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Sexta-feira, 31/8/2007
Digestivo nº 342

Julio Daio Borges

>>> BARTLEBY, O ESCRIVÃO DE HERMAN MELVILLE O personagem Bartleby fez sucesso durante a Flip 2005. Estava praticamente encarnado no escritor Enrique Vila-Matas, convidado da Festa Literária de Parati – que quase se recusou a dar declarações aos jornalistas, que participou de uma mesa meio a contragosto e que, muito possivelmente, arrependeu-se dos compromissos assumidos em São Paulo, na Livraria Cultura. Só foi cortês quando agradeceu, ainda na coletiva, a Rubem Fonseca, pela rápida menção em Diário de um fescenino (2003). Não se tem notícia, porém, de que a edição do Bartleby original, de Herman Melville (então pela Cosac Naify), tenha vendido muito – para variar, era tão luxuosa, mas tão luxuosa que parecia impossível abri-la e folheá-la comme il faut, na livraria. Com um adesivo engraçadinho, que aconselhava justamente o leitor a “não comprar”, deve ter convencido muita a gente a não comprar mesmo. Agora, talvez, o Bartleby se popularize, como livro, no Brasil. A José Olympio está lançando uma bela edição (e baratinha) do clássico de Melville, dentro da bem-sucedida coleção Sabor Literário (de bolso), com prefácio de Jorge Luis Borges (que coloca o autor de Moby Dick como o melhor dos EUA, ao lado de Poe). A história, para quem não conhece, é a do sujeito que entre “fazer” e “não fazer”, prefere, sempre, não fazer – consagrando o imobilismo. Vila-Matas aplicou o raciocínio aos escritores que, de repente, param de escrever – e produziu um ótimo livro (apesar de sua carranca no Brasil). Melville, nos conta Borges, não foi reconhecido em vida, como tantos outros grandes. Aqui, poderia servir de contra-exemplo para todos os autores pequenos, que publicam anual e freneticamente – mas que fariam melhor se desistissem. Prêmio Bartleby Brasil.
>>> Bartleby, o escrivão
 
>>> LEVANTE, DO TRIO CARAPIÁ A cultura caipira passa por uma espécie de sofisticada revitalização. O caipira, em si, antes era motivo de chacota. O sotaque caipira era sinal de provincianismo, de ignorância e de falta, aliás, de cultura. As abordagens do universo caipira, portanto, sempre se concentraram na caricatura, no reconhecimento rápido e na nostalgia que levava ao hermetismo. Quem se interessava pelas derivações da palavra "caipira", preferia ficar cultivando aquele mundinho sem futuro; já quem não gostava, fugia correndo dos maniqueísmos, da simples falta de gosto e da repetição exaustiva de padrões. Pois, na música, as coisas começaram a mudar com a chegada da gravadora Kuarup — que promoveu um resgate a sério, tratando como gênero o fenômeno do Brasil profundo, dando continuidade e não deixando a questão perdida no espaço. Nesse embalo, músicos e pesquisadores como Leandro Carvalho, mostraram como um autor como João Pacífico podia ser caipira e profundo. Seguindo essa linha, mas explorando as possibilidades do instrumental, apareceu, em disco, o Trio Carapiá. Da região de Campinas, João Paulo Amaral, Elias Kopcak e Rodrigo Nali formam, justamente, um trio de violas de dez cordas ou "caipiras". Levante, seu primeiro CD, é um prato cheio para quem quer explorar esses domínios mas, habitualmente, sente calafrios quando ouve as letras carregadas de erres e afins. O Trio não deixa de fora nomes consagrados como Rolando Boldrin ("Faca de Ponta") e Tião Carreiro ("Malandrinho"), mas arrisca com temas como "Mulher Rendeira" (Zé do Norte) e, sobretudo, com composições do próprio João Paulo Amaral (que são maioria). Levante é grande música popular e tem todos os atributos para elevar a outro nível a velha viola caipira.
>>> Trio Carapiá
 
>>> A PANTERA COR DE ROSA, COM STEVE MARTIN Parece que quando o cinema não está morrendo, então está se matando. O que será do velho mainstream também em matéria de sétima arte? É uma constatação possível depois de assistir ao recente remake de A Pantera Cor de Rosa, com Steve Martin no papel principal. Na falta de boas idéias, e no medo crescente de errar, o cinema igualmente aposta no óbvio ululante – quantas vezes já não vimos esse filme? –, com um elenco de nomes conhecidos e, às vezes, até uma rising star. Esse Pantera Cor de Rosa não acrescenta nada aos episódios clássicos com Peter Sellers e Blake Edwards. Na verdade, é tão gratuito e fraco nas piadas que faz pensar se a antiga série não era também uma grande bobagem (tão sem graça e estúpida quanto o episódio atual). No fundo, o penúltimo remake, com Roberto Benigni (como o filho do Inspetor Clouseau), Blake Edwards e Claudia Cardinale, tinha um quê de homenagem a Sellers (efetivamente um grande ator), mas não revitalizava o personagem, nem abria novas possibilidades. O que em Benigni era perdoável pela ingenuidade, em Jean Reno é passável, em Kevin Kline é grave e em Martin é bastante condenável. Beyoncé nem deve ser contabilizada – porque na linha “modelo-e-atriz” (e cantora) apenas está fazendo o que lhe foi ensinado. Infantil poderia ser um adjetivo adequado à atual Pantera Cor de Rosa, mas seria, indiscutivelmente, uma ofensa a essa faixa etária – porque o humor pastelão deixou faz tempo os desenhos animados, para que esses adquirissem um caráter de crítica social (Os Simpsons), quando não existencial de fato (South Park). Sem falar nas superproduções em animação, que concentram mais inteligência por pixel quadrado do que uma seqüência inteira da nova Pantera Cor de Rosa... As locadoras deveriam recolher e pular essa fase em que o cinemão entrou em crise de identidade.
>>> A Pantera Cor de Rosa
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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