao que parece, está aderindo com força à internet. A nova Capricho (insistem em reeditá-la; como à Bizz), com Cicarelli na capa, quase implora, a cada página, para que se acesse seu site, seus blogs, suas comunidades... Aliás, com a marca Info, estão saindo “guias” como o de blogs, onde espantosamente se lê: “Vire crítico de CDs e DVDs”. Ora, ou o Grupo Abril se esqueceu de que edita uma revista chamada Bravo! ou está assumindo que basta abrir um blog para se tornar “crítico de CDs e DVDs”. Até aí, nenhuma novidade na afirmação (a internet já demonstrou que é possível, sim); a novidade está na grande imprensa, ela mesma, abrir mão de seus quadros em favor do que – ela própria – já considerou “concorrência desleal” ou mesmo “canibalização”... A matéria sobre Web 2.0 admite que a revolução é “séria”; manda “esquecer” o Windows (e, conseqüentemente, o Office); adere ao Linux e ao OpenOffice. Os abrilianos estão, finalmente, desistindo do conteúdo e partindo para a sua distribuição. Quem faz isso mundialmente há 10 anos? O Google!
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Info Exame |
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SWEET, CLEAN AND FULL-BODIED
Se o futebol brasileiro no mundo não anda bem das pernas, o nosso café continua faturando as primeiras posições. Também na Suiça, mas em Berna, ao compor o blend do barista vencedor, Klaus Thomsen, na competição patrocinada pela Specialty Coffee Association. Para quem estranha o vocabulário, a coisa é bastante simples: grosso modo, assim como existem sommeliers para vinhos, em matéria de conhecimento, existem baristas para cafés. A diferença é que os baristas competem mundialmente e, além da qualidade do expresso que preparam, conta a “assinatura” (num drink criado especialmente para a ocasião) e o desempenho (a apresentação). O concurso internacional de baristas, vencido em 2006 por um dinamarquês (como já se disse, com blend a partir de café brasileiro), se resume a preparar, em quinze minutos (para quatro juízes), um cappuccino, um expresso propriamente dito e o tal “drink” inédito com “assinatura”. E, para quem ainda sofre com o desencanto da Copa do Mundo, vale lembrar que nessa “modalidade” o Brasil é, pela primeira vez na História, bicampeão em dois anos consecutivos. Em 2005, o blend vencedor, preparado pelo barista Troels Poulsen, também tinha origem brasileira, também vinha da Fazenda Daterra. A Daterra para quem não sabe – mas deveria saber –, é um ramo do Grupo DPaschoal, sob liderança do incansável empreendedor Luís Norberto. Eternamente apaixonado por café, fez da Daterra uma referência nacional e internacional (agora com a dupla, e inquestionável, vitória no concurso de baristas). E para quem pergunta onde se pode desfrutar desses grãos globalmente consagrados, Luís Norberto responde com o Ateliê do Café. Lá, o apreciador tem a seu alcance o café que normalmente nem fica no Brasil (segue direto para o exterior). O Ateliê e a Daterra são o exemplo permanente de um Brasil vitorioso – que precisa, mais e mais, ser (re)descoberto.
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Klaus Thomsen | Ateliê do Café | Fazenda Daterra |
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PROFISSIONAL DE PROFISSIONAIS
Não é só Ruy Castro que, publicamente, sente nostalgia do Rio de Janeiro. Mais ainda sente quem protagonizou as histórias que ele conta – gente como... Millôr Fernandes. Sim, o Millôr! Tão presente na era da internet, tão atento aos acontecimentos, semanalmente, na Veja... Afirmando aos Ronaldos que, se ganhasse o que eles ganham, pintaria – como artista plástico que é – uma Capela Sistina por semana. Ou sentenciando que a ignorância subiu à cabeça de Lula. Um Millôr mais apegado ao passado que o normal – que esse nosso Millôr de cada dia – está em Apresentações, um livro que a Record editou há um tempinho mas que permanece (ao contrário do Millôr da imprensa)... atemporal. Nele, o Guru do Méier sente saudade das conversas (e da convivência) com Paulo Francis. O autor de Waaal aparece numa foto clássica: gesticulando, possivelmente nos anos 70, num banco, com os cabelos compridos brancos, os olhos arregalados nos óculos, a mão espalmada – um gesto típico seu –, argumentando. Clássica é, também, a legenda: “Que mundo constituído?”. Millôr traça um dos mais belos retratos – escritos – de Ariano Suassuna (e da inveja saudável que sente dele). Põe Marília Pêra nas alturas (com razão); é quase familiar com Deborah Bloch; quase paternal, com Chico Caruso; e quase irrestrito, com Jaguar. Amigo, com Danuza; companheiro, com Ivan Lessa; expansivo, com Ziraldo. Tão interessante quanto as personalidades são os momentos que escapam – em quase 70 anos de obra e mais 80 anos de praia (no Rio, claro). A história pessoal (ou as histórias) pode(m) ser também uma História descompromissada. Enquanto isso, acessamos o Millôr Online...
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Apresentações - Millôr Fernandes - 290 págs. - Record |
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CON MOLTO SENTIMENTO D’AFFETTO
Para o leigo que observa a série de concertos de música clássica na cidade como um bloco fechado, não parece haver diferença entre as temporadas. A olho nu, a Sociedade de Cultura Artística se confunde com o Mozarteum Brasileiro, enquanto que a Osesp, polarizada pela figura de John Neschling, parece correr por fora – por serem “os nossos músicos” tocando... Não é nada disso; são, sim, orquestras em muitos casos, mas a análise concerto a concerto prova que, mesmo dentro de uma única temporada, pode haver enorme variedade. Nesse contexto, mesmo para quem não separa conteúdo de forma, a temporada de Concertos BankBoston se destaca – por ser, sempre, uma atração mais intimista, de música de câmara. A exemplo do que aconteceu em meados de junho, com o brasileiro José Feghali, ao piano, e a violoncelista norte-americana Alisa Weilerstein, de apenas 24 anos. Embora cronologicamente precoce, Alisa executou bravamente Beethoven, soube conferir brilho a Brahms, respeitou Debussy e, com apoio de Feghali, ofereceu um bis com um denso Chopin (a história do folheto evocava o compositor fragilizado dos últimos anos...). José Feghali, além de exímio ao seu instrumento, revelou-se simpaticíssimo. É curioso: os músicos, nos Concertos BankBoston, se sentem tão à vontade que não é raro vê-los conversar com a platéia. O auditório permite. E não é uma “explicação” técnica (ou didática), à la Neschling, mas, sim, um bate-papo franco – sobre a obra a seguir, também, mas, sobretudo, abordando um “estado de espírito” e uma situação (a postura de Daniel Taylor, portanto, não foi exceção). Outro ponto interessante: os assinantes dos Concertos parecem se conhecer de longa data – sentam-se lado a lado e cumprimentam-se no intervalo. Para além da música de qualidade, não é à toa que a temporada BankBoston tem a fama de ser a mais civilizada. Oxalá a fusão com o Itaú não desfaça essa mágica.
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Concertos BankBoston |
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MEMÓRIAS ALHEIAS
O mar não está pra peixe, quando se trata de publicações em papel. Ainda mais, novas. “Hoje todo mundo só quer coisas que se possa ‘baixar’ pela internet”, deixou escapar Leonardo, na entrevista que ele, Allan Sieber e Arnaldo Branco realizaram com Fausto Wolff. O bate-papo – com farpas de Wolff disparadas para todos os lados – foi publicado na quarta edição da revista F., dirigida pelo trio e agora com o apoio da editora Conrad. Além de ganhar naturalmente em matéria de distribuição (embora a editora não tenha sido muito bem sucedida com outros títulos de humor, como a Crocodilo), a F. ficou com menos cara de publicação alternativa (geralmente um híbrido entre revista e jornal), e com mais jeito de publicação de imprensa constituída. Saltou, digamos, de uma Mosh para uma Bundas. Wolff, aliás, chamou Ziraldo de “editor de m.”, classificou Diogo Mainardi (o entrevistado da F.#3) de “filhinho de papai” e praguejou contra Jaguar por conta de a antologia do Pasquim ter sido, em sua visão, desfavorável a Nataniel Jebão... Ganhou destaque, fora o desbocado Wolff, o “I e Único Salão de Humor Engraçado”, uma iniciativa da própria F. E, definitivamente, revelou gente talentosa, como Daniell Rezende, brincando com a Legião Estrangeira, Armando Mariotto, na linha do humor negro, e Kleber Batista, fazendo uso do contexto político. A produção de Allan Sieber, Leonardo e Arnaldo Branco já é conhecida e, ainda que nem sempre seja brilhante, não decepciona. O modelo Casseta&Planeta, pós-Pasquim, ainda sufoca o humor carioca. A F., quem sabe agora editada em São Paulo, talvez consiga se liberar dessas amarras.
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F. - Conrad |
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>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA
>>> Palestras
* O click do êxito - Wilson Mileris
(Ter., 18/07, 19h00, VL)
* Santos Dumont e os 100 anos da aviação
Fernando Botelho
(Qui., 20/07, 17h00, VL)
>>> Autógrafos
* O perdão dos anjos - Eleonora Duvivier
(Ter., 18/07, 18h30, CN)
* A caravela dos insensatos - Paulo Novaes
(Qua., 19/07, 19h00, CN)
* Formação do pensamento político brasileiro
Francisco C. Weffort
(Qui., 20/07, 18h30, CN)
>>> Shows
* Swing era - Traditional Jazz Band
(Sex., 21/07, 20h00, VL)
* Get Back - Banda Liverpool
(Sáb., 22/07, 19h00, VL)
* Trocando idéias - Alex Buck e Michel Leme
(Dom., 23/07, 18h00, VL)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** a Livraria Cultura é parceira do Digestivo Cultural
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Julio Daio Borges
Editor |
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