Sexta-feira,
22/2/2008
Digestivo nº 355
Julio
Daio Borges
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BERKELEY WEBCASTS
Que a internet está promovendo uma revolução na mídia, todo mundo sabe; já que a internet provoca uma mudança histórica também na educação, estamos começando a perceber agora. E uma boa base para impulsionar esse tipo de reflexão são os podcasts que a Universidade de Berkeley, na Califórnia, disponibiliza para o mundo todo. A cada semestre, alguns cursos oferecidos são selecionados e cada aula é gravada e indexada no site da universidade em formato MP3. Os assuntos são os mais variados possíveis e, neste primeiro semestre de 2008, pode-se acompanhar disciplinas de economia, biologia, história, filosofia e até uma série de palestras (lectures) com políticos envolvidos na eleição norte-americana deste ano. Que o e-learning, assim como o e-commerce, é uma das iniciativas que mais cresce no Brasil, todo mundo também sabe — mas o que pode acontecer se outras grandes universidades seguirem o exemplo de Berkeley? A aceitação tem sido tanta que as matérias em podcast têm, invariavelmente, mais inscritos do que vagas — e os professores recebem e-mails com consultas do mundo todo. A novidade, mais recentemente, são os webcasts, onde as aulas são filmadas e, multiplicadas pelo número de downloads, fazem os quinze minutos de fama para mestres e calouros. A melhor parte, claro, é poder usufruir desse conhecimento, devolvendo à universidade um papel social que ela perdeu, fechando-se no hermetismo da pesquisa e na burocracia dos acadêmicos. E no Brasil, quem vai tomar a dianteira?
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Berkeley Webcasts |
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SAMBA, JAZZ & OUTRAS NOTAS, DE LÚCIO RANGEL
Lúcio Rangel entrou para a História como o sujeito que apresentou Tom Jobim a Vinicius de Moraes. Mas Lúcio foi muito mais que isso; ou, justamente por ter sido tudo isso, permitiu que a bossa nova nascesse — dividindo a moderna música brasileira em "antes" e "depois", de modo que a nossa memória "responde" melhor de João Gilberto pra cá. Graças a Sérgio Augusto e à editora Agir, podemos, desde o ano passado, conhecer a faceta jornalística de Lúcio Rangel, percorrendo um pouco de suas "memórias" e reconstruindo seu lugar no cenário. Samba, Jazz & Outras Notas passeia pelo Rio de Janeiro de Noel Rosa, Carmen Miranda, Ismael Silva e Cartola, dentre outros. Também percorre a Paris dos franceses hipnotizados pelo jazz, com tanta intimidade que Lúcio se permite não gostar, por exemplo, do bebop. Embora o volume seja irregular, porque Lúcio Rangel viveu muito mais do que escreveu, seus textos têm um valor testemunhal, de história da música sendo escrita, antes das unanimidades se firmarem e dos juízos se tornarem indiscutíveis. Lúcio, além de acertar mais do que errar (já defendia, por exemplo, Mário Reis, precedendo nosso Luís Antônio Giron), era de um tempo em que havia gente nas redações, a crítica não era essa de laboratório e o jornalista, nascia, morria e amava nas ruas, parafraseando Nélson Rodrigues. Afinal, qual homem de imprensa hoje seria capaz de promover um encontro entre Tom e Vinicius (por mais que não haja mais Toms e Vinicius por aí)? E, deixando de lado por um momento a crise da imprensa, talvez a música não tenha mais o papel central que um dia teve... Então Lúcio Rangel se converte em herói mitológico; e seu Samba, Jazz num mapa do nosso inconsciente.
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Samba, Jazz & Outras Notas |
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O MUNDO É MÁGICO, POR BILL WATTERSON
Calvin e Haroldo voltaram aos holofotes com o documentário que atualmente se prepara sobre seu criador, Bill Watterson. Calvin, além de personagem insubordinado, é um daqueles casos em que a criatura se volta contra o criador — ficou tão famoso, foi tão bem-sucedido, se consagrou tanto que Watterson não suportou a pressão e se isolou. Seu comportamento eremita tem evocado a comparação com J.D. Salinger, cujo sucesso de O Apanhador no Campo de Centeio se revelou tão incômodo que ele se isolou no campo. Correm boatos de que continua escrevendo e de que suas obras vão aparecer quando morrer (já tem mais de oitenta anos). E Watterson, o que andará fazendo? Reza a lenda que suas tentativas de fazer Calvin crescer foram todas frustradas. Como não queria se repetir ad nauseam — à maneira dos Simpsons ou do Dilbert —, abandonou sua criação. Quem quiser entender o fenômeno — ou simplesmente matar as saudades da dupla Calvin & Haroldo — têm à mão, desde o ano passado, o álbum O Mundo é Mágico, pela editora Conrad. Nele, Calvin antecipa algumas tendências que, dos anos 90 pra cá, se tornaram lugar-comum no comportamento das crianças: o horror à escola (cada vez mais desinteressante); o potencial insuspeitado para o consumo (no caso dele, de lança-chamas e outros bibelôs); e um certo amadurecimento precoce à la Mafalda (numa época em que as crianças não estão mais "preservadas"). E, por mais que Watterson não quisesse na ficção, seu Calvin cresceu junto com a sua geração, a chamada "Millennial", dos que nasceram depois da internet. São melhores ou são piores do que nós? Como vão deixar o planeta e a sociedade? Talvez o documentário, só com fãs de Calvin, possa ter a resposta.
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O Mundo é Mágico |
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Julio Daio Borges
Editor |
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