Sexta-feira,
10/7/2009
Digestivo nº 423
Julio
Daio Borges
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OS PRÓXIMOS CAPÍTULOS DO NEGÓCIO DO LIVRO
Enquanto os jornalistas ainda discutem se os jornais vão acabar — e eles continuam acabando —, Jeff Bezos, da Amazon, vai mexendo seus pauzinhos para dominar, nos próximos anos, o chamado negócio do livro. Bezos mereceu a capa na última Fast Company, que, por causa do Kindle, aproxima a Amazon da Apple e seu fundador, de Steve Jobs. A revista sugere que: assim como iPod e iTunes redefiniram o negócio da música, entregando o monopólio da distribuição on-line à Apple e a Jobs, o Kindle e seu software podem redefinir o negócio do livro, encurtando a distância entre autores e leitores, relegando editores, gráficas e outros profissionais da indústria do papel a um segundo plano. Um exemplo: se hoje os ganhos dos autores, em porcentagem, são insignificantes, por conta dos custos de revisão, edição, diagramação, impressão, distribuição e divulgação, no modelo da Amazon, esses mesmos ganhos podem ser tornar, proporcionalmente, mais relevantes — porque não haverá mais custos relacionados à produção e à circulação do livro físico. Se os antigos editores já começam a se preocupar, deveriam se preocupar ainda mais porque o Google está se aliando à Sony, para entrar nesse jogo, enquanto há suspeitas de que a própria Apple estaria preparando seu leitor eletrônico (embora Jobs negue, como negou, aliás, o vídeo no iPod e a sua fusão com o celular, o iPhone). E enquanto acadêmicos ficam discutindo se ler na tela é a mesma coisa que ler no papel, a internet vai reinventando a narrativa, com o link, o áudio e o vídeo. O livro vai acabar como o jornal? Não; mas vai sofrer transformações que os velhos editores nem sonham ainda...
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Amazon Taps Its Inner Apple |
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NA CABEÇA, DE MARCOS SACRAMENTO
Quando afirmou que 90% da música brasileira produzida hoje "é uma porcaria", Nelson Motta deve ter se esquecido de Marcos Sacramento. Ou, então, incluiu Marcos, estrategicamente, nos redentores 10%. Afinal, ninguém precisa ser nenhum Nelson Motta para saber que Marcos Sacramento é o maior intérprete de música brasileira no momento, e isso há muitos anos. Na contramão de acústicos, "ao vivos" e coletâneas do tipo "caça-níquel", não segue modas, não trabalha para o falido hit parade e manda periodicamente uma banana para as práticas de uma indústria fonográfica agonizante. Seus álbuns têm conceito, têm pesquisa e requerem inúmeras audições — o que gera, igualmente, um trabalho "extra" para o jornalismo (e para a "crítica") musical, quase na mesma medida, agonizante. Na Cabeça, por exemplo, surgiu de uma iniciativa de Marcos de, nas palavras de Julio Moura, "reunir três dos principais representantes da recente safra do violão brasileiro". A faixa-título conta com música de Luiz Flavio Alcofra, o primeiro nas 6 cordas, e letra do próprio Sacramento. Alcofra brilha, ainda, como compositor, em "Pavio", uma homenagem fluvial ao Rio. "Um samba", originalmente de Fossa Nova, ganha uma nova roupagem, graças às 6 cordas de Zé Paulo Becker (o segundo). O mesmo que assina o arranjo da irreverente "Dia santo também". Becker, ainda, recria "Morena", do primeiro álbum de Sacramento. Rogério Caetano, last but not least, fica com a responsabilidade de atualizar as clássicas "Último desejo" (Noel Rosa), "Sim" (Cartola) e "A Rosa" (Chico Buarque) — arrasando, com a ajuda do vozeirão de Marcos, nas 7 cordas. Na Cabeça, parafraseando Glauber Rocha, é mais que uma ideia, é uma realização. Ao ouvi-lo talvez até Nelson Motta mude de opinião (sobre a música brasileira que se produz hoje)...
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Na Cabeça |
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GRANDES ENTREVISTAS DO MILÊNIO
Quando Paulo Francis era vivo, existiam dois programas obrigatórios na TV brasileira. Um era o Manhattan Connection, com ele, nos domingos à noite; outro era o Milênio, em que entrevistava personalidades, mundiais, no GNT. Em vez de jogadores de futebol, celebridades em ascensão e "gente de televisão", verdadeiros artistas, importantes pensadores e grandes realizadores. É o que comprova a coletânea do Milênio, lançada agora pela Globo, com entrevistas feitas por Francis, Edney Silvestre e William Waack, entre outros. Paulo Francis comparece entrevistando John Updike (que também já se foi) e John Kenneth Galbraith (pena que não incluíram aquela outra com Norman Mailer). E Francis é, igualmente, entrevistado, por Geneton de Moraes, quando lançava seu Trinta anos esta noite. Grandes momentos com Eric Hobsbawm, falando sobre o Brasil de FHC; Oliver Sacks, rogando para nunca mais ser representado em tela grande; Christopher Hitchens, mais afiado do que em seu livro, Deus não é grande; Alain de Botton, sobre filosofia, óbvio; e Allen Ginsberg, em sua última aparição na telinha, antes de morrer. Algumas entrevistas não envelheceram bem, como a de Bill Gates, em que fala com segurança do futuro da Microsoft, nem sonhando com o Google... De qualquer forma, a TV brasileira, muito possivelmente, nunca foi tão profunda. Milênio é um alento para quem está cansado de ver pastores eletrônicos, reality shows e programas de auditório.
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Grandes Entrevistas do Milênio |
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Julio Daio Borges
Editor |
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