Sexta-feira,
2/1/2009
Digestivo nº 396
Julio
Daio Borges
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50 ANOS DE OS DONOS DO PODER, DE RAYMUNDO FAORO
Quando Lula finalmente foi eleito presidente do Brasil, Mino Carta se deixou fotografar ao lado de Raymundo Faoro, em Carta Capital, num dos muitos momentos de comemoração de algo que até a - maledetta - Veja chamou de "feito histórico". Faoro, que nasceu em 1925, veio a falecer em 2003. Mino Carta, recentemente, inaugurou até um blog, mas a tendência é convertê-lo num videoblog, embora passe a maior parte do tempo hoje "fora do ar" (Mino e seu blog). A comemoração no já longínquo - politicamente - 2002 sinalizava para uma possível expulsão histórica dos velhos "donos do poder"... Aconteceu? Ou só mudaram os "donos"? E depois do "suposto mensalão"... mudaram, de novo? O que diria Faoro, ainda, do governo economicamente "neoliberal" (ou, melhor, liberal) de Lula? Bendita herança maldita! E a atual injunção do Estado na economia pós-crise, como soaria aos ouvidos de Faoro, que foi puxar na hipertrofia da coroa lusa (sempre intervindo no mercado) a origem das nossas mazelas? Resta-nos cogitar... E ler a nova edição de Os Donos do Poder - Formação do Patronato Político Brasileiro, que tem a idade da bossa nova, e que ganhou capa dura pela Globo, com prefácio de Gabriel Cohn e reprodução dos manuscritos de Faoro das duas primeiras edições. É isso mesmo: o último clássico de interpretação do Brasil foi escrito há mais de cinco décadas. E, agora, quem se candidatará a interpretar o "B" do BRIC e a ascensão da classe média brasileira?
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Os Donos do Poder |
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A IMPLICÂNCIA DE MACHADO COM O PRIMO BASÍLIO
O Machado de Assis romântico implicou com O Primo Basílio, de Eça de Queiroz, assim que ele saiu. Não suportava o fato de Luísa trair Jorge com Basílio, seu primo, sem nenhum motivo mais forte. Para Machado, era uma falha imperdoável do romance. Nosso maior escritor não podia conceber uma mulher — ou uma personagem feminina — que se deixasse levar, "ao sabor do vento", a cometer um verdadeiro crime contra a instituição do matrimônio. Abominava, ainda, o que chamou de "uma luta intestina" entre Luísa, a adúltera, e sua criada, Juliana — quando esta, igualmente por acaso (sempre na interpretação de Machado), passou a chantageá-la com cartas que documentavam a transgressão. Usando pseudônimo (e já os havia desde o século XIX, ó internautas!), Machado fez publicar duas críticas ao livro de Eça — a segunda praticamente se justificando perante as respostas dos "realistas" (comentaristas?) de plantão, que saíram em defesa do grande escritor português nas gazetas do Brasil. Eça acabou lendo lá em Portugal, descobriu que o hábil crítico era Machado e, na sua prosa finíssima, não conseguiu deixar o Bruxo sem resposta: "Seu [primeiro] artigo, pela elevação e pelo talento com que está feito, honra o meu livro, quase lhe aumenta a autoridade" (!). E, de novo, ao despedir-se, elogiava olimpicamente o crítico: "Rogo-lhe aceitar a expressão do meu grande respeito pelo seu belo talento, [assinado] Eça de Queiroz". Esta polêmica se encontra esmiuçada, como poucas vezes, na clássica biografia de Magalhães Júnior, que a Record reedita agora, por ocasião do centenário da morte de Machado. As aulas de literatura — e as discussões sobre literatura — parecem muito graves hoje (quando ocorrem), mas vale recordar que também tiveram seus momentos (intestinos?) tão interessantes...
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Vida e Obra de Machado de Assis |
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LITTLE JOY, O DISCO
Marcelo Camelo saiu na frente com seu Sou, mas Rodrigo Amarante não ficou para trás com seu Little Joy, o álbum da banda de mesmo nome, com Fabrizio Moretti, baterista brasileiro dos Strokes, e Binki Shapiro, sua namorada cantora. Na contramão do aspecto de demo tape do registro de Camelo, o disco do Little Joy tem produção bem cuidada em todas as faixas e, embora aposte igualmente no "novo folk", assume que foi gravado num estúdio e não numa garagem ou mesmo num quarto. A evolução de Amarante, que já era impressionante desde a banda com Camelo, continuou adiante e, se no início em 1999 ele não tocava quase nenhum instrumento, agora, além de empunhar guitarra e violão, canta em inglês com desenvoltura, ora fazendo coro com Binki, ora com Fabrizio. "No One's Better Sake" (clipe com Devendra Banhart na percussão) é puro Bob Marley, uma influência não identificável na época dos Hermanos. "Don't Watch Me Dancing" pode soar como uma resposta ao romance de Camelo com Mallu Magalhães, a não ser pelo fato de que Binki Shapiro canta muito melhor e pode, inclusive — como no caso de Astrud Gilberto —, ser o tiro que saiu pela culatra. "Evaporar" é para matar a saudade de Amarante cantando em português — poderia ter feito parte de 4 (2005), assim como "Keep Me In Mind" poderia estar em Ventura (2003) ou num registro dos Strokes (é a semelhança mais próxima a que o Litlle Joy ameaça chegar). As fotos de divulgação sugerem um triângulo, algo na moda desde Vicky Cristina Barcelona, mas, ao contrário de Mallu e Marcelo, não há assessorias querendo alimentar sites de fofoca. O trio desembarca no Brasil em janeiro... — como ficarão Amarante e Fabrizio interpretando clássicos contemporâneos como "Last Nite" e "Retrato pra Iaiá"?
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Michael Alan Goldberg |
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Little Joy | Little Joy, trechos ao vivo |
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Julio Daio Borges
Editor |
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