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Sexta-feira, 16/1/2009
Digestivo nº 398

Julio Daio Borges

>>> HERE COMES EVERYBODY, DE CLAY SHIRKY Clay Shirky foi chamado pelo Guardian, de Londres, para falar sobre a atual crise dos jornais e o futuro da mídia. Shirky, no entanto, não é qualquer guru, que, nesta fase de tsunami econômico, arrisca profecias apocalípticas. Clay Shirky — antes de muita gente boa — previu nos anos 1990 que os classificados abandonariam os jornais, e migrariam para a Web, num momento em que os jornalistas ainda acreditavam que a internet fora concebida para eles e que, nela, teriam lugar reservado... Por isso, hoje, o Guardian, e mais uma porção de gente séria, quer ouvi-lo. As recentes previsões são interessantes, claro, mas ainda mais interessantes são as idéias no seu livro, Here Comes Everybody — The Power of Organizing Without Organizations. Para além da crítica, atualmente generalizada, aos jornalistas, e à sua demora em entender o impacto da Web sobre a profissão, Shirky extrapola processos, como o da construção da Wikipedia, e revela que o fenômeno mais amplo, que foi possibilitado pelas ferramentas de comunicação através da Rede, diz respeito à organização dos indivíduos, agora, independentemente das instituições. Num ambiente de comunicação de "muitos para muitos" (a internet), algumas realizações, que antes precisavam de mediação institucional, hoje acontecem porque os próprios interessados se arregimentam, constroem uma estratégia on-line e, às vezes contra todas as expectativas, alcançam seus objetivos. Se os exemplos de Shirky não são mais novidade — como o da "enciclopédia livre" —, suas ramificações no mundo real surpreendem e suas conclusões valem a leitura (mesmo quando o volume parece soar repetitivo). Se muitos jornalistas insistem ainda em negar a internet, diminuindo seus impactos na realidade, pensadores independentes, oriundos da própria Rede, como Clay Shirky, assumiram a vanguarda das idéias, e não é preciso ser nenhum guru para prever que, daqui pra frente, serão mais lidos.
>>> Here Comes Everybody
 
>>> ÁLBUM DE RETRATOS DE RUY CASTRO, POR HELOISA SEIXAS Oscar Wilde dizia que deveria interessar mais a arte do que o artista, mas, mesmo assim, nosso tempo se revelou pródigo em biografias, e elas, nem por isso, fizeram feio nas listas de mais vendidos. Muitos biógrafos, contudo, permaneceram meio esquivos. Diziam, talvez parafraseando Wilde, que o interesse era o biografado (e não o autor da biografia). Metalinguagens à parte, Ruy Castro se deixou enfim desnudar, literalmente, por Heloisa Seixas, num Álbum de Retratos, numa nova coleção patrocinada pela Petrobras, sob os auspícios de Moacyr Luz. O objetivo é homenagear nossos homens de cultura, e Ruy, um dos inventores da biografia moderna no Brasil, está entre os escolhidos - sendo Heloisa, sua esposa e escritora com quase uma dezena de livros publicados, a mais habilitada para a tarefa de revelar o homem por trás de Chega de Saudade, Anjo Pornográfico e Carmen, entre outros. O ponto de partida são as fotos, e algumas imagens, onde se vê Ruy desde bebê, ainda garoto em Caratinga (MG, sua cidade natal), logo jovem, precoce, trabalhando desde os onze, também com rádio, e empregando-se, por primeira vez, no lendário Correio da Manhã, aos 19, a convite do grande crítico José Lino Grunewald. Antes dos 20, ainda, cobriria a posse de Guimarães Rosa na ABL e, indiretamente por causa dele (combinado a Oswald de Andrade e a cinema), faturaria logo um Prêmio Esso. Daí para os principais veículos de comunicação da imprensa escrita e para as biografias (lançou a primeira em 1990) nem tudo foi ascensão, e rosas. O Álbum, corajosamente, aborda o alcoolismo, flertes com a cocaína e, até mais recentemente, um câncer, antes de Ruy finalizar seu trabalho de maior fôlego, sobre Carmen Miranda. Ruy Castro, que namorou muito, viveu muito, não bebe mais e curte atualmente os netos, conclui que não tem medo de morrer, só de deixar inacabado um livro...
>>> Álbum de Retratos de Ruy Castro
 
>>> DE PURO GUAPOS COM A CORDA TODA "De Puro Guapos", a expressão, quer dizer "Cara Valente" (sounds familiar?), alguém corajoso, de fibra, que não teme derrotas, nem esmorece diante das adversidades. Com esse nome auspicioso, dois argentinos e seis brasileiros formaram um octeto, cujo subtítulo se resume a "Orquestra Típica de Tango". Embora Martín Mirol assuma o clássico bandoneon, a direção e os arranjos, e Maria Emilia Paredes, o violino, Rafael (clarinete), Gustavo (outro violino), Marcos (viola), Paulo Henrique (violoncelo), Vinicius (contrabaixo) e outro Paulo (Brucoli, piano) não fazem feio e o De Puro Guapos já esteve, inclusive, na Argentina, representando o Brasil no festival internacional de tango de Justo Daract, anos atrás. Corajoso para além do nome, De Puro Guapos lançou um elogiado primeiro álbum apenas com registros ao vivo, a partir de performances no Espaçho Cachuera!, em São Paulo. E agora, finalmente, chega seu primeiro disco de estúdio, Com a corda toda, também pela Lua Music. O repertório mantém o rigor da pesquisa, com foco em tangos e milongas tradicionais (só de 1910 a 1960; abrindo uma única exceção, claro, para o revolucionário do ritmo, Astor Piazzolla). O grande Anibal Troilo, por exemplo, aparece duas vezes, com "Sur" e "Responso". Já Horacio Salgan aparece com "Don Agustín Bardi" e Julián Plaza, com a milonga "Nocturna". Com a corda toda, contudo, soa agradável também os ouvidos de neófitos, não versados no legado de Carlos Gardel e outros tantos. E, se o tango esteve muito associado a tragédias, e a figuras trágicas, sua recente adoção, pela juventude argentina, e por novos conjuntos, mostra uma longevidade insuspeitada e abre uma nova possibilidade para brasileiros interessados de qualquer idade.
>>> De Puro Guapos
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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