Sexta-feira,
27/2/2009
Digestivo nº 404
Julio
Daio Borges
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STEVE BRILL SALVANDO O NEW YORK TIMES
Steve Brill não parece tão preocupado com o fim do papel como suporte, ele fica mais incomodado que sua sogra aceite pagar ainda por informação, mas seus filhos, já, não. Brill, contudo, nota que seus filhos aceitam pagar pela música que ouvem, através do iTunes, da Apple. Steve Brill uniu, portanto, as duas pontas e teve uma ideia óbvia (até porque não foi o primeiro, nem será o último): resgatar o modelo de cobrar — dos leitores — por informação, através de micropagamentos on-line. Não é absolutamente novidade, desde que Walter Isaacson propôs o mesmo na Time de semanas atrás. A diferença é que Brill se deu ao trabalho de fazer as contas. Assim — como alguns já fizeram as contas e já provaram que as grandes empresas de mídia não se sustentarão apenas com propaganda on-line —, Steve Brill tentou provar que os micropagamentos podem ser a salvação num futuro não tão distante. Partindo da audiência de 20 milhões de visitantes-únicos do Times de Nova York e estimando uma receita mensal de 1 dólar por visitante, seriam 240 milhões por ano — em média 70% do que todo o grupo do NYT fatura com propaganda hoje. Brill vai mais longe a afirma que 2 dólares por mês (de cada visitante-único) equivaleriam a meio bilhão de dólares a mais por ano — 50% de toda a receita obtida através de circulação pelo grupo atualmente. E que 3 dólares mensais (de cada visitante) gerariam um novo bilhão por ano — e reverteriam o cenário de iminente bancarrota em que o grupo se encontra. Agora só falta convencer a Apple; e o Google (a continuar indexando, em suas buscas, páginas vazias, só com título e nenhum conteúdo...). Steve Brill fez sua lição de casa e é bem intencionado, mas só ao Times cabe responder se o modelo é viável — a ponto de querer implementá-lo — ou se não serve, apenas, para Brill argumentar, contra os pais de seus alunos, que preferem tirá-los hoje do curso de jornalismo — e vê-los, muito mais realizados (num futuro), como consultores da McKinsey & Co.
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Brill's secret plan to save the New York Times and journalism itself |
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O MISTÉRIO DO SAMBA, COM MARISA MONTE
É um alívio perceber que Marisa Monte abandonou, mesmo que por um instante, o tatibitate a que se renderam suas composições nos últimos anos, e foi protagonizar um documentário com músicas de verdade. O Mistério do Samba é um mergulho no cancioneiro esquecido da Velha Guarda da Portela, que Marisa começou a resgatar — por sugestão de Paulinho da Viola — a partir de Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão (seu melhor disco, de 1994). A intérprete não quis ficar apenas na bem construída "Esta Melodia", aprofundou-se na pesquisa, junto ao baú da Velha Guarda, e desovou — nem todo mundo se lembra hoje — o CD Tudo Azul (2000). Não foi, exatamente, um sucesso de público; tanto que Marisa continuou sua carreira, insistindo, cada vez mais, em composições próprias. Apesar de bobagens infantis como Tribalistas (2002) — álbum que jogou por terra qualquer possibilidade de renovação da MPB (por parte dela, de Arnaldo Antunes e de Carlinhos Brown) —, Marisa Monte fincou ainda mais suas raízes portelenses, que remetem à própria família Monte, na quadra do bairro de Oswaldo Cruz. Carolina Jabor e Lula Buarque de Hollanda, da Conspiração Filmes (o último também dos DVDs Mais e Barulhinho Bom), compraram a ideia e, fornecendo a Tudo Azul as dimensões que faltavam para um produto audiovisual, dirigiram uma espécie de Buena Vista Social Club da Portela, que sai, agora, em DVD. O talento e a inocência são os mesmos dos cubanos, com a diferença de que os brasileiros não foram resgatados de um limbo ditatorial, sempre estiveram lá (talvez subjugados pela ditadura do mau gosto das gravadoras — mas essa é outra história...). Paulinho da Viola manteve sua retidão — mesmo nas piores situações —, Zeca Pagodinho se desviou um pouco — entre uma cervejada e outra —, já Marisa Monte tem, depois dessa experiência, a chance única de recuperar a trilha perdida de Cor-de-Rosa e Carvão.
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O Mistério do Samba |
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OS DENTES DO DRAGÃO, DE OSWALD DE ANDRADE
A imagem que temos de Oswald de Andrade é a do bufão genial, co-autor do modernismo brasileiro (ao lado de Mário de Andrade), que se casou muitas vezes e que torrou sua fortuna como patrono das artes. Na nossa mitologia, Oswald foi um sucesso com Pau Brasil (1926) e o movimento antropofágico (1928), teve um romance com Tarsila, outro com Pagu, morreu pobre mas protagonizou uma trajetória invejável. Daria uma belíssima estátua — a que preferimos conservar, nas aulas de literatura e nas conversas sobre sua modernidade. Ocorre, porém, que Oswald viveu mais, muito mais do que uma posteridade, com legado irretocável, poderia suportar. E, nesse sentido, as entrevistas reunidas em Os Dentes do Dragão, de 1924 (na sequência da "Semana") a 1955 (uma semana antes de sua morte), são reveladoras. Descobrimos, por exemplo, que 1922 serviu como uma verdadeira sombra, tanto projetando-o no futuro, como vanguardista antenado (diríamos hoje), quanto deixando-o ultrapassado, em relação às gerações de "30" (do romance brasileiro) e "45" (da poesia brasileira), que não poderiam esperar, claro. Rebelde incorrigível, rompido com Mário, agarrou-se a causas perdidas, como Luís Carlos Prestes (com quem, igualmente, romperia), panoramas balzaquianos da sociedade brasileira (que deixou inconclusos) e polêmicas de ocasião (com os arrivistas do momento — todos esquecidos agora). Se Mário de Andrade morreu se sentindo incompreendido, poderíamos concluir que o modernismo brasileiro não foi efetivamente generoso, rendendo minguados dividendos para seus artífices (ao menos em vida). Os Dentes do Dragão descortina, portanto, uma realidade incômoda, que não combina com os nossos livros didáticos.
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Os Dentes do Dragão |
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Julio Daio Borges
Editor |
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