Sexta-feira,
16/5/2008
Digestivo nº 367
Julio
Daio Borges
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O CONTO DO AMOR, DE CONTARDO CALLIGARIS
Foi Alexandre Inagaki, no Twitter, que bem definiu: "Contardo Calligaris é o novo Chico Buarque". Segundo o empreendedor por trás do conteúdo do Interney Blogs, Calligaris é mencionado, entre suspiros, por nove a cada dez leitoras da Folha. Foi estratégico, portanto, o lançamento de seu primeiro romance, pela Companhia das Letras, com o sugestivo título: "O Conto do Amor". Tudo pareceria uma grande sacada de marketing — para fisgar corações de leitoras solitárias —, se o livro não fosse bom... Pois O Conto do Amor é um belo policial, misturando pitadas de romance, com uma escrita que prende, e um desfecho assaz interessante. Mesmo as leitoras mais fervorosas de Calligaris na "Ilustrada" provavelmente não imaginavam que, em sua estréia, ele pudesse ir tão longe. Na onda dos livros autobiográficos ma non troppo (ou não-assumidos, ao menos), O Conto do Amor tem um protagonista igualmente psicanalista, com origens italianas também, que se vê diante de um mistério familiar — quando, antes de morrer, seu pai pronuncia as últimas palavras. Ajudado por uma especialista na arte da Renascença, fica entre Florença e Nova York, lendo o diário secreto da vida inteira do pai e seguindo seus passos a fim de esclarecer um passado escondido... Calligaris não vai ganhar nenhum prêmio literário, claro, mas pode vir a ser um expoente de um gênero sempre tão desprezado no Brasil, o da leitura de entretenimento.
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O Conto do Amor | Duas perguntas para Contardo Calligaris |
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THE ROMANTIC POETS, BY KEVIN MUNDY
Tirando a decoreba das aulas de literatura, ninguém mais sabe o que foi o Romantismo. E, tirando Vinicius de Moraes e Drummond, ninguém sabe hoje o que é poesia. Juntando dois temas aparentemente árduos, Kevin Mundy foi corajoso ao ministrar, na Casa do Saber, o curso Masterpieces of English Literature: The Romantic Poets, em inglês mesmo. Se o assunto parece longe da nossa época pragmática, basta lembrar que Lord Byron é o poeta mais popular em língua inglesa depois de Shakespeare; William Blake influenciou todo o delírio dos anos 60 e inventou a expressão "The Doors of Perception"; William Wordsworth praticamente lançou a ecologia e o retorno à natureza (contra o suposto "progresso"); Samuel Coleridge chegou até o heavy metal, com "The Rime of the Ancient Mariner"; John Keats revigorou a literatura epistolar e foi habitar o restrito céu de Oscar Wilde; e Percy Shelley, entre outras coisas, casou-se com Mary, que, inspirada por seus (his) temores acerca dos avanços da ciência, compôs Frankenstein, a novela que colocou o homem no lugar de Deus pela primeira vez (antes mesmo da genética). Kevin dedicou a cada um desses grandes nomes da literatura romântica uma aula inteira, alternando sempre dados biográficos com a leitura propriamente dita dos poemas. Apaixonado pelo tema, o professor constantemente se exaltava na interpretação e ultrapassava os limites de horário (talvez até num impulso inconsciente para exemplificar os excessos românticos)... O fato é que os brasileiros, sob influência historicamente majoritária da França (via Portugal), ainda têm muito o que aprender sobre literatura inglesa. Que Kevin Mundy continue nos auxiliando nessa tarefa.
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Casa do Saber |
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BAMBERGER SYMPHONIKER, COM JONATHAN NOTT
E a Orquestra Sinfônica de Bamberger inaugurou a Temporada 2008 do Mozarteum Brasileiro. Regida por Jonathan Nott — do qual os brasileiros se lembram de 2005 e 2003 —, teve, ainda, a presença ilustre do barítono Matthias Goerne, na primeira parte do concerto. Cantando as canções de A Trompa Mágica do Menino, de Mahler, Goerne encheu a Sala São Paulo de espanto, nas duas noites, com sua voz possante e suas interpretações contundentes e, ao mesmo tempo, engraçadas para um homenzarrão da sua estatura. No final, conquistou a simpatia do público, que bateu palmas insistentes depois da performance, mesmo o número tendo sido um pouco longo para a abertura e a falta de texto no programa ter deixado muitos ouvintes deslocados, entre uma passagem e outra. Mas a apoteose veio, inequívoca, na segunda parte. No primeiro dia talvez pelas sinfonias de Brahms (sem a invocação das palavras, depois da Nona de Beethoven) serem aparentemente mais acessíveis do que o alemão de Mahler. Nott, desde o primeiro movimento da Segunda de Brahms, deu ênfase às cordas. No segundo movimento, foi levando, como em ondas, a ênfase também para as madeiras e os sopros. No terceiro, introduziu meneios de cabeça, como que anunciando a apoteose final. E, no quarto movimento, seguiu musculosamente, num crescendo, colocando a Sala abaixo, como poucas vezes antes. Afinal, não é comum assistir a um maestro que dá tudo de si no término do programa, exigindo da orquestra a mesma disposição... Jonathan Nott fez jus ao convite e será, novamente, bem-vindo nas próximas temporadas, com a Bamberger. É candidato a um dos pontos altos de 2008 que tem, entre outros grandes ainda, o schubertiano Leif Ove Andsnes.
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Mozarteum Brasileiro |
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>>> O CONSELHEIRO, COLUNISTA DA GV-EXECUTIVO
Confira, na revista GV-executivo: Julio Daio Borges na nova edição da coluna Letras e Números. (E, ainda: um artigo inédito sobre a possível compra do Yahoo! pela Microsoft...)
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Julio Daio Borges
Editor |
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