Sexta-feira,
30/1/2009
Digestivo nº 400
Julio
Daio Borges
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SURF HYPE, O MAIOR BLOGUEIRO DE SÃO PAULO
No mesmo embalo da crítica aos "experts em social media", feita por Hugh MacLeod nos Estados Unidos, André Dahmer criou um novo personagem em suas tiras, "Surf Hype — o maior blogueiro de São Paulo". Dahmer é do Rio, óbvio, e, historicamente como vários intelectuais e artistas cariocas, assiste com olhos desconfiados à pujança de São Paulo, que a muitos corrompe, inclusive a detentores de blogs da moda... Não era novidade que iria acontecer um dia, mas Dahmer, por conhecer o movimento blogueiro "de dentro", forjou o mais bem-acabado personagem, inclusive com blog próprio. Nas tirinhas — Surf Hype, que fisicamente se inspira numa capa do DJ Fatboy Slim —, topa divulgar qualquer coisa, mesmo que seja uma empresa de amianto (longe, muito longe da sua temática), por... "cem maravilhosos reais". Eticamente, claro, a empresa não vale nada, e o publicitário, que intermedeia a negociação, vale menos ainda — mas Surf Hype vai lá, em seu blog, dizer que sente uma "vibe bonita, sincera e 'do bem'". Dahmer ainda tira sarro dos brindes inúteis que as agências distribuem, esperando comprar posts favoráveis em blogs, ou das festas, preferencialmente na Vila Madalena; também, dos espaços ("lounges") das ricas empresas de telefonia e das "listas VIP" para bloggers... Na sua última manifestação, Surf Hype anuncia seu livro (!), com "técnicas de monetização, redes sociais e publieditoriais" ("para leigos"). Trata-se da eterna guerra entre o "espaço editorial" e o "espaço publicitário", mas transmutada para o universo dos blogs. No auge do jornalismo chegou-se à sofisticada divisão entre "Igreja" e "Estado", mas e na blogosfera, quem será o Henry Luce?
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Surf Hype, o maior blogueiro de São Paulo |
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A DEMOCRACIA TRAÍDA, DE RAYMUNDO FAORO
Além da cinquentenária edição de Os Donos do Poder, a editora Globo acaba de soltar uma coletânea de entrevistas com Raymundo Faoro, que pode servir de iniciação ao pensador brasileiro falecido em 2003. Os Donos do Poder se tornou um clássico das idéias sobre o Brasil, a ponto de despertar a curiosidade pelo que Faoro, justamente, pensava sobre a política brasileira contemporânea. Assim, Mino Carta, desde 1979, entrevistou Faoro, praticamente ano a ano, e agora Mauricio Dias organizou tudo em livro, cujo título provocativo é A Democracia Traída. Partindo da desmontagem do regime militar, Faoro confirma sua designação de "profeta", acertando, frequentemente, sobre políticos que viemos a conhecer melhor depois. Afirma, por exemplo, que "Sarney vive de ibope", FHC tem "habilidade acima das convicções", e que Lula, "eleito", tem de obrigatoriamente "contemporizar". Afirma, também, que "direita e esquerda" são "criações", "raciocínios" — "fora do concreto". Prevê, igualmente, que o PMDB de "eterna oposição" passaria a "eterno governo"; que o PT ascenderia muito rapidamente; e que o PSDB ocuparia o "centro" (surgindo como tertius, numa disputa entre os dois anteriores). O livro ainda capta, fora as profecias, o espírito do tempo, partindo de uma crença na política, como força transformadora da sociedade (algo que não há mais), até desembarcar progressivamente no ceticismo, no desalento e na desilusão. De tão longas, e detalhadas (até demais), as entrevistas são inimagináveis hoje; temperadas com erudição de jornalistas que liam (antigamente) muito; e pensadas, talvez inconscientemente, para durar. Raymundo não acertou somente ao escrever sobre a passado, mas também ao falar do presente e ao prever, como ninguém, o futuro.
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A Democracia Traída |
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SÃO PAULO, QUE DÁ NOME À NOSSA CIDADE
Paulo, natural de Tarso, também Saulo (seu nome judaico), era originalmente adepto do "time" dos fariseus. Tinha facilidade para argumentar, grego era sua língua nativa, embora fosse capaz de improvisar num certo "dialeto hebreu", o aramaico. Epiléptico — supõe-se hoje —, não era, à primeira vista, uma personalidade impressionante. "Um homem fraco" — diziam seus críticos gregos —, chegou a admitir que não era bom orador. Perseguiu a igreja de seu mestre no início, como um fanático, mas, de repente em Damasco, passou milagrosamente de perseguidor a entusiasta. Não era bom parceiro, diziam, a menos que fosse chefe. E foi considerado um "estranho" entre seus iguais. Tiago — irmão de seu mestre — junto a seus entusiastas, num dado momento, classificariam-no como "arrivista autopromovido" (sounds familiar?). Ao contrário de seu mestre — e do que pregavam seus ensinamentos —, Paulo não era inclinado ao perdão. Admoestou, furiosamente, Pedro — um colega seu — por este ter bancado o covarde e ter mudado de lado numa dada ocasião, em Antioquia. Paulo era obstinado e, por isso mesmo, meteu-se em conflitos pelo resto da vida, no incansável esforço de levar a palavra do mestre adiante. Passou fome, sede e frio. Foi prisioneiro, sofreu açoitamento e foi apedrejado. Em mais de uma oportunidade, tiveram de resgatá-lo, afastando-o da cidade, antes que sua vida estivesse ameaçada — escapou, uma vez, numa embarcação, dentro de um cesto, encolhido. Ainda que tivesse condenado Pedro, em sua hesitação, Paulo, por escrito, confessou: "Tornei-me tudo para todos". Este homem apaixonado, aventureiro e eternizado por suas cartas dá nome à nossa cidade, que completa 455 anos. Quem conta é Geza Vermes, num livro, justamente, sobre o mestre de Paulo...
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São Paulo, 455 anos |
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Julio Daio Borges
Editor |
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