Sexta-feira,
22/6/2007
Digestivo nº 332
Julio
Daio Borges
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OPASQUIM EM LIVRO, VOLUME 2
Depois de ressuscitar em forma de best-seller, OPasquim ressurge, como coletânea, em seu segundo volume, pela editora Desiderata. De acordo com Sérgio Augusto, na introdução do primeiro volume da antologia (de 2006), OPasquim, em formato tablóide, foi o maior fenômeno da imprensa brasileira, então – mesmo que tenha falhado como segunda encarnação, em forma de OPasquim21 – é interessante que, em livro, tenha, repetido (no bom sentido) a História, emplacando na lista dos mais-mais dos anos 2000. O segundo volume – em cor verde abacate, e em todas as vitrines das livrarias do Rio (e, possivelmente, de outras capitais) – abrange do número 150 ao 200, um período cronologicamente mais curto do que o abarcado pela primeira antologia (do nş1 ao 149), mas tão rico em material de qualidade, conforme afirmam seus atuais editores-organizadores (S.A. e Jaguar), que, quando chegaram na “ducentésima” edição, eles mesmos decidiram parar. E, folheando as primeiras páginas desse atual volume verde, o leitor não consegue parar de rir, mais de trinta anos depois, mesmo não conhecendo todas as piadas (muitas explicadas no primeiro volume) e mesmo não tendo todas as referências. Foi, vale repetir, uma das gerações mais brilhantes do jornalismo brasileiro. E OPasquim, além de tirar o paletó e a gravata desse mesmo jornalismo (Jaguar), antecipou muitas das práticas que hoje se consagram na internet e no que restou do próprio (se é que, nessa mídia, a expressão “jornalismo” guarda o mesmo peso e o mesmo sentido). OPasquim era, por exemplo, extremamente colaborativo, era altamente permeável aos leitores, não tinha redação fixa, nem seções muito fixas, e nem mesmo uma padronização de texto. Cada edição era uma tentativa heróica de colocar ordem no caos, embora o caos prevalecesse sempre (como prevaleceu, inclusive, no final). O Anjo Pornográfico dizia que OPasquim parecia “parede de mictório” – cada um ia lá e escrevia o que tinha vontade. Por isso, também, ele foi tão importante. E pelo brilhantismo de seus “muralistas” (ou “pichadores de banheiro” de Nélson) é que prevalece tão atual.
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OPasquim |
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SHLOMO MINTZ E PETR JIřIKOVSKÝ NO TEATRO ALFA
Na contramão da inércia de muita gente envolvida com música hoje, o Mozarteum Brasileiro tem procurado rejuvenescer sua imagem, também investir num maior contato com o público e até arriscar alguns passos na direção das chamadas novas mídias. Se com a agitação do primeiro concerto da Temporada 2007 não foi possível manusear com mais atenção o repaginado programa, logo na segunda apresentação, de Shlomo Mintz (violino) e Petr Jiřikovský (piano), deu para perceber que a programação visual está mais alegre e menos sóbria, cheia de ícones indicativos e até com alguma arte nas páginas. O programa propriamente dito não traz apenas as datas da temporada, a explicação das peças e a lista dos apoiadores, mas se converte numa verdadeira ferramenta de mídia, onde o Mozarteum, além de contextualizar a música (incrementando o prazer da audição), tem até uma intenção educativa, abordando aspectos gerais da música clássica e elegantemente ensinando porque, por exemplo, não é de bom-tom tossir durante a performance (e porque é, de bom-tom também, soltar um “bravo” ou outro no final do espetáculo). Já Shlomo Mintz, um dos maiores violinistas do nosso tempo, deu um show de profissionalismo com a Sonata nş 8 em Sol maior, de Beethoven, e a Sonatina em Lá menor, de Schubert. Petr Jiřikovský também deu o seu show, ao piano, mas Mintz dominou a cena, inclusive com toques virtuosísticos depois do intervalo, com a Tzigane, de Ravel, soltando mais a platéia, apesar de manter o rigor, com obras de Sarasate, como Zapatero, Habanera e o Concerto-fantasia sobre tema da ópera Carmen, de Bizet. Sem os Concertos BankBoston, depois Itaú Personnalité, o Mozarteum Brasileiro ficou sem a única temporada que poderia, talvez, fazer frente à sua, então brilha mais forte a partir deste ano.
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MEXILHÃO
O Mexilhão talvez seja a maior prova de que os tradicionais restaurantes de frutos do mar nunca caem de moda na capital. Ainda que tenhamos visto a ascensão e a queda de casas como o Dalmo Bárbaro (que tentou estender, no Itaim, seus domínios, para além do Guarujá), o Mexilhão está desde 1970, com a mesma chef francesa, servindo iguarias como a Casquinha de Siri, que praticamente lançou em São Paulo, Coquilles Saint-Jacques, Moqueca de Camarão, Bacalhau ao Forno e sua Paelha à Mexilhão (para duas pessoas), na mítica rua Treze de Maio, no bairro da Bela Vista. O Mexilhão não parece preocupado com as novas tendências da alta gastronomia, prefere garantir a qualidade – altíssima, como gostam de frisar os proprietários – de seus produtos, buscando peixes e frutos do mar nos lugares certos: lagostas, por exemplo, no Nordeste; pescadas e linguados, no Sul; lulas, no Rio e em Santa Catarina; camarões, desde Cananéia até o Espírito Santo; e o Salmão – por quê não? – no Chile. E em vez de chamar arquitetos renomados para redesenhar o interior e a fachada, o Mexilhão prefere manter os bem-sucedidos motivos náuticos, como quadros de conchas, nós de marinheiro, até o aquário com peixes ornamentais direto da Austrália e um autêntico timão de navio, para recepcionar a clientela, que é especialmente restaurando a cada reforma. E, em meio a tantas especulações sobre processos de conservação (por conta da inauguração do portentoso Porto Rubayat), o Mexilhão garante o frescor e a qualidade do que serve com um frigorífico especialmente projetado para a casa, onde peixes e frutos do mar são limpos e guardados a vácuo. Por essas e por outras, a experiência no Mexilhão é única. E vale cada centavo.
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Julio Daio Borges
Editor |
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