Sexta-feira,
28/7/2006
Digestivo nº 289
Julio
Daio Borges
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EMPOWER YOUR FANS TO SPEAK UP
Seth Godin é hoje, sem dúvida, um dos mentores intelectuais da internet. Pelo menos, em matéria de negócios. Além de, claro, grande marqueteiro (sempre no bom sentido). Godin não perde um segundo observando a Web e foi, em termos de marketing, um dos autores mais hábeis em registrar os movimentos da Grande Rede, nestes pouco mais de dez anos de internet comercial. Desde o permission marketing até o ideavirus, passando pela purple cow – é tudo coisa dele. Desde um white paper sobre marketing em blogs até o principal livro em questão de blogs corporativos, todo mundo cita ele. E acompanha, lógico, seu blog. É a referência. E aposto com você que não deve estar no mainstream todo dia... Apesar de estar na bíblia do marketing pós-WWW, a revista Fast Company. Com as mudanças instauradas pela Web 2.0, Seth Godin anda mais frenético do que nunca – publicando em intervalos de tempo cada vez menores, e em todos os formatos. O mercado editorial brasileiro, supreendentemente, está atento a ele e é possível encontrar o poderoso Todo o Marqueteiro é Mentiroso (pré-Duda Mendonça) e sua última coletânea, aqui pela Manole, A grande mudança (ou, em inglês, evocando a “vaca roxa”: The Big Moo). Nem deu tempo ainda, mas ele já desembarcou virtualmente com Flipping the Funnel (2006, em PDF), em que explica como transformar seus clientes (os seus, leitor) em divulgadores espontâneos, “viróticos”, boca a boca. Narra ainda sua aventura à frente da Squidoo (porque ele não é apenas um teórico – ou um bravateiro de imprensa –, é um empreendedor). Quem está muito preocupado com o novo presidente do Fed americano, deveria se preocupar mais com Seth Godin. O primeiro passa; o segundo, não.
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Flipping the Funnel - Seth Godin |
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O PROFESSOR DE DESEJO
Philip Roth às vezes parece um artista correndo contra o tempo. Contra a morte. Existe algum mal nisso? Não, mas o pudor social em relação à velhice (a "terceira idade") e a incorreção política do humor negro impedem qualquer pessoa de proclamar esse fato. Roth, mais ou menos como Woody Allen, resolve soltar "alguma coisa" todo ano, para encerrar, junto com a vida, o possível estoque de obras-primas. Mas, raramente, alguém comete uma obra-prima na velhice. Ou comete? Roth já admitiu que não tem medo da morte, mas tem pavor de não conseguir escrever mais. Esses temas todos, do fim da vida, mais do fim da vida sexual, das emoções do amor etc., permeiam O animal agonizante, seu mais recente título lançado no Brasil. Conforme escrevemos aqui, não é uma obra "com projeto" — mas com alguma pressa de ser concluída. Pode não haver tempo... Será a última? Não será? Como saber? Enquanto isso, Philip Roth continua escrevendo — e nós, claro, lendo. Como escritores só são reconhecidos depois de mortos, ou à beira da morte, já estão falando que ele é um dos "maiores" (vivos). Ainda mais depois que morreu Saul Bellow. O animal agonizante, vale repetir, não é o melhor de Roth, mas continua indispensável. Até porque é um livro de cento e vinte e poucas páginas. Sem desculpa para não ler, portanto. Repete um pouco a fórmula do velho sedutor, professor, que abomina o casamento, louva a sua liberdade, mas que, mesmo se preservando da decadência a dois, encara a decadência física de frente — num episódio completamente inesperado. Fora isso, valem as meditações sobre os anos 60, a liberdade sexual e o feminismo — nunca contaminadas pelo blablablá sociológico, mas sob a ótica de quem viveu a época e, no fim da vida (sexual também), faz um balanço de prós e contras. Um balanço parcial, mas que vale a pena ler. Roth: enquanto você estiver aí, estamos aqui; depois, não sei.
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O animal agonizante - Philip Roth - Companhia das Letras - 128 págs. |
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RUA DOS VARREDORES
Marcos Sacramento é um artista de palco. “Artista de palco” parece redundância, mas não é, não. Desde que inventaram a gravação, existem “artistas de estúdio” (e só de estúdio) – que fazem, também, uma apresentação ou outra, mas mais porque precisam do que por qualquer outra coisa (ainda mais agora, que a cópia não vende nada, mas a performance continua valendo para o público pagante). Assim, Fossa nova, o último disco de Marcos Sacramento, acompanhado do piano de Carlos Fuchs, não parece que chamou a atenção logo de início – em estúdio –, mas parece que precisou do empurrãozinho da estréia ao vivo, no Mistura Fina do Rio – no palco, portanto. Em seu primeiro disco – a estréia pela Biscoito Fino –, Sacramento já havia provado que era denso – mesmo cantando sambas. Era profundo, quero dizer, mesmo quando alegre; “pra cima”. Agora, imagine quando o tema é assumidamente “fossa” (mesmo que “nova”). Fossa nova, nesse aspecto, não é um disco fácil de atravessar – e talvez seja por isso a tal demora na sua aceitação. Marcos Sacramento possui aquilo que um músico de jazz apontou em Elis Regina (que considerava a maior cantora do século): seu canto carrega uma carga de dramaticidade que não deixa o ouvinte impune. Sabe-se que Elis, por exemplo, se debulhou em lágrimas quando registrou “Atrás da porta” – porque estava efetivamente vivendo aquilo e sofreu, de fato, quando cantou. Sacramento transmite a mesma sensação; e Fossa nova produz uma inquietação semelhante. É simbólico que o CD tenha saído pela Olho do Tempo, uma gravadora de músicos, para músicos, por músicos. Impossível arriscar um salto mortal no grande mercado do jeito que está. Ou, pelo contrário: somos mais verdadeiros quando nos aproximamos da dúvida; ou quando nem ligamos mais... Em resumo: se você se cansou da indústria, mas também dos “alternativos” – que não são alternativa a coisa nenhuma, pois querem todos ser mainstream –, seu intérprete é Marcos Sacramento. De novo: o maior do momento.
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Fossa nova - Carlos Fuchs e Marcos Sacramento - Olho do Tempo |
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A ÚLTIMA FRONTEIRA
O business deveria interessar a todo mundo? Deveria, mas não interessa. Por quê? Porque o jornalismo de business nem sempre é interessante. (Assim como o jornalismo cultural nem sempre é interessante.) Em termos de jornais, o Valor Econômico conseguiu tornar mais interessante a coisa. E agora, em termos de revistas – fora a GV-executivo –, a ESPM parece estar fazendo um bom trabalho. O grande desafio dessas publicações ligadas a instituições de ensino é manter o rigor científico, mas comunicar-se com um público amplo, sem cair no ranço acadêmico. O que estão aprontando nossos cientistas? Todo mundo quer saber, mas a divulgação não é fácil, nem auto-suficiente. A revista da Fapesp, também nesse sentido, faz um bom trabalho. A ESPM, no último trimestre, levou o prêmio da Anatec (Associação Brasileira de Publicações) para revistas “customizadas” ou, como antes se dizia, “dirigidas”. Tem razão de ser: tirando o cuidado gráfico (da apresentação), que é impecável, a Revista da ESPM é inteligente na abordagem de temas e pode ser lida por qualquer pessoa (mesmo que não seja do “meio”, mesmo que não seja do business). A penúltima edição, por exemplo, traz uma longa e apropriada entrevista com o fundador do Habib’s, contando toda a história da bem-sucedida rede. O resto da edição procura esgotar o tema “varejo” (que a GV-executivo já abordou), mas nada parece tão interessante quanto o fast-food de comida árabe que explodiu, em todo Brasil, vendendo ainda pizza e doces portugueses. São histórias interessantes, não são? Cadê, nessa hora, nosso jornalismo de business? A ESPM está prestando atenção.
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Revista da ESPM |
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POCO PIÙ ANIMATO
Não faz muito tempo: já havíamos visto Marie Luise Neunecker se apresentando no Brasil. Foi à frente da Bamberger Symphoniker, em plena Sala São Paulo, executando o Concerto nº 2 para trompa, de Strauss, pela Temporada 2003 do Mozarteum Brasileiro. Foi uma solista que entrou, fez rigorosamente sua participação e saiu. Não pudemos observá-la de perto, nem, muito menos, senti-la em seus movimentos e sua respiração. Felizmente ela voltou agora, pela Temporada 2006 dos Concertos BankBoston, e pudemos estudá-la mais detalhadamente. Marie Luise continua aquela concertista alemã rija, desta vez acompanhada pela igualmente firme pianista Silke Avenhaus e pela violinista Antje Weithaas. Com seu instrumento reluzente, executou o moderno Koechlin, aluno de Fauré, um ótimo Schumann e um, inesperadamente “jazzístico”, Ravel (com um movimento de “blues” no meio). Esteve impressionante, porém, depois do intervalo, executando o Lamento d’Orfeo para trompa e piano, de Kirchner. (Orfeu e Eurídice estão em alta, em 2006, nas salas de concertos: pelos Concertos BankBoston, Daniel Taylor abriu a série até relatando a história do mito; e, pelo Mozarteum, a ária da respectiva ópera de Glück mereceu apoio da Orquestra Filarmônica de Câmara de Freiburg.) E Marie Luise Neunecker fechou belamente com Brahms – que não foi exatamente um revolucionário em vida, mas que é um mestre das formas bem trabalhadas (que não hesitava em jogar fora o que estivesse aquém de seu conceito) – e que deixa, ao fim de um concerto, sempre uma boa impressão. Marie Luise, fora o fato de ser a precisão em pessoa, esteve mais solta em 2006. Que volte outras vezes, para soltar-se ainda mais.
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Concertos BankBoston |
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>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA
>>> Palestras
* Yoga Integrado - Márcia de Luca
(Seg., 31/07, 19h00, VL)
* Quer vender mais? - Eduardo Figueira
(Qui., 03/08, 19h00, VL)
* Liderança Corporativa - Heródoto Barbeiro
(Sáb., 05/08, 15h00, VL)
>>> Autógrafos
* Computabilidade
Richard L. Epstein e Walter Carnielli
(Qui., 03/08, 18h30, CN)
>>> Exposições
* Exposição de Maria Isabel Pagliuca Pinotti
De 01 a 20 de agosto de 2006
(Das 9 às 22 horas, CN)
>>> Shows
* Noite de blues - Traditional Jazz Band
(Sex., 04/08, 20h00, VL)
* Flashback unplugged - Cármina
(Qui., 03/08, 19h00, MP)
* Sete fontes - Eduardo Letti
(Dom., 06/08, 18h00, VL)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** Livraria Cultura Market Place Shopping Center (MP): Av. Chucri Zaidan, nº 902
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Julio Daio Borges
Editor |
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