Sexta-feira,
13/3/2009
Digestivo nº 406
Julio
Daio Borges
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OUTLIERS, DE MALCOLM GLADWELL
No final do ano passado, Malcolm Gladwell chacoalhou o mundo das ideias com a sua teoria das 10 mil horas. Estudando figuras geniais e homens extremamente bem-sucedidos como Bill Gates, os Beatles e até Wolfgang Amadeus Mozart, Gladwell identificou um padrão que se repetia em cada uma das histórias. Bill Gates antes de comercializar seu primeiro software tinha tido 10 mil horas de prática em programação de computadores. Já os Beatles, antes de "acontecer", tinham praticado 10 mil horas em palcos como os de Hamburgo. E Mozart, claro, tinha 10 mil horas de composições — antes de produzir suas maiores obras-primas. No cálculo de Gladwell, essas 10 mil horas são, com muita frequência, distribuídas em 10 anos, o que equivale a mais ou menos 20 horas de prática por semana ou 3 horas de prática por dia (quase todos os dias da semana). Sua grande conclusão é que talento, só, não basta — é preciso trabalho duro para ser um "fora de série" (título da edição brasileira do livro). Felizmente, foi possível ler, antes, sobre a teoria das 10 mil horas no site do Guardian, onde Malcolm Gladwell publicou um excerto. Infelizmente, contudo, esse texto tirou muito da surpresa de Outliers — que tem, ainda, outros grandes insights, mas cuja principal novidade é, justamente, a teoria das 10 mil horas... Gladwell, também, ao contrário do que ficou aparentemente sugerido, não tem uma teoria acabada sobre o gênio nem sobre homens extremamente bem-sucedidos, mas está preocupado em estudar as condições que permitem o surgimento de "foras de série". Outliers é uma porta aberta nessa direção. Oxalá seja, editorialmente, bem-sucedido, para que Gladwell continue sua investigação...
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Outliers |
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AS ÚLTIMAS, DE PEDRO DORIA E CARLA RODRIGUES
Quando surgiram os primeiros agregadores de conteúdo — junto com a Web 2.0 —, os jornalistas de papel, que não entendiam direito nem o que era blog, não entenderam nada. Para eles, "agregadores" eram os portais, com na época "antes da bolha"... O tempo passou, muitos jornalistas (de papel) passaram a ter seus próprios blogs e alguns até conseguiram entender os feeds RSS. (Hoje, a agrura da classe é o Twitter...) Pensando nessa evolução lenta e às vezes dolorosa, Pedro Doria e Carla Rodrigues — ambos blogueiros sobreviventes do No Mínimo — lançaram, recentemente, o agregador (sim, agregador) chamado As Últimas. Embora tenha similares na internet em inglês — desde os primeiros agregadores da Web 2.0 (para quem lê) —, As Últimas causou frisson no meio jornalístico (de papel?) e entre estudantes de comunicação. Anunciado, despretensiosamente, no ("incompreensível") Twitter, como um "retorno do No Mínimo" ("ou quase"), espalhou-se entre a comunidade como um raio. Ainda que não seja, virtualmente, uma idéia 100% original (vide popurls e Alltop), As Últimas chamou a atenção pelas boas escolhas editoriais, mais do que pelo formato. Dividido em "editorias", abrange desde política até economia, passando por esporte, ciência e cultura (entre outros). As Últimas varre portais, sites e blogs selecionados, mostrando, justamente, "as últimas" atualizações de cada veículo. É prático, para quem não quer percorrer todos esses endereços; e é inédito, para quem nunca teve um agregador de feeds RSS (como o Google Reader e o saudoso Bloglines). Em homenagem ao mesmo No Mínimo (descontinuado em 2007), há uma seção especial com Fiuza, Kupfer, Ryff, Sá Corrêa, Roberto Pires, Calil, Kotscho, Sérgio Rodrigues, Vasques, Villas Bôas-Corrêa, "Xicos" Sá e Vargas. Doria e Carla Rodrigues não ressuscitaram o antigo site, mas salvaram mais dinossauros da obsolescência ou até da extinção.
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As Últimas |
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MANDELA POR DENNIS 'DAVID PALMER' HAYSBERT
Quando Obama foi eleito, todo mundo que já assistiu ao seriado 24 Horas uma vez na vida se lembrou de David Palmer. Igualmente senador, e igualmente negro, já em 2001, o personagem vivido por Dennis Haysbert, uma figura impressionante, é eleito presidente na ficção e estabelece uma conexão muito especial com o herói, Jack Bauer. Infelizmente, porém, Palmer sai de cena algumas temporadas mais tarde e deixa fãs saudosos até hoje (que, obviamente, não deixaram de se manifestar quando Obama estava próximo da Casa Branca). Como Haysbert nunca mais vai viver Palmer — num momento em que, inclusive, se cogita a morte de Bauer —, a audiência desconsolada de 24 Horas tem de se contentar com novos papéis do ator. Um deles, bastante razoável, é o de Nelson Mandela no longa Mandela — Luta Pela Liberdade, atualmente disponível em DVD. Dirigido pelo dinamarquês Bille August, conta a história do relacionamento entre Mandela e seu censor, e carcereiro na prisão, James Gregory (vivido por Joseph Fiennes, irmão de Ralph). No filme, um Gregory, inicialmente durão, vai descobrindo a humanidade em Mandela, desde os anos 60, até reencontrá-lo perto da libertação, nos anos 90, quando virtualmente se converte à causa dos que combatiam o apartheid na África do Sul. Resultaria numa bela fábula, dentro da história oficial do século XX, não fosse por um detalhe: Anthony Sampson, biógrafo oficial de Mandela, acusa Gregory (morto de 2003) de se aproveitar da proximidade para escrever um livro falso sobre sua "amizade" (no qual o roteiro do longa se baseia). Mandela, político, não quis esclarecer a controvérsia. Mandela — Luta Pela Liberdade, contudo, deve ser visto — nem que seja para elucubrar o que David Palmer faria hoje para salvar os EUA da crise...
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Mandela — Luta Pela Liberdade |
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Julio Daio Borges
Editor |
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