Sexta-feira,
6/7/2007
Digestivo nº 334
Julio
Daio Borges
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ALGUNS POEMAS TRADUZIDOS, DE MANUEL BANDEIRA
Hoje quando poetastros desejam fazer as brincadeiras que Manuel Bandeira fazia, em poesia, esquecem-se de um dado fundamental, conforme lembra o professor João Adolfo Hansen, com deferência, sempre que fala nele: “Bandeira era cultíssimo”. Podia, então, brincar à vontade com a língua, podia até se dar ao luxo de ser o “São João Batista do Modernismo”, segundo Mário de Andrade, escarnecendo do “lirismo funcionário público” e mesmo da sua débil condição física. Hoje, para falar dos “poetas” contemporâneos, poder-se-ia adaptar termos como “escatologia funcionária pública”, “violência (gratuita) funcionária pública” e o “semi-analfabetismo funcionário publiquíssimo”. E a incultura, claro – que, além de orgulhosa e ostensiva, seria o produto mais bem distribuído hoje, de Norte a Sul do Brasil. Não é exagero concluir, portanto, que Bandeira nos humilha, aqui no século XXI, com sua cultura – e um bom exemplo, atualmente nas livrarias, é a edição Alguns poemas traduzidos, com organização de Leonardo Fróes. Bandeira, fora tudo o que escreveu, em poesia e em prosa, realizou traduções, até para consumo próprio, que se tornaram célebres – a ponto de virarem livro e, oportunamente, chegarem até nós, os “incultíssimos”. Desde Goethe até Bashô, nosso São João Batista do Modernismo parece ter especial predileção por Hölderlin (sobre quem se debruça nove vezes) e, obviamente, por “modernos” como o espanhol García Lorca (duas vezes) e o nicaragüense Rubén Darío (duas vezes também). Entre as poetisas, Emily Dickinson recebe sua especial atenção (cinco vezes) e ainda Juana Inés de la Cruz (duas). O volume faz parte da coleção Sabor Literário, da editora José Olympio, e pode ser lido, como se diz, numa sentada (ou até numa deitada). Bandeira, embora galhofeiro e de feições um pouco cômicas, não era só cultíssimo, mas, também, seriíssimo, em matéria de poesia.
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Alguns poemas traduzidos |
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ORQUESTRA DE CÂMARA DO ESTADO DE MATO GROSSO
Ariano Suassuna quando viu em 2006 classificou, na sua aula-espetáculo seguinte, de “emocionante”. E não tem outra palavra para definir a primeira sensação depois de assistir a uma apresentação da Orquestra de Câmara do Estado de Mato Grosso, sob direção e regência de Leandro Carvalho. A mágica aconteceu de novo, em fins de junho, no Itaú Cultural, onde o próprio Leandro voltava, igualmente emocionado – pois foi no palco do instituto e centro cultural que fez suas primeiras apresentações solo, contando com o inestimável apoio do projeto Rumos Música, nos anos subseqüentes (o que permitiu seu desenvolvimento e a passagem pela capital de suas turnês). Leandro e a Orquestra gravaram, em São Paulo, seu primeiro DVD ao vivo, com o solista Roberto Corrêa à viola de cocho e à viola caipira (coincidentemente o primeiro convidado do grupo, quando foi fundado em Mato Grosso, em 2005). Leandro, como violonista, já tinha um currículo impecável, que começou sob orientação de Turíbio Santos, passou pela gravação com Baden Powell em estúdio, consolidou-se com o resgate de obras como as de Levino da Conceição e João Pacífico, em CD, e incluiu excursões como as com o Britton String Quintet (do violoncelista David Gardner, hoje músico da Orquestra). Mas Leandro Carvalho queria mais – queria pôr em prática seus estudos em regência orquestral, feitos na Holanda, e realizou esse sonho fundando, justamente, a Orquestra de Câmara do Estado de Mato Grosso, que mistura instrumentos clássicos com populares, da cultura local, como a interessante viola de cocho, a bruaca e o ganzá. De Grieg a Stravinski, de Villa-Lobos a Piazzolla, Leandro e a Orquestra aproximaram, ainda por cima, o nosso País da América Latina e os grandes compositores brasileiros da tradição da música universal. Leandro Carvalho está hoje para o chamado Brasil Central assim como John Neschling esteve um dia para a Osesp. Só não se sabe, ainda, qual milagre foi maior.
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Orquestra de Câmara do Estado de Mato Grosso |
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CORES PAULISTAS E OS QUATRO ANOS DA IQ ART GALLERY
No final de 2007, serão quatro anos que o Chakras Espaço Gastronômico e Cultural mantém, além do restaurante – que é referência incontestável nesta nossa capital –, a IQ Art Gallery, realizando exposições que já tiveram, entre seus artistas, gente como Antonio Peticov, Ivald Granato, Gregório Gruber, Rubens Gerchman e Antonio Cabral. Em novembro de 2003, mais precisamente, quem inaugurava o espaço era o artista plástico Sérgio Gregório, diretamente inspirado nos 450 anos de São Paulo. Assim, neste segundo semestre de 2007, o mesmo Gregório volta à galeria do Chakras para homenagear novamente São Paulo, com a grande mostra Cores Paulistas. A idéia do projeto que compreende quatro exposições – com aberturas de julho a outubro – é homenagear, através das cores, as quatro principais etnias formadoras da megalópole. Cores Paulistas abre, no próximo dia 11 (quarta-feira), com o Vermelho (homenageando a população indígena); depois, no dia 8 de agosto, passa ao Branco (uma referência à chegada dos europeus); em seguida, no dia 12 de setembro, volta-se para o Preto (povos africanos); e, finalmente, no dia 17 de outubro, encerra com o Amarelo (referência a imigração oriental no século XX). E para fechar com chave de ouro esse ciclo de quatro meses, o Chakras já anuncia uma grande festa, no dia 21 de novembro, celebrando, claro, os quatro anos da IQ Art Gallery. Miguel e Fabiana Reis, os proprietários do Centro Gastronômico e Cultural, sempre entenderam que o Chakras deveria ser, mais do que uma experiência gustativa, uma grande festa para os sentidos. Felizmente, eles vêm mantendo esse propósito e ampliando, cada vez mais, os espaços para as artes, nesta capital onde decidiram sediar suas atividades.
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Chakras |
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>>> EVENTOS QUE O DIGESTIVO RECOMENDA
>>> Noites de Autógrafos
* Divisões Perigosas - Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo
Peter Fry, Yvonne Maggie, Simone Monteiro e Ricardo Ventura Santos
(Ter., 03/07, 19h30, VL)
* História dos Estados Unidos - Leandro Kamal, Sean Purdy, Luiz Estevam Fernandes e Marcus Vinícius de Morais
(Qua., 04/07, 19h30, CN)
>>> Shows
* Luciana Mello
(Sex., 06/07, 19h30, CN)
* Traditional Jazz Band
(Sex., 06/07, 20h00, VL)
* Livraria Cultura Shopping Villa-Lobos (VL): Av. Nações Unidas, nº 4777
** Livraria Cultura Conjunto Nacional (CN): Av. Paulista, nº 2073
*** Livraria Cultura Market Place Shopping Center (MP): Av. Chucri Zaidan, nº 902
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Julio Daio Borges
Editor |
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