Sexta-feira,
20/11/2009
Digestivo nº 441
Julio
Daio Borges
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STEVE JOBS, O CEO DA DÉCADA, SEGUNDO A FORBES
"Jovem fundador leva um 'pé' da própria empresa nos anos 80, retorna nos 90, e na próxima década — enquanto sente o bafo da morte duas vezes, passa por um forte escândalo financeiro e refaz sua linha de produtos —, torna-se a personalidade dominante em quatro indústrias diferentes, bilionário várias vezes, e o presidente da empresa mais valiosa do Vale do Silício". Assim abre Adam Lashinsky, editor da Forbes, que, em sua última edição, acaba de eleger Steve Jobs, fundador e presidente da Apple, o "CEO da década". Jobs, sugere Lashinsky, é o ser humano mais próximo, em nossa época, de ter o toque de Midas. Nos últimos dez anos, redefiniu, simples e apenasmente, três mercados: o de música, o de filmes e o de celulares (sem contar o impacto em seu mercado de origem, o de computadores). Além de homem de negócios, Jobs é hoje uma celebridade. Alguém que conseguiu levar seu slogan — Think different — ao pé da letra, impondo um design de bom gosto, invadindo o "varejo" com lojas elegantes e redefinindo até o papel da propaganda. O que o move, segundo Larry Ellison, CEO da Oracle, um amigo próximo, não é o dinheiro — mas, desconfia a Forbes, sua paixão pela Apple (seu "primeiro amor") e uma possibilidade de, através dela, efetivamente mudar o mundo. Se em 2000, quando Jobs lançou a estratégia do "digital lifestyle", a Apple valia 5 bilhões na bolsa, hoje, menos de uma década depois, ela vale 170 bilhões de dólares (um pouquinho mais que o tão falado Google). Já Jobs, quando vendeu a Pixar à Disney em 2006 por 7,5 bilhões, tornou-se, magicamente, o maior acionista "pessoa física" da empresa que detém os direitos do Mickey. "Será que ele vai se sentir tão confortável no mainstream, nos próximos dez anos, quanto se sentiu no underground, nas décadas passadas?", indaga a mesma Forbes. Larry Page e Sergey Brin, os dois fundadores do Google, recentemente declararam, à revista New Yorker, que Steve Jobs é seu herói. E o mundo se pergunta, neste momento, qual será o próximo passo do gênio... Se ele sempre evitou se expor, e guardou seus segredos até o último minuto, não temos como adivinhar, resigna-se a mesma reportagem da Forbes.
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The decade of Steve |
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DECÁLOGO (COMENTADO) DO PERFEITO CONTISTA, DE HORACIO QUIROGA
É possível ensinar alguém a escrever? O que define a verdadeira literatura? Existem regras, fórmulas ou preceitos que devam ser seguidos? Embora a arte não siga exatamente a lógica, nem, muito menos, o artista, Horacio Quiroga, narrador uruguaio contemporâneo de Borges, escreveu um decálogo, "dez mandamentos", para o "perfeito contista", que ficou famoso. Quem tem alguma familiaridade com literatura deve ter ouvido falar, por exemplo, do primeiro mandamento: "Crê num mestre — Poe, Maupassant, Kipling, Tchekhov — como na própria divindade". Ou, então, de belos trechos, como este (do terceiro): "Mais do que qualquer coisa, o desenvolvimento da personalidade é uma longa paciência". Ou, ainda, de achados como este outro (do quarto mandamento): "Ama a tua arte como amas a tua amada, dando-lhe todo o coração". Assim, o escritor Sergio Faraco e a jornalista Vera Moreira tiveram, neste ano, a boa ideia de reunir, num volume especial, além do célebre decálogo, os comentários de autores brasileiros contemporâneos, tais como Charles Kiefer, Cíntia Moscovich, Deonísio da Silva, Flávio Moreira da Costa, Jaime Prado Gouvêa, José Castello, Luís Augusto Fischer, Miguel Sanches Neto, Moacyr Scliar, entre outros. Portanto, ao longo das páginas, cada mandamento é submetido às observações de todos, produzindo novas pérolas, como esta: "Use as palavras como se tivesse de pagar para publicá-las". Ou como esta outra: "Busque sempre os ossos da linguagem, mas nunca os deixe à mostra". Ou ainda: "Literatura de peso se faz em silêncio". Logo, os dez mandamentos originais, que ocupam uma única página, se desdobram em quase 100 outras. O volume se completa, finalmente, com as biografias dos comentadores, com uma bibliografia recomendada (sobre o ofício de escrever), com uma cronologia do próprio Quiroga e com os perfis dos organizadores. Num tempo em que o número de pessoas que escrevem aumentou exponencialmente, graças à internet, guias como este Decálogo do Perfeito Contista podem ser de grande valia.
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Decálogo do Perfeito Contista |
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O VENDEDOR DE LIVROS, POR MILTON ASSUMPÇÃO
O velho livro de papel já sofre digitalização, mas, no Brasil, muita gente boa aposta que há, ainda, um longo caminho, pois dispositivos de leitura de e-books, como o Kindle da Amazon, têm preços proibitivos para o grosso da população de leitores do País. E dado que o cenário se mantém, praticamente, o mesmo, obras como a de Milton Assumpção continuam válidas, e estimulantes, para quem ama os livros, deseja se embrenhar mais no universo deles, ou, simplesmente, almeja conhecer como "opera" o famigerado mercado editorial. Milton chegou a São Paulo com uma formação em contabilidade, décadas atrás; acabou controller da multinacional McGraw-Hill; assumiu a operação dela em Portugal; voltou, assumiu a operação dela aqui; comprou, enfim, a editora (que saía do Brasil); transformou-a em Makron Books; vendeu-a, habilmente, tempos depois; para, em seguida, fundar a M.Books — e para finalmente, neste momento, rememorar toda essa saga em O Vendedor de Livros. Coalhado de elogios nas primeiras páginas, o volume se divide em "De livro em livro", onde Milton aborda sua ascensão no business, e "Histórias e cases", onde saca lances de sua carreira de livreiro, quando uma grande ideia se materializa, trazendo benefícios para todos. Assim, Milton Assumpção conta, por exemplo, como foi pioneiro em lançar livros técnicos que aproveitaram a revolução do computador pessoal no Brasil. Passa por experiências em eventos como as antigas Comdex e Fenasoft, que foram, para ele e sua editora, equivalentes a uma verdadeira Bienal do Livro. Esmiuça como foi editar uma homenagem a São Paulo, em seus 450 anos, e como foi envolver nada mais nada menos que Pelé em um de seus projetos. Relembra a concepção e a consolidação de uma Casa de Cultura no Rio; e, na outra ponta, relembra a estratégia e o lançamento de verdadeiros best-sellers em áreas como marketing, turismo e entretenimento. O bom humor de Milton transparece na escrita, e ela só poderia ser um pouquinho mais depurada, para maior fluência e maior interesse do público leigo. O Vendedor de Livros, contudo, é um testemunho valioso, com ótimos insights, como, infelizmente, não é praxe no nosso mundo dos negócios. Se mais memórias, como a de Milton Assumpção, fossem publicadas, estaríamos melhor aparelhados para enfrentar os desafios deste novo Brasil global.
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O Vendedor de Livros |
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Julio Daio Borges
Editor |
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