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Sexta-feira, 11/9/2009
Digestivo nº 432

Julio Daio Borges

>>> FROST/NIXON, DE RON HOWARD Em mais uma época de falta de vergonha na cara na política brasileira, desde o Senado até a Presidência da República, passando pela Câmara dos Deputados, vale a pena assistir Frost/Nixon, filme de Ron Howard, em DVD, que vem sendo justamente celebrado desde seu lançamento no ano passado. O longa retrata a luta de David Frost, um homem de televisão britânico, para entrevistar Richard Nixon, presidente norte-americano deposto, bem como para viabilizar o projeto e arrancar, do vilão, uma admissão de culpa. Num País em que ex-presidentes corruptos desfilam com altivez inabalável, e com o apoio incondicional de governantes em exercício, Frost/Nixon serve para mostrar que, mesmo quando existe absolvição (ou erro da justiça em punir), deve haver hombridade, para assumir erros e saber se retirar da cena política quando ninguém mais aguenta. David Frost, que não era uma especialista no assunto, e que permanece desacreditado na maior parte do tempo do filme, consegue, surpreendentemente, encurralar o hábil ex-presidente, em seu próprio discurso, confirmando que ele se achava "acima da lei" e exigindo, com exímia precisão de timing, uma retratação. Claro que os Estados Unidos da América dos anos 1970, quando se deu esse episódio, não combinam com o mesmo país de George W. Bush — alguém que, segundo se diz nos "extras", cometeu crimes tão graves quanto os de Richard Nixon, e que hoje desfila com a mesma altivez de nossos mandatários corruptos... De fato, alguma coisa se perdeu desde o ativismo do fim dos 1960 até a geração internet, que consegue, sim, eleger alguém como Barack Obama, e que, no Brasil, sabe promover linchamentos on-line, mas que não consegue se mobilizar, com a mesma eficiência, no mundo real... O problema dos EUA talvez seja o de simplesmente reacender uma chama esquecida; o problema do Brasil, porém, talvez seja mais grave, pois o nosso impeachment permanece "em aberto"; os nossos coronéis censuram e, ao mesmo tempo, posam como paladinos da democracia; enquanto o nosso poder executivo se reconcilia com todo esse passado como se risse de sua história, de seus eleitores e da opinião pública.
>>> Frost/Nixon
 
>>> MARCOS VALLE CONECTA, DVD AO VIVO NO CINEMATÈQUE Enquanto, para muitos entendidos, a música brasileira não se renova, Marcos Valle decidiu reunir, justamente, o melhor da nova geração em seu mais recente DVD ao vivo. Aproveitando a vinda de um dos nossos bossa-novistas mais festejados mundo afora, cada noite do show, no espaço Cinematèque no Rio, contou com um jovem talento da música brasileira do século XXI. Assim, passaram pelo palco, além de Marcos Valle e sua banda, Marcelo Camelo, Fino Coletivo e "+2" (Kassin, Domenico Lancelotti e Moreno Veloso). Fora DJs, como Nado Leal e Plínio Profeta, que deram nova roupagem a clássicos como "Nem paletó nem gravata" e "Batucada surgiu". Quem navega pelo YouTube já deve ter encontrado Marcos Valle dividindo espaço com novíssimas estrelas, como Céu — portanto sabe que seu desejo de se aproximar desses compositores e intérpretes não é só da boca pra fora. Aliás, entoa, com muita galhardia, sambas como "Cara Valente" (que teve gravação de Maria Rita) e mesmo rocks, que rearranja, como "O Vencedor" (hit do Los Hermanos). "Homem ao Mar", de Kassin +2, um dos álbuns mais injustiçados dos últimos anos, não perde em peso. E "Sincerely Hot", com todo o empenho de Domenico, o baterista multitalentoso, não fica atrás em matéria de performance. A aproximação do +2, inclusive, lembra bastante seus contatos anteriores com João Donato, outro pai da bossa nova, também através da Orquestra Imperial. Tirando as participações, que são um show à parte, o DVD registra a turnê de Jet Samba (2005) — logo, o set alterna composições recentes com outras clássicas: "Selva de Pedra", "Não tem nada, não", "Estrelar" (com direito a riso incontido de Kassin) e "Água de Coco". São, no total, 24 números e mais de 10 convidados. Se a indústria fonográfica só pensa no mau gosto da televisão, nossas rádios se perderam nos hits de décadas passadas e a crítica musical anda escrava de efemérides inócuas, este DVD de Marcos Valle prova que a música brasileira não parou, e que quem pensa assim, está, no mínimo, mal informado.
>>> Marcos Valle Conecta
 
>>> O LEITOR APAIXONADO, LIVRO DE RUY CASTRO Embora tenha se consagrado através de suas biografias, e de seus textos sobre música popular e cinema, Ruy Castro, em seu novo livro, revela uma ligação profunda com a literatura. O Leitor Apaixonado, na sequência de Um filme é para sempre (2006, cinema) e Tempestade de Ritmos (2007, música), é uma compilação também de Heloisa Seixas, pela Companhia das Letras, reunindo matérias de Ruy sobre livros, escritores e o universo literário. Desde os primeiros contatos na infância, com uma edição de Alice no País das Maravilhas, traduzida por Monteiro Lobato, até o début do jornalista Ruy Castro, cobrindo a posse de Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras, em 1967 (com foto). Ruy aproveita e revisita temas aos quais está, historicamente, associado: Nélson Rodrigues, com quem conviveu (além de ter biografado); Paulo Francis, de quem foi amigo (e que mudou sua vida, com uma promoção); e o Correio da Manhã, que era lido por seu pai e seu avô (e que, em sua redação, abrigou a fina flor da literatura brasileira). O jornalismo ainda se faz presente graças outras publicações, como New Yorker e Esquire; assim como a influência dos EUA na cultura do século XX, através de autores como Gertrude Stein e de grupos como o do Algonquin. O apego à cultura do Rio de Janeiro igualmente se reflete em O Leitor Apaixonado, mas a surpresa fica por conta de artigos de Ruy dedicados Oswald e Mário de Andrade. Outra surpresa é um texto sobre Paulo Coelho - o best-seller inevitável. Já do século XIX, Ruy Castro puxa Oscar Wilde, escritor celebridade pré-1900, e da relembrada crise de 1929, resgata Nathanael West, outra consagração literária póstuma. Na capa, para completar, uma foto da biblioteca de Ruy, sugerindo um lugar onde passou longas horas entre livros e escritores (daí o subtítulo "Prazeres à luz do abajur"). Enfim, por mais que Ruy Castro tenha sido comumente associado a outras artes, nunca restou dúvida de que seu estilo tinha uma origem inescapável: o amor à literatura.
>>> O Leitor Apaixonado
 
>>> O CONSELHEIRO TAMBÉM PALESTRA NA CÁSPER LÍBERO


Neste dia 12/09, Julio Daio Borges, Editor do Digestivo, participa do "III Seminário Tendências Conectadas nas Mídias Sociais", na Faculdade Cásper Líbero, ao lado de Pedro Doria (Estadão), Marcelo Soares (Los Angeles Times), Tiago Dória (Notícias MTV), Fabiana Zanni (Editora Abril), Pedro Valente (Yahoo Brasil) e Phelipe Cruz (Capricho).
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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