Quarta-feira,
23/5/2001
Digestivo nº 33
Julio
Daio Borges
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DEPOIS DE UM DIA INTEIRO DE TRABALHO, VOCÊ MERECE A HORA DO RUSH
Estreou, no Centro Cultural São Paulo, a peça Metrô, de Maria Cecília Carelli, com Magali Biff e direção de Maria Lúcia Perreira. Dentro de um ciclo com três autoras, três diretoras e três atrizes, Metrô ressalta, naturalmente, um certo "olhar feminino" sobre o teatro contemporâneo. O texto procura retratar o dia-a-dia de quem toma o metropolitano, mas a ênfase é dada aos encontros, aos instantes de devaneio, à epifania de quem acredita numa rotina mais poética. O homem moderno, cheio de razão, de planos e de responsabilidades, afastou-se deliberadamente da paixão. Confere-lhe apenas os estreitos limites do "amor romântico", ou então alguns momentos fugidios, que lhe escapam da mão, e que podem ocorrer nas situações e nos cenários mais improváveis. Assim, é possível sentir o arrebatamento e o despertar da paixão, por exemplo, numa aborrecida fila de espera, na sisudez de um ambiente de trabalho, na urgência e na opressão dos meios de transporte urbanos. Metrô faz uso de bastante representação, contrastando absurdamente com os megaespetáculos da cidade. Se, por um lado, a montagem exige que se abstraia muito, por outro, deixa uma mensagem de encantamento pelas coisas simples.
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Centro Cultural São Paulo - Rua Vergueiro, 1000 - Tel.: 3277-3611 |
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ONDA DESABA, ALVA GRINALDA, BORDADO A BEIRA-MAR
Ginga permaneceu como o único compositor popular a flertar, apropriadamente, com o erudito. Como músico, é talvez o derradeiro representante da linhagem que começou com Heitor Villa-lobos e que se encerrou com Antonio Carlos Jobim. Seus discos, de intenções sérias e de construções estudadas, chegam como lembranças de um país perdido, como saudades de um tempo que não volta, como realizações que não cabem nesta época de agora. Seu mais recente CD, Cine Baronesa, conta com as participações de Chico Buarque, Sérgio Cabral, Nei Lopes, Fátima Guedes e Quarterto Maogani, mas nem por isso vai vender milhões de cópias. Guinga não faz concessões, e quer apenas os ouvintes que estejam à altura de seu violão, das letras de Aldir Blanc, dos arranjos de Gilson Peranzzeta. Suas harmonias são densas, seu tom, esperançoso e melancólico, sua voz, rouca e dilacerante. Todavia, como grande artista que se espraia nos domínios mais variados, sabe cultivar a beleza e a alegria: seja em "Vô Alfredo" (uma marcha com ar circense); seja em "No Fundo do Rio" (uma ode à Cidade Maravilhosa de hoje); seja em "Geraldo no Leme" (um baião contagiante); seja em "Fox e Trote" (um jazz de desencontros amorosos). Que Guinga tenha ficado esquecido por dez anos, é mais um crime perpetrado pelos caciques e pela máfia da MPB.
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Clique Music |
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E-MAILMAN, BRING ME NO MORE BLUES
A revista Internet Business traz, em sua matéria de capa, o que parece ser uma das futuras saídas comerciais para a Web: o e-mail. Segundo a reportagem, o mundo comporta atualmente 600 milhões de contas de correio eletrônico, em que se investe US$ 119 milhões por ano, promovendo campanhas de "e-mail marketing". Projeções exacerbadas prevêem US$ 7,3 bilhões de recursos destinados ao "marketing direto virtual", em 2005, embora hoje 59% dos usuários de correio eletrônico apaguem sumariamente todos os e-mails não solicitados. É senso comum que a sobrevivência de um site depende do "marketing de relacionamento" que ele estabelece com os seus clientes. Ou seja, se não houver um cadastro que permita conhecê-los, se não houver uma política de promoções e prêmios, e, principalmente, se não houver uma resposta rápida e eficiente do site (quando procurado por quem quer que seja), existe sério risco de que a empresa caia, para sempre, no mar do esquecimento da internet. Vive-se, portanto, a contradição de se ter um número de acessos na ordem de milhões e, ao mesmo tempo, a necessidade de se fornecer atendimento personalizado. Estarão os portais com seus dias contados?
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Internet Business |
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O CONSELHEIRO TAMBÉM COME (E BEBE)
Zuleika Haddad anuncia, no Estadão, quatro novos restaurantes, no circuito Jardins-Itaim, para os meses de junho e agosto: o "Emiliano", na rua Oscar Freire, que contará com o chef Antônio Faustino e o somelier Gilson Costa, ambos oriundos do Fasano; o novo "Rubayat", que não será uma churrascaria, na rua Haddock Lobo, com os segredos do chef Frances Mallman; o "Glass", mais um empreendimento da dupla Diniz e Cusin (Dressing e Ecco), na avenida Juscelino Kubitscheck; e o "Villa Bionda", na rua Uruçuí, uma iniciativa de Alessandra Divani, experimentada doceira e proprietária do Tuttodolci. Hoje em dia, o sucesso de estabelecimentos como esses depende muito menos da comida que se serve do que de complementos que podem surpreender à primeira vista. O "Emiliano", por exemplo, abrigará uma minibiblioteca de 500 livros escolhidos, e seus funcionários desfilarão com uniformes desenhados por Ocimar Versolato. Já o novo "Rubayat" apostará na localização estratégica (ao lado de Fasano, Gero e Esplanada Grill), e num teto de vidro, através do qual se poderá ver a lua. O "Glass" confiará na baixa concorrência e na tecnologia do edifício Spazio JK. E o "Villa Bionda" - uma exceção, provavelmente - colocará duas mesas dentro da cozinha, onde o cliente poderá bolar seus próprios pratos. Enfim, depois de tanta invenção, será que o entorno e a parafernália são mesmo fundamentais, ou apenas uma maneira elegante de sublimar a fome, um desejo animal?
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O Estado de S. Paulo |
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WAR IS PEACE; FREEDOM IS SLAVERY; IGNORANCE IS STRENGTH
Preocupada com o fim do direito à privacidade, Carta Capital vem, em defesa do cidadão comum, esmiuçar as novas tecnologias que permitem ao Estado espiar a vida alheia. Segundo Gianni Carta, no Reino Unido, já se dispõe de uma versão aperfeiçoada do Big Brother (do "1984" de George Orwell), muito mais poderosa do que todo o instrumental da União Soviética de Stalin. À parte os Governos, grandes empresas estão equipadas para rastrear os movimentos de seus clientes com exatidão: na internet, através dos "cookies", que registram tudo o que se digita "on line"; nas finanças, através dos bancos, que arquivam as movimentações dos extratos "ad infinitum"; na telefonia, através dos celulares digitais, que armazenam conversas e que podem ser localizados mesmo quando desligados; nos cartões diversos que, sejam de crédito ou de entitades afiliadas, desenham o perfil do consumidor ou do titular. A preocupação é legítima, e incomoda saber-se vigiado pelas mais diversas formas de controle. Acontece que, do mesmo modo que essa gama de informações abunda e ameaça, ela se encontra hoje desorganizada e caótica, espalhada pelo mundo afora, sem grande serventia. É importante, portanto, lançar esse debate, mas sem inclinações paranóicas.
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Carta Capital |
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Julio Daio Borges
Editor |
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