Sexta-feira,
23/10/2009
Digestivo nº 437
Julio
Daio Borges
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EUCLIDIANA, POR WALNICE NOGUEIRA GALVÃO
A sobrevivência de um escritor, depois de morto, não depende só de sua consagração em vida, mas também de pesquisadores dedicados como Walnice Nogueira Galvão, especialista em Euclides da Cunha. O autor de Os Sertões, além de despontar com sua obra, no começo do século passado, conquistando o respeito de toda a intelectualidade brasileira, foi premiado com admiradores póstumos como a professora titular de teoria literária e literatura comparada da USP. O interesse de Walnice Nogueira Galvão a levou, entre outras realizações de monta, a organizar um fundamental volume de cartas do escritor, pela Edusp (em 1997), e a estabelecer a mais recente edição crítica de Os Sertões, harmonizando todas as variantes conhecidas, desde 1902. As histórias de sua devoção por Euclides da Cunha estão coligidas neste Euclidiana, um volume de ensaios, que a Companhia das Letras acaba de lançar. Walnice Nogueira Galvão começa com estilo, em "Ecos Literários", passa à biografia de Euclides, incluindo a Escola Militar, naturalmente sua morte trágica e seu jornalismo no Estado de S. Paulo, dedicando, ainda, uma terceira parte ao que chama de "Epistolografia", para encerrar com "Livros", ou as edições do escritor. Euclides da Cunha, como todo grande clássico, é um mundo, e mergulhar nas análises da professora Walnice é se deixar envolver pela prosa de um de nossos maiores autores. Embora tenha falecido precocemente, aos 43 anos, Euclides se converteu em mito e vive agora também nos estudos de Walnice Nogueira Galvão. Bastante sóbria na escrita, talvez evocando o mestre, a professora Walnice não se furta, igualmente, a emitir opiniões, e repassa desde as derivações literárias como a de Mario Vargas Llosa até as deformações folhetinescas como Desejo, com Vera Fischer e Guilherme Fontes. Para compensar, as presenças de José Calasans, Oswaldo Galotti, Antonio Houaiss e Franklin de Oliveira — "euclidianos e conselheiristas". Euclidiana, enfim, é mais uma homenagem, que merece ser lida, ao nosso grande Euclides da Cunha.
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Euclidiana: Ensaios sobre Euclides Da Cunha |
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TERÇA INSANA, O SEGUNDO DVD
É louvável que um projeto como o Terça Insana continue em cartaz desde 2001. Com uma proposta de renovar seus quadros de humor a cada semana, o Terça Insana foi se consagrando, saindo do centro da cidade para se firmar no Avenida Club, em Pinheiros. Veio o primeiro DVD, ainda pela Trama (em 2004), e, agora, o segundo DVD marca a passagem do Terça Insana para uma segunda fase, pós-consagração. Desta vez, nada de Aline Dorel (só nos créditos), Irmã Selma, a Sheila ("uma loucura") ou MC Dollar (uma homenagem aos rappers de shopping). Com o sucesso da primeira trupe, muitos seguiram carreira solo, outros buscaram o mainstream televisivo, outros, ainda, preferiram o teatro clássico. Grace Gianoukas, junto a seu fiel escudeiro, Roberto Camargo ("Betina Botox") tiveram de renovar o cast, mas conseguiram boas aquisições. Neste novo DVD, as grandes revelações são: Marco Luque, que faz o hilariante taxista Silas Simplesmente, Mary Help (a empregada Maria do Socorro) e o Garçom; e Agnes Zuliani, uma atriz veterana, com formação em História, que faz a Senadora Biônica ("Lembra?"), Carlota Joaquina, com sotaque português impecável, e a Mal Amada. Grace Gianoukas ainda segura bastante a onda com a Mulher Moderna (entre trabalho, marido e filhos, claro) e a Adolescente (personagem inspirada nas crianças mimadas de hoje). Já Roberto Camargo se sai muito bem como Cupido, embora soe um pouco deprimente como Homem de 40 (mais que engraçado). Guilherme Uzeda, ainda que seja uma novidade na trupe, com seus personagens, não marca muito. Grace parece uma de suas criações, falando nos extras, justificando muito a demora do DVD e enumerando as características de cada ator que já passou pelo projeto. Embora seja a fundadora e, idealmente, tenha se realizado na profissão, soa um pouco cansada — e, de repente, a terceira fase do Terça Insana pode vir a depender de outras variáveis além do seu fôlego...
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Terça Insana |
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IRMÃS LABÈQUE ENCERRANDO A TEMPORADA 2009 DO MOZARTEUM
Se em 2005 Katia e Marielle Labèque abriram a Temporada do Mozarteum Brasileiro, em 2009, retornando ao Brasil, fecharam com música espanhola e o famoso Bolero de Ravel. Quatro anos atrás, a influência da Espanha já se insinuava pela escolha de peças do mesmo Ravel que evocavam, pelo estilo, o país do Dom Quixote. Sem contar a presença do mundo hispano-americano, graças ao baterista venezuelano, Pablo Bencid, que, em 2005, fechou um segundo bloco que começou com Leonard Bernstein (a peça "America" estava incluída). Neste ano, a parte percussiva do espetáculo ficou a cargo do Grupo PIAP, convidado para interpretar, conjuntamente, o Bolero. Seguindo a notação original, para dois pianos (do próprio Maurice Ravel), a reprodução do "crescendo", mais conhecido por causa da presença de orquestras, foi acontecendo graças à introdução lenta de cada instrumento de percussão, enfatizado pela intensidade dos toques de Katia e Marielle. Desde um pandeiro muito discreto, fazendo apenas a marcação, até explodir em tambores, surdos e, aparentemente, timbales, combinados com berimbau, caxixi e triângulo, entre muitos outros. A plateia, que já esperava com ansiedade o Bolero, explodiu, por sua vez, em palmas e sorrisos, de pé, louvando as irmãs francesas e o grupo de percussão da Unesp. No início, as Labèque preferiram começar a apresentação mais sérias, com um bloco inteiro dedicado a Isaac Albéniz, excertos da sua suíte Iberia, com arranjos de Enrique Granados (entre outros). O mesmo Granados reapareceria abrindo o segundo bloco, com sua suíte para piano, Goyescas, La Maya y el Ruiseñor (com este último passeando alegremente pelo teclado das instrumentistas). Antes do ovacionado Ravel, ainda houve Paco de Lucia e Joan Albert Amargós. O primeiro é mais conhecido por sua habilidade, lendária, ao violão, mas se mostrou compositor agradável em Canción de Amor. A Temporada 2010 do Mozarteum também promete com Maria João Pires, Zubin Mehta e a Filarmônica de Munique, a Sinfônica de Heidelberg com Hiaou Zhang, fora a Oslo Camerata, o Ensemble Berlin e o Waldstein Quartet.
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Katia e Marielle Labèque |
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Julio Daio Borges
Editor |
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