Sexta-feira,
24/4/2009
Digestivo nº 412
Julio
Daio Borges
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OTTO LARA RESENDE SOBRE VINICIUS DE MORAES
Otto — "o mineiro só é solidário no câncer" — Lara não gostava do primeiro livro de versos de Vinicius, O Caminho para a Distância, lançado em 1933, quando o poeta contava então 20 anos. Classificava-o ironicamente como "um caminho que se pretendia para a distância, mas não foi". Otto se incomodava com o que chamou de "a embriaguez causada pela vertigem das grandes alturas e abstrações". Eram muitas maiúsculas para o seu gosto (Verdade, Espírito, Mistério) e ele, inclusive, achava que o "poeta altíssimo", na sua compaixão pelo gênero humano, queria pairar acima dos homens. Antecipando uma tese — à qual Ruy Castro daria continuidade no verbete de Ela é Carioca sobre Vinicius de Moraes — Otto Lara sinalizava a mudança transformadora a partir de "Ausência": quando o lírico driblaria o "cipoal de angústias metafísicas" em que andara enredado. Direto do "reino do sublime", aterrissando no "plano do real", nasceria um novo poeta, um novo Vinicius. Deixaria então de se inspirar em Rimbaud, o "vidente", para aproximar-se de Neruda, "sensual e social", e de Lorca, "valorizado pelo martírio". Já a linguagem partiria para o natural, o coloquial, à moda dos modernistas, e a mulher — claro, a mulher — deixaria de ser "musa incorpórea" e passaria a ser "gente, companheira, amiga" (sem "nada de idealização"). Afinal, para Otto, os "eflúvios místicos", do jovem Vinicius, nunca passaram de "inequívocos arrancos sexuais" (reprimidos?). Voltando-se para o "tempo presente", o poeta abandonaria definitivamente as "profecias de timbre apocalíptico". E Vinicius de Moraes se estabeleceria como "um protagonista que nunca se esconde nos bastidores" (para o bem e para o mal). "Rompendo as últimas cadeias", depois do encontro histórico com Antonio Carlos Jobim, a palavra enfim se faria canto e o poema, canção. Vinicius não cederia mais à "tentação do refinamento" e se dissolveria no "sentimento geral" (do povo?). O poeta — outrora, altíssimo — estaria, finalmente, na boca das multidões... Este ensaio, belo e revelador, de Otto Lara Resende está na nova edição do Livro de Sonetos, de Vinicius de Moraes.
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Livro de Sonetos |
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TWOOTING, O PODCAST SOBRE O TWITTER
O Twitter é a rede social que mais cresce atualmente? Em números absolutos ou em proporção? E, no Brasil, o Twitter é incipiente em relação ao Orkut? Estamos assistindo a uma "orkutização" do Twitter? Para quem não se satisfaz em apenas utilizar a ferramenta mais comentada do momento, foi criado o Twooting, o primeiro podcast diário dedicado a assuntos do Twitter. Pode soar exagerado aos ouvidos de quem não entendeu, ainda, para que serve o Twitter (jornalistas?) — mas o bom humor de Robert "Bo" Bennett e Ryan Levesque já justificam a audição, jogando uma dose diária de ceticismo sobre todo o hype. No programa, entrevistados — sempre populares no Twitter — comentam suas técnicas para conquistar a "twittosfera", engajar-se com outros usuários ou, simplesmente, transmitir sua mensagem. Você segue todo mundo que te segue? Você deixa de seguir quem não te segue? O que você acha da limitação no número de seguidores? O seu site caiu por causa do Twitter? (Como foi isso?) É vantajoso encaminhar links, através de directs, para os seus novos seguidores? Qual é a sua aplicação preferida para acessar o Twitter? Quanto tempo você dedica, por dia, aos seus tweets? Além de um podcast, no site do mesmo Twooting é possível encontrar as respostas para as principais perguntas, igualmente um fórum e uma enxurrada de comentários com dicas para sobreviver, sobressair-se ou até mesmo desistir do Twitter. Na hora em que a empresa de Evan Williams, Jack Dorsey e Biz Stone se encaminha para o mainstream — e o usuário mais popular atinge 1 milhão de seguidores —, o Twitter deixa de ser uma curiosidade para se tornar inevitável. Como a WWW, enfim.
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Twooting |
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A NOVA REVISTA DA CULTURA
Dentro da estratégia de ser mais que uma loja, assumindo sua vocação de centro cultural e produzindo, inclusive, mídia de qualidade, a Livraria Cultura deu mais um passo, neste mês de abril, renovando o projeto gráfico de sua revista mensal, a Revista da Cultura. Se, no ano passado, inaugurou seu próprio blog e, em matéria de eventos, promoveu uma maratona cultural de fazer inveja a centros estabelecidos como o Itaú Cultural e o CCBB-SP, neste ano a Cultura resolveu conceder à sua Revista ainda maior autonomia, transcendendo as lojas e se comunicando com um público ainda mais amplo. De origem gratuita, com 25 mil exemplares espalhados pelas oito filiais da rede, a Revista da Cultura igualmente segue, na íntegra, para uma base de 950 mil clientes cadastrados por e-mail. Entre os destaques desta edição, estréia o ranking "10+", com o desempenho semana a semana, ao longo do último mês, dos dez títulos mais vendidos pela Livraria Cultura. Concebido com a sugestão de Matinas Suzuki Jr., o último ranking permite acompanhar, por exemplo, a performance de Milton Hatoum, Vinicius de Moraes e Alan Moore frente a best-sellers como os de Stephenie Meyer, Bernhard Schlink e Augusto Cury. Na mesma Revista, chamam a atenção uma entrevista com a tatuadora Kat Von D, uma matéria sobre o ocaso do ritmo drum'n'bass, uma discografia escolhida por Charles Gavin e as principais atrações da "agenda", incluindo a participação da Livraria Cultura na próxima Virada Cultural. Num momento em que os cadernos de cultura dos jornais se rendem, cada vez mais, aos releases e às assessorias de imprensa, e as revistas culturais se escondem atrás de embalagens ou tiragens minúsculas, a Revista da Cultura vai ocupando, habilmente, um nicho por vezes abandonado pelos próprios jornalistas culturais.
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Julio Daio Borges
Editor |
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