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Sexta-feira, 29/5/2009
Digestivo nº 417

Julio Daio Borges

>>> DESAFIANDO O TALENTO, DE GEOFF COLVIN Desafiando o Talento, de Geoff Colvin, foi divulgado na mídia impressa como um anti-Outliers, o best-seller de Malcolm Gladwell. A questão do talento, felizmente, é mais complicada do que parece. Enquanto Gladwell defende que os "fora de série", como ele chama, são produto de — além de talento — um ambiente, uma época e uma rede de pessoas, Colvin procura mostrar que o talento não segue a doutrina da graça de Santo Agostinho (se você tem, está salvo; se você não tem, está condenado). Colvin soa polêmico quando cita estudos apontando o contrário do senso comum: não existe uma relação obrigatória de causa e consequência entre talentos precoces e grandes realizadores na idade adulta; e não existe, obviamente, uma receita para o sucesso (nem uma formação, nem uma carreira e nem uma rede de contatos que o garantam). Contudo, Colvin não nega Gladwell — ele apenas sugere que construir uma bela história não garante, necessariamente, um final feliz. A boa notícia é que o talento, para Geoff Colvin, pode ser aprimorado e que muitos jovens sem credenciais também chegaram ao topo do mundo. Colvin pega, entre outros exemplos, o caso de Steve Ballmer, hoje CEO da Microsoft — que não foi um aluno brilhante na faculdade, que não teve um primeiro emprego promissor e que não tinha, em seu início de carreira, nenhum indicador de que chegaria onde chegou. Colvin introduz o conceito de "prática deliberada" e sugere, nas entrelinhas, que ela está ao alcance de todos. Em vez da "teoria das 10 mil horas", de Gladwell, prefere a "regra dos 10 anos" — sugerindo que, de repente, numa disputa hipotética entre talento e prática, a última pode levar a melhor...
>>> Desafiando o Talento
 
>>> THIS WEEK IN STARTUPS, COM JASON CALACANIS Jason Calacanis não consegue ficar parado. Depois de se lançar com o Silicon Alley Reporter, que foi vendido para a Dow Jones, depois de lançar o Weblogs, Inc. em 2003 (e vendê-lo para a America Online) e, depois de fundar o Mahalo e lançar uma newsletter que já tem 13 mil assinantes, acaba de estrear o This Week in Startups, ou "TWiSt" (para os íntimos). O nome é, obviamente, inspirado no This Week in Tech, um dos podcasts mais importantes da internet em língua inglesa, apresentado por Leo Laporte. (Calacanis, inclusive, chegou a pedir autorização para Laporte, mas o fundador do TWiT foi generoso e deu sua benção.) Jason Calacanis já vinha experimentando com podcasts desde que saiu da AOL em dezembro de 2006 (com a aquisição do Weblogs, Inc., permaneceu lá como SVP temporariamente). Sua inspiração, na época, era o considerado pioneiro no formato, Adam Curry, ex-VJ da MTV americana. Calacanis logo partiu para o videocast, antes mesmo da versão "alfa" do Mahalo (em maio de 2007), tendo sido um dos primeiros a entrevistar Evan Williams, quando o Twitter ainda era uma vaga promessa. Antes do atual TWiSt, porém, ainda fez participações no consagrado Gillmor Gang (que migrou para o TechCrunch) e no mesmo TWiT de Laporte. Tudo isso para dar uma ideia do quão movimentada é a vida (e a cabeça) de Jason Calacanis — que dirá um video podcast, dedicado a startups, apresentado por ele, semanalmente... O TWiT começou bem, com Brian Alvey, foi OK com Seth Sternberg e derrapou na curva, já no terceiro episódio, ao mudar de horário subitamente. Jason Calacanis, felizmente, compensa. Sempre vale a pena "segui-lo" — nas suas mudanças de temperamento, de ideias e de projetos...
>>> This Week in Startups
 
>>> SANTIAGO, DE JOÃO MOREIRA SALLES O que ficou de Santiago, à época de seu lançamento, parecia ser a cultura monumental do personagem, Santiago, retratado por João Moreira Salles — e não tanto sua relação, bastante pessoal, com a profissão de documentarista. Agora, com o DVD, fica claro — por conta dos extras — que a feitura de Santiago, o filme, era mais um acerto de contas entre o João de 1992 e o outro, de treze anos depois. Santiago — o verdadeiro — aparece mais como o objeto de um documentário que não se concretizou, em 1992 (apesar de ter, efetivamente, uma cultura monumental, ora eclipsada por lapsos, muito naturais, dada a sua idade avançada). Santiago — ou até o outro documentário de antes — terminou finalizado, mas a cisão inicial permanece até hoje. Se, em 1992, João Moreira Salles queria evitar que sua família aparecesse, o que tornava o documentário quase impossível (porque Santiago trabalhou como mordomo, durante trinta anos, para os Moreira Salles), em 2005, João, depois da crise existencial dos 40, queria retomar sua história, mas ainda não encarava o enredo que percorre as imagens e os depoimentos em Santiago (mas que nunca é abordado de fato): a história de sua família, a história dos Moreira Salles. O tema é íntimo e talvez mais íntimo do que o próprio João Moreira Salles poderia imaginar: escolher Santiago — um personagem, efetivamente, fascinante — acaba servindo como subterfúgio, para o documentarista não encarar a história de opulência de sua família que, num país como o Brasil, gera sentimentos conflitantes. Como no caso do último Walter Salles, João deveria simplesmente abandonar o fardo de tentar fazer "justiça social" em tela grande. Mesmo o país de Lula precisa de uma elite atuante; e ela não deve se envergonhar de sê-lo; como, provavelmente, nunca se envergonhou Walter Moreira Salles.
>>> Santiago
 
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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