Sexta-feira,
6/4/2007
Digestivo nº 323
Julio
Daio Borges
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NETWORKING VIRTUAL FUNCIONA
Era esperado. Alguém inventaria o Digg e o LinkedIn no Brasil. Reinventaria ou adaptaria, na verdade. Ninguém apostava, porém, que a mesma empresa faria, ao mesmo tempo, as duas coisas. Empresa, não: dois empreendedores brasileiros de menos de 25 anos – e que já receberam o primeiro aporte de capital de investidores. No Brasil? Sim, no Brasil. O tão propalado “boom”, depois do pontapé inicial da venda da AgênciaClick, está desembarcando finalmente em nosso País. Voltando ao Digg e ao LinkedIn, suas versões brasileiras atendem por Rec6 e Via6, respectivamente. Para quem não entende nada de Web 2.0, mas precisa entender, o Rec6 é um site de notícias, sem editores, com sugestões e destaques de acordo com as submissões e os votos dos internautas, e o Via6 é um site de relacionamento para profissionais, como o Orkut para quem tem mais de 30 anos. Qualquer pessoa que acompanhasse minimamente a internet fora do Brasil, depois do fenômeno do Orkut aqui, saberia que havia espaço, novamente, para um Digg ou para um LinkedIn. E outros sites antes, naturalmente, tentaram... Portanto, eis o mérito da atual dupla de empreendedores – que chegou, justamente, à melhor solução, a que “pegou”. Se continuar nesse pique, o Via6 pode ter o mesmo valor que o Orkut tem em termos de “consumidores”, só que no “mundo corporativo” – aposentando 99% dos sites de RH, e de “vagas”, hoje no ar. O Rec6 é mais jovem, mas se crescer e for, digamos, uma fração do original norte-americano, pode estabelecer novos pesos e novas medidas no universo do noticiário na Web do Brasil. Num ritmo de atualização semanal, os investidores prometem ressuscitar, em 2007, as IPOs “made in Brazil”.
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Via6 | Rec6 |
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SAMBA MACHINE
Se a MPB está viva ou morta, só uma pessoa, hoje, pode dar a resposta: Alexandre Kassin. Popular depois de produzir gente como Los Hermanos e Adriana Calcanhotto, e célebre depois de ressuscitar mortos-vivos como Caetano e Jorge Mautner, Kassin vem ganhando mais confiança para soltar, aqui e ali, suas próprias composições – e finalmente temos um álbum inteiro com sua assinatura, ao lado de Domenico Lancelloti e Moreno Veloso. Se o trio chamou a atenção no primeiro registro, Moreno+2 (Luaka Bop, 2001), e experimentou além da imaginação no segundo, Domenico+2 (Trama, 2003), felizmente chegou a um resultado mais ao alcance de meros mortais (como nós), em que a vanguarda se torna digerível e alguns hits (heresia?) até se anunciam (“cantáveis”). Futurismo de, conseqüentemente, Kassin+2 saiu, no ano passado, primeiro no Japão, e, agora, no Brasil, pelo selo Ping Pong. Em um único show low-profile no Sesc Pompéia, em meados de março, a platéia, muito atenta, mais do que uma apresentação, encontrou uma performance ou um happening. O trio passa aquela mesma sensação de despojamento do (quarteto) Los Hermanos, que parece sempre estar ensaiando e tocando como uma banda de faculdade. Moreno, em contraponto a seu pai, o Tímido Espalhafatoso, é o anti-herói da banda; Domenico, o mais comprometido dos três com as artes plásticas, é o explosivo do conjunto; e Kassin, desfrutando de ampla notoriedade como produtor, é o cerebral do grupo. Naquele limbo entre a morte dos stars, superstars e megastars e o fim do suporte (e quase do consumo pago) em música, Kassin, Domenico e Moreno resolveram partir para o experimentalismo com tudo, levando a música brasileira um passo adiante, ensaiando, inclusive, uma sobrevivência além do grande mercado. Não é para todo mundo, mas, como dizia Paulo Francis, azar de todo mundo, e, como dizia ainda Nélson Rodrigues, pior pra todo mundo. Kassin, com ou sem “+2”, avante!
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Futurismo |
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DA REDEMOCRATIZAÇÃO A UM SONHO
A Editora Contexto resolveu comemorar seus 20 anos, agora em 2007, dando um presente aos leitores. Mas não um presente qualquer (conforme reza o clichê), um presente ambicioso. A Contexto convidou seus principais autores para produzir, sintomaticamente, um balanço do Brasil, desde 1987, em quase vinte áreas. Com introdução de Jaime Pinsky, o sócio-fundador da Editora, O Brasil no Contexto traz, por exemplo, Heródoto Barbeiro falando sobre Esportes, José Aristodemo Pinotti sobre Saúde, Marília Scalzo sobre Comportamento, João Batista Natali sobre Jornalismo e Demétrio Magnoli sobre Política Externa, entre outros. Sem cair no ranço das ambições totalizantes, justamente, sobre o Brasil, e numa linguagem que, propositalmente, foge de academicismos (embora Pinsky venha de uma rica experiência na Editora da Unicamp), o volume consegue ser de leitura agradável, situa competentemente o leitor no tempo e no espaço e, mais importante, produz insights. Além das áreas em que o balanço, geralmente, ocorre, O Brasil no Contexto tem a coragem de arriscar, introduzindo outras, que historicamente brilharam na trajetória da Editora: Língua, Mulheres, Cultura, Cidades e até Turismo. E as comemorações da Contexto não ficam “só” no livro, mas se estendem ao seu evento de lançamento, na Livraria Cultura, no dia 10 de abril de 2007, onde tem lugar um debate entre Pinsky e Natali. De cinco anos pra cá, por razões que não vêm ao caso, as soluções salvacionistas e a hipótese de “discutir” o Brasil andaram meio fora de moda. Quem sabe, Jaime Pinsky não retome, com o livro, esse hábito que, não à toa, percorre toda a nossa história.
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O Brasil no Contexto |
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Julio Daio Borges
Editor |
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