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Sexta-feira, 21/9/2007
Digestivo nº 345

Julio Daio Borges

>>> O GOOGLE NA CAPA DA ECONOMIST E até a Economist não resistiu e mandou brasa em uma capa sobre o Google. Esperamos pelo grande dossiê que desvendaria os labirintos do Googleplex, mas, tirando um editorial como sempre brilhante, nenhuma outra informação além do que já obtivemos antes, na internet e em outros periódicos. De certa forma, quando o Google chega definitivamente ao mainstream, parece que acaba justamente sua fase de "mudar o mundo". O tom geral, até na Economist, é aquele da grande empresa que, agora, tem de sobreviver, perpetuando performances de crescimento histórico, depois de lançar suas ações na bolsa. O Google, como um universo em expansão, é provável que diminua de ritmo em algum momento e opte, no médio prazo, pelo "foco" ou mesmo pela retração. Até Eric Schmidt, o arquiteto responsável pela atual forma "tentacular" (CEO), admite à reportagem que o Google cresceu além da conta. Deveria admitir, também, que levou longe demais sua obsessão em derrotar Steve Ballmer, o número 2 da Microsoft. (Derrotou?) O fato é que o Google, o mesmo que ontem encantava a todos, hoje assusta um pouco (até a quem está dentro do Googleplex). Seu maior desafio - além de tentar contentar os acionistas - é sobreviver, conservando sua hegemonia, na chamada Web 2.0. Por isso, as aquisições estratégicas como do YouTube, a presença da sua publicidade entre a geração MySpace e algum lançamento sempre mirabolante (estilo Google Earth), tentando antecipar o futuro. Mas será que alguma empresa mantém o "monopólio" da inovação, por mais que sua cultura se preocupe com esse assunto? Faz parte da rebeldia da internet derrubar o gigante da vez - e o Google tem de tomar cuidado para não virar, de repente, Golias na mira de zilhões de Davis...
>>> Who's afraid of Google?
 
>>> DEUS, UM DELÍRIO, DE RICHARD DAWKINS Desde Nietzsche, provavelmente, que não se atacava Deus com tanta veemência. Nietzsche, há mais de um século, em O Anticristo, estava, conforme o título, mais preocupado com o cristianismo. Richard Dawkins mira e atira em todas as religiões, e usa a palavra "Deus" mais como uma alegoria. Com elogios rasgados de gente como Ian McEwan e Steven Pinker, Deus, um delírio é um livro efetivamente brilhante, mas avançamos nas páginas sempre nos perguntando o que Dawkins pretende com toda essa artilharia. Afinal, é bastante difícil que os fundamentalistas leiam seu livro (é mais fácil, por exemplo, condená-lo à morte em vida, como fizeram com Salman Rushdie); e o "estado religioso", dos republicanos nos EUA, é passageiro, não é? Qualquer pessoa minimamente informada sabe que toda discussão de idéias, hoje, passa pela ciência e pelos cientistas. Se ainda existe uma "vanguarda do pensamento", ela está mais inclinada para o lado dos homens de ciência do que para os humanistas puros (estes desnorteados diante da supremacia do capitalismo, do avanço das novas tecnologias e do fim de seus antigos "feudos"). Ainda assim, ainda que Deus, um delírio acerte em cheio nos argumentos, sentimos falta de um certo brilho na linguagem, de um repertório ― vá lá ― erudito e até de alguma ambição, digamos, filosófica. O grande problema em matar "Deus" (leia-se: as religiões) ― mesmo desde Nietzsche ― talvez seja colocar outra "visão de mundo", com um acabamento de séculos, no lugar. Dawkins está certo: a religião sobreviverá como mitologia apenas; mas parece que ainda não surgiu o primeiro "filósofo" desta nova era...
>>> Deus, um delírio
 
>>> AIDA, COM LORIN MAAZEL E A SYMPHONICA TOSCANINI A ópera que vemos hoje é no cinema, ou na televisão. Trechos de ópera. Mesmo "ao vivo". Nossa atenção parece se dispersar depois de mais do que um trecho. É a "medida" exata para a nossa atual capacidade de processar sons, e até para a nossa sensibilidade musical. Então é, no mínimo, um acontecimento quando uma ópera inteira desembarca no Brasil. E é um luxo passar algumas horas no que soa como um tour de force entre orquestra, maestro, cantores, e, no presente caso, até coro. Estamos falando da apresentação da Aida, de Verdi, pela Temporada 2007 do Mozarteum Brasileiro, na Sala São Paulo, no final de agosto - sob direção de Lorin Maazel, à frente da Symphonica Toscanini, acompanhado pelo Coro del Maggio Musicale. Maazel, sempre incansável nos bons serviços prestados à música, trata de consolidar ainda mais sua Toscanini - e é, obviamente, um privilégio assisti-lo em plena ação, depois de ouvi-lo regularmente pelo rádio, numa carreira iluminada entre os maiores e as maiores do mundo. Já entre as vozes, o destaque foi, claro, para Maria Guleghina, como Aida, e para Juan Pons, como Amonasro; produzindo, ainda, um empate técnico entre Walter Fraccaro, como Radamés, e Ana Smirnova, como Amnéris. Contrariando a previsão de quem, volta e meia, prega o fim da ópera, esta manteve a capacidade de emocionar - mesmo àqueles que não conheciam profundamente os trechos, simplesmente porque a interpretação trazia sua dose particular de verdade. Sala lotada, público respeitoso, concentração até o final, palmas de satisfação. É um sinal de que a ópera ainda vive entre nós; e de que iniciativas assim devem continuar.
>>> Mozarteum Brasileiro
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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