Sexta-feira,
17/10/2008
Digestivo nº 385
Julio
Daio Borges
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PIAUÍ 2 ANOS
Ainda que o baú da família Moreira Salles não tenha fundo, e ainda que eles sejam competentíssimos em suas iniciativas artísticas, o jornalismo cultural brasileiro, sobretudo o impresso, não tem mais desculpa para suas mazelas "incuráveis", afinal a revista Piauí completa dois anos agora em outubro. Tudo bem que a publicação fugiu o quanto pôde do rótulo ("jornalismo cultural"), mas é isso o que ela faz — pois, se continua muito próxima do modelo da New Yorker, uma das melhores do mundo (qual o problema?), sua inspiração, norte-americana, nunca negou a afinidade com a cultura, e com o jornalismo ligado às artes. Discussões sobre editorias à parte, a Piauí continua dando um banho nas antigas revistas culturais mensais, em papel, e, principalmente, continua humilhando os cadernos diários dos jornais e as pífias seções de "artes e espetáculos" das semanais brasileiras. Quem torceu contra — como quem torceu contra a internet —, caiu do cavalo, pois Piauí continua a mais bem escrita, a de melhores reportagens e perfis, e quase a única que respeita a inteligência do leitor. Ainda que tenha seu sistema de assinaturas vinculado ao Grupo Abril, Piauí conseguiu manter a independência, não se rendeu a um mero colunismo social de personalidades "culturais" e, portanto, tem força para criticar unanimidades que desfilam altivas desde a Caras até os textos dos jornalistas ditos "sérios". A torcida é para que, mesmo com a saída anunciada de João Moreira Salles em algum momento, Piauí continue como uma ilha nas bancas de jornal, valendo cada centavo do seu preço de capa.
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Piauí |
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SAMBA MEU, O DVD DE MARIA RITA
Desde os primeiros discos da filha da Elis, nunca existiu nada de mal em torcer por Maria Rita. Afinal de contas, era "a voz" ressuscitando, depois de morta, e quem disse que a carga genética, de outrora, não poderia realizar um trabalho genial, outra vez, para o cancioneiro da nossa música? Mas, do mesmo jeito que é falsa a afirmação de João Marcelo Bôscoli, de que não ouve os discos da própria irmã (desde que eles não se entenderam na Trama), é falsa a afirmação, da própria Maria Rita, de que não sente o peso do "fantasma" da mãe. Samba Meu, o disco, talvez tenha sido, então, uma resposta, para aqueles que exigiam dela um "engajamento" maior em relação aos ritmos brasileiros (como o samba), a fim de que abandonasse, temporariamente, aquela "mistura" meio jazzy, meio pop, meio MPB, meio bossa nova de Maria Rita (2003) e Segundo (2005). Ela, entre a concordância com os "maestros" das grandes gravadoras (pelas quais se lançou) e a rebeldia (contra o fã clube de sua mãe), gravou, sim, um disco de sambas, mas fugiu da benção dos velhos sambistas, experimentando um repertório quase que totalmente novo (em termos de mainstream). No DVD, sentimos que Maria Rita está mais à vontade com a embocadura exigida pelo samba, porém, parece que os grandes momentos ainda são do repertório que já passou e repassou, o dos primeiros álbuns. E, do mesmo jeito que há algo de errado em ela aparecer, de repente, tão magra e loira, há, ainda, arestas a serem aparadas entre Maria Rita e o establishment. Quem sabe se ela não rompesse com o sistema, em vez tentar se entender com ele?
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Samba Meu |
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INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL
O novo Indiana Jones, agora em DVD, é uma grande homenagem aos anos 80 e, em última instância, a um dos apogeus da indústria do cinema. Steven Spielberg e Harrison Ford eram abordados desde a última aparição de "Indy", em 1989, quando deram por encerrada a trilogia e, segundo o criador do E.T., partiram para "dramas mais adultos". Claro que as platéias nunca quiseram saber e foi George Lucas, depois de um retorno não tão interessante com seus "primeiros episódios" de Guerra nas Estrelas (nos anos 2000), que reuniu o velho time, de volta, ao trabalho. Para quem viveu os anos 80 — ou para quem assistiu aos respectivos filmes —, as primeiras cenas, do "filho" de Indiana Jones, evocam desde clássicos daquele tempo, como De Volta para o Futuro, até clássicos de todos os tempos, em tela grande, como O Selvagem. E, desde a trilha sonora até as peripécias acrobáticas dos heróis, há um certo ar infantil, de desenho animado, de Peter Pan, que, para o espectador, nunca envelhece e que, nele, desperta a criança ou o adolescente daqueles anos. Nesse sentido, não importa muito que Harrison Ford esteja com 60, porque a impossibilidade de seus feitos sempre foi algo a ser tolerado pelo público. Cate Blanchett, como sempre, brilha e ofusca os demais coadjuvantes, embora, para manter a coerência na fita, assuma ares de bruxa malvada e inverossímil. A questão é se as jovens platéias, desta década, vão entender todos os subentendidos — ou se Indy vai apenas arrancar sorrisos e suspiros dos mesmos adolescentes, agora, acima de 30...
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Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal |
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Julio Daio Borges
Editor |
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