Sexta-feira,
21/11/2008
Digestivo nº 390
Julio
Daio Borges
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E A BLOGOSFERA VIROU MAINSTREAM...
Começou com Jason Calcanis, que, alegando problemas pessoais, deixou de blogar meses atrás. No caso de Jason, ainda se mistura o fato de que ele toca uma startup, o site de buscas Mahalo, e que a crise financeira vem cortando o oxigênio dos empreendedores de internet nos EUA. Foi o suficiente para a Economist questionar o futuro dos blogs e oficializar o que a internet inteira já sabia que aconteceria: os mais importantes weblogs dos EUA deixaram de ser propriedades de um único blogueiro e se transformaram em empresas. No Brasil, embora tenham surgido algumas empresas de internet (a partir de blogs), aconteceu do mainstream tentar cooptar os blogueiros, oferecendo audiência quando deveria oferecer remuneração. Conforme escreveu Nicholas Carr, um dos gurus da Web, "a blogosfera passa por uma crise de meia-idade" — ainda que por motivos diferentes em cada país. Em ambos os casos, paira uma certa nostalgia da época em que os blogs adotavam uma postura "ensaística": visionários, os blogueiros enxergavam a aurora de um novo dia, em que a humanidade inteira poderia discutir através da internet, quando a plataforma ainda era aberta e todo mundo parecia igual... Durou pouco; ou durou o que tinha de durar. Logo a seguir, blogueiros mais espertos se sobressaíram, "dominaram" a situação e precisaram ganhar alguma coisa (nem que fosse só para manter a estrutura). Bem-vindo(s) ao capitalismo. O sonho pode ter acabado para Nick Carr, mas a corrida ainda não terminou. E a internet continua fluída. Outros outubros virão; outras manhãs...
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Blogging is no longer what it was, because it has entered the mainstream |
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ARTHUR SCHOPENHAUER, POR OSWALDO GIACÓIA JÚNIOR
Nietzsche o chamava de "meu educador". Wittgenstein voltou a ele no século XX. Einstein estudou-o alegremente com seus amigos na "Academia Olympia". Freud construiu grande parte da teoria psicanalítica em cima de sua filosofia. Estamos falando de Arthur Schopenhauer, o autor de O Mundo como Vontade e Representação (1819). Oswaldo Giacóia Júnior, que ficou conhecido por promover embates entre filósofos na Casa do Saber, com alunos ilustres como Paulo Henrique Amorim, resolveu dedicar um curso inteiro ao filósofo de Frankfurt neste semestre. Schopenhauer revelou seus dotes intelectuais muito cedo, e seus mestres o encaminharam para o estudo da ciência, enquanto seu pai queria que ele o seguisse numa carreira no comércio. Schopenhauer teve de fazer uma escolha e optou, inicialmente, pelo business, mas seu pai veio a falecer e suas péssimas relações com a mãe, e com a irmã, empurraram-no para a filosofia. Tentou trabalhar com Goethe, mas nunca conseguiram se entender. Schopenhauer tentou lecionar, ainda, na Universidade de Berlim, mas estranhamente escolhia sempre o mesmo horário das aulas de Hegel, a grande estrela da época. Resultado: Schopenhauer jamais se reconciliou com a academia; e esta só foi absorvê-lo plenamente depois de morto. Misturando "o divino Platão", Kant (o pai de todos) e os Vedas, Schopenhauer foi o primeiro filósofo moderno a desconfiar da primazia da nossa razão — o que desembocou no inconsciente, na libido e no id de Freud e o que fez Nietzsche querer resgatar nosso lado dionisíaco, abandonado desde Sócrates. Schopenhauer concluiu que a vida oscilava entre o sofrimento e o tédio — e que, ao contrário do que pregam todas as religiões, estamos todos condenados. Nas aulas, o professor Giacóia vai mostrar como escapar da maldição do cachorro que eternamente corre atrás do próprio rabo.
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Casa do Saber |
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GIDON KREMER PIANO QUARTET E A TEMPORADA 2009
Gidon Kremer, desta vez, resolveu não tocar Piazzolla e, com seu quarteto de piano, entreteve a Sala São Paulo com um melodioso César Franck (Prelúdio, Fuga e Variação, op. 18), causou o estranhamento necessário com Dmitri Shostakovich (Trio com piano nš 2,em mi menor, op. 67) e encerrou brilhante com Johannes Brahms (Quarteto com piano em dó menor, op. 60). Se na formação de 2006 (que esteve igualmente em São Paulo), pareceu mais jovial, tocando de pé seu violino, e arriscou bastante no repertório, em 2008 Kremer soou mais como um líder sereno, ao lado de músicos bem jovens da Lituânia, com destaque para o pianista Andrius Zlabys, um dos melhores da Temporada. Em 2009, o Mozarteum Brasileiro prepara boas surpresas também. Em junho, por exemplo, Rudolf Buchbinder, conhecido intérprete de Beethoven, volta ao País com a Orquestra de Câmara de Zurique. Joshua Bell, o celebrado violinista, desembarca igualmente em junho, com Frederic Chiu ao piano. As irmãs Katia e Marielle Labèque retornam, com o Grupo Piap, em outubro, e prometem executar o Bolero, de Ravel. Bastante expectativa, ainda, com relação ao Mozart Piano Quartet (em maio), à Orquestra Sinfônica Nacional da Rádio Italiana — RAI (em meados de agosto) e à Orchestre National d'Île de France (em fins de agosto). A música pop, como sempre, fez muito barulho em 2008, mas, quando tudo está disponível, o público pode, de repente, querer caminhar na direção de Bach, Mozart, Beethoven, Schubert e Schumman, entre outros — e o Mozarteum Brasileiro, que teve entre seus quadros gente como Eleazar de Carvalho, Mário Henrique Simonsen e Max Feffer, vem pavimentando essa estrada há quase 30 Temporadas.
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Mozarteum Brasileiro |
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Julio Daio Borges
Editor |
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