Sexta-feira,
17/11/2006
Digestivo nº 304
Julio
Daio Borges
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A TAPAS E PONTAPÉS
Em meados dos anos 90, Diogo Mainardi lançava Polígono das secas, pela Companhia das Letras, e ia ao Jô Soares para se anunciar como O Pior Escritor de Todos os Tempos. Ele escrevia bem, Luiz Schwarcz o promovia como um autor satírico, merecia até contracapa com elogio de Paulo Francis – mas não funcionava. Hoje, Diogo Mainardi vende mais livro que seus colegas de Manhattan Connection, tem um site quase inacessível (de tão acessado) e é conhecido no Brasil inteiro (para o bem e para o mal). O que mudou? Sua coluna na Veja. Nessa linha – de tudo o que ele toca, agora, vira ouro –, o próximo estouro, nacional, em matéria de podcast, é o seu. Diogo Mainardi é sério candidato a maior divulgador do formato que os podcasters brasileiros estão tentando difundir há meses (alguns, há anos). Seu programa, a rigor, não é um podcast – de tão curto (e de tão solto). Mas, pelo menos, a palavra “podcast” fica conhecida e os leitores de Veja (ou do Diogo) podem pesquisar outros podcasters na Rede Mundial de Computadores. Semanalmente, ao que parece, Diogo Mainardi liga para alguma personalidade e grava cinco minutos de conversa sobre um tema quente. Para Reinaldo Azevedo, por exemplo, já ligou um par de vezes – uma para falar que Lula estava eleitoralmente morto (como muita gente boa também acreditou). E já ligou para Millôr Fernandes, para tentar entender, justamente, a popularidade aparentemente indestrutível de Lula. Já ligou até para Marcelo Madureira – a quem avacalhava, via Casseta, mas de quem se aproximou, no Rio de Janeiro. O podcast tem o ar debochado do Diogo, sem pauta, sem nada – às vezes declaradamente feito para matar (ou preencher) o tempo. Para onde vai, de onde vem, ninguém sabe. Nem ele. Mas o podcast, no seu sentido mais amplo, pode pegar carona.
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Podcast de Diogo Mainardi |
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QUEM, EU?
Hoje existem, pelo menos, duas maneiras de interpretar o termo “literatura marginal”. A primeira, e mais notória, é a literatura marginal no sentido de periférica, de “excluída”, de relegada a segundo plano. É quase literatura feita por marginais. Desde marginais de verdade até marginais autoproclamados – se dizendo “perseguidos” (mas só se for pelos segundos cadernos dos jornais...). A outra “literatura marginal” seria aquela feita para marginais – mas, como bem colocou Lisandro Gaertner, “pra quê literatura marginal se bandido não sabe ler?”. Se existe uma verdadeira literatura marginal – sobre marginais, mas não feita pelos marginais e nem para os marginais – ela está em Macho Não Ganha Flor, novo livro de contos de Dalton Trevisan (pelo simples fato de que é literatura antes de tudo). Numa das raras orelhas escritas pelo autor – e num dos raríssimos comentários feitos, por ele, sobre sua obra –, fala o Vampiro de Curitiba: “Buscando se livrar da pecha de repetitivo, o contista agregou ao seu conhecido circo de horrores uma nova galeria de monstros morais”. É verdade; e é a única literatura marginal legível, junto com os melhores momentos de Rubem Fonseca. Abstraindo a temática – se ela incomodar –, Dalton Trevisan é estilista da língua; então, para quem escreve, é quase uma obrigação passar por ele. Ano a ano. Destaque para “O Vestido Vermelho” (de um lirismo absoluto), “Três Ovos de Páscoa” (coisa que o Cinema da Retomada tentou mas não conseguiu) e “A Festa É Você” (pau a pau com o clássico Feliz Ano Novo). Em busca da forma perfeita, Dalton Trevisan encontrou o tamanho perfeito: conto e poucas páginas por ano. Como se já não bastasse ser um dos dois maiores contistas vivos, continua escrevendo bem e não toma o tempo do leitor. A soi-disant literatura marginal contemporânea tem ainda muito o que aprender com ele...
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Macho Não Ganha Flor |
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E LA NAVE VA
Pouca gente sabe, mas a Blockbuster, no Brasil, tem menos da metade do mercado de locação de vídeo. Isso não significa que o brasileiro não consuma blockbusters – consome, sim; principalmente no cinema –, mas indica que a hegemonia do “arrasa-quarteirão”, em matéria de aluguel de fitas, não é assim como se costuma pensar. Seguindo essa linha, Ana Maria Mazzochi montou o S’Different – uma locadora só de cinema (e para cinéfilos) de qualidade. Em Pinheiros – e ao contrário das locadoras convencionais –, Mazzochi não tira um título não alugado depois de um mês, e gosta de dizer que – lá – “todo filme é eterno”. Com experiência de mais de quinze anos à frente do Sebo de Elite, que marcou época comercializando discos raros, Ana Maria sentia falta de trabalhar com qualidade, depois de assistir à derrocada da indústria fonográfica, e de tanto receber feedbacks de ex-clientes saudosos ao redor do mundo. O S’Different é, de certa maneira, uma continuação do Sebo de Elite, mas não em música e, sim, em cinema. Pouco depois de abrir, na Artur de Azevedo, a locadora já foi percebida por gente do meio e, entre os primeiros entusiastas célebres, está o escritor Ignácio de Loyola Brandão. Além do bom gosto na escolha (que está implícito), Ana Maria Mazzochi oferece delivery (como poucas locadoras) e quer apostar no atendimento que fez a história do Sebo de Elite. O S’Different quer conhecer cada cliente a ponto de poder indicar-lhe fitas de olhos fechados. Para o grande público (desinformado) parece fácil, mas para o consumidor exigente (de um cinema, por exemplo, de autor) não é nada trivial. Tendo saído de um negócio que se espraiava pelo Brasil inteiro, em mais de quinze filiais, Ana Maria Mazzochi volta mais sossegada – mas sua nova idéia já está dando o que falar...
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S’Different - Rua Arthur de Azevedo, nº 536 - Pinheiros - Tel.: 11 3063-4915 |
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(Ter., 21/11, 18h30, CN)
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(Qua., 22/11, 19h00, CN)
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* Linha d'água - Ana Luiza e Luis Felipe Gama
(Dom., 26/11, 18h00, VL)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
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Julio Daio Borges
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