Sexta-feira,
8/1/2010
Digestivo nº 448
Julio
Daio Borges
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IMPRENSA EM 2009
Apesar da previsão de Philip Meyer, foi em 2009 que os jornais, finalmente, começaram a acabar. Inclusive no Brasil, que assistiu à morte da Gazeta, depois de uma agonia de quase uma década. Até a revista Time emitiu seu atestado de óbito; e, no Brasil, até a Veja. Paul Starr, professor em Princeton, escreveu um belo ensaio sobre o fim da "era dos jornais", na New Republic. E a Associated Press, que acabou prejudicando os jornais na era da internet, resolveu atacar esta última, na esperança de defender seus "associados"... Para completar, o Guardian — um dos maiores "ex-jornais" da Inglaterra — soltou um anúncio para contratar blogueiros do mundo todo, com um detalhe importante: sem exigência de prática jornalística. (A Amazon também abriu seu Kindle para blogs.) Nesse sentido, o Brasil sofreu um baque semelhante, com o fim da obrigatoriedade do diploma para se exercer a profissão. Segundo os estudiosos, os jornais não teriam mais saída nem on-line — porque suas redações, inchadas, não poderiam ser sustentadas pela publicidade da internet. Um princípio que, por outro lado, também afetaria a chamada "economia da colaboração", que viabiliza a maior parte das iniciativas "grátis" na Web (incluindo as "jornalísticas"). Contudo, o Brasil viu surgir uma das melhores revistas dos últimos anos, a Serrote, dedicada a ensaios, pelo Instituto Moreira Salles (o mesmo da sempre elogiável Piauí — com o reforço, em 2009, de Rafael Sica). A ótima revista de cultura do Itaú Personnalité ficou mais visível nas bancas e a Livraria Cultura, igualmente, deu um upgrade na sua revista. Também a revista Concerto mudou de formato, para melhor. Ivan Lessa e Mario Sergio Conti reuniram sua Correspondência, através do UOL, em livro. E Lúcia Guimarães deixou o Manhattan Connection para estrear no Saia Justa e no Estadão. Mencken teve seu Livro dos Insultos relançado pela coleção Jornalismo Literário da Companhia das Letras, enquanto Murdoch resolveu "peitar" o Google... 2010 promete emoções ainda mais fortes.
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INTERNET EM 2009
O grande acontecimento na internet, em 2009, foi a ascensão do Twitter e da chamada Web "em tempo real" (com a adesão, inclusive, do Google). O Facebook tentou imitá-lo, o Google (de novo) tentou comprá-lo e o FriendFeed terminou muito parecido com ele (infelizmente), mas o Twitter, de Evan "Blogger" Williams, Biz Stone e Jack Dorsey, acabou virando mainstream (até no Brasil). Houve gente que anunciou desistir de seus feeds em prol da nova ferramenta... Cris Dias, um dos pais fundadores da blogosfera brasileira, chegou a proclamar que o Twitter (ou os microblogs) era(m) mais importante(s) que os mesmos blogs... Os blogueiros brasileiros, aliás, tiverem a sua própria Flip, com a segunda edição da Campus Party. E a blogosfera BR polemizou, em 2009, quando o assunto foi Petrobras — uma vez que a empresa protagonizou uma cena do que atualmente se chama de "desintermediação"... O livro mais importante de 2009 — apesar de estar longe de ser unânime — foi o Free, de Chris Anderson (Campus). Nele, o autor do clássico Long Tail leva a prática do Google de oferecer serviços de graça ao limite, incitando outras empresas a fazerem o mesmo e concluindo que "se for 'digitalizável', será grátis". Embora o Google continue imbatível nas buscas, acabou ultrapassado, em 2009, pela Apple, de Steve Jobs (em valor de mercado). Jobs, aliás, foi eleito o CEO da década pela Forbes, ao refundar a própria empresa, da qual havia se afastado, e promover a inovação, como ninguém, graças a produtos como o iPod e o iPhone e a serviços como o iTunes e a Apple Store. Embora tenha declarado, há anos, que o Kindle não seria uma boa ideia, porque "ninguém mais lê", especula-se que Jobs prepare, para 2010, sua versão de leitor eletrônico... O e-commerce se consolidou, como nunca, no Brasil, o Buscapé foi vendido por mais de US$ 300 milhões e Pão de Açúcar mais Casas Bahia ameaçaram ultrapassar Submarino mais Lojas Americanas. Para completar, o MySpace abandonou o barco, as mídias sociais (e seus "especialistas") cansaram um pouco e a informação continuou importante, apesar de suas inúmeras transformações...
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ALÉM DO MAIS EM 2009
A crise assombrou o Brasil no primeiro semestre, para ser "esquecida" durante o segundo, principalmente depois da escolha do Rio de Janeiro como a sede das Olimpíadas de 2016, seguida pela consagração do País na capa da Economist. Mesmo assim, em 2009 continuamos lendo obras importantes como o Cisne Negro (Record), de Nassim Nicholas Taleb, e O Crash de 2008, cuja tradução lançou a editora Aracati. Também Outliers (Sextante), de Malcolm Gladwell, mereceu nossa leitura atenta em 2009. E seu anunciado contraponto, Desafiando o Talento (Globo), de Geoff Colvin. Um aposta na "teoria das 10 mil horas", ao estudar os gênios, e o outro na "prática deliberada", ao estudar grandes realizadores. E por falar em ambos, continuamos interessados n'A Cabeça de Steve Jobs (Ediouro), de Leander Kahney — que, além de ser um livro fundamental, manteve-se na lista dos mais vendidos durante meses (algo raro de acontecer). Ainda na seara dos gênios, a maior autoridade viva sobre darwinismo, Richard Dawkins, passou pelo Brasil, na Flip, e, para os mais incrédulos, fez questão de "matar Deus" ao vivo (com tradução simultânea). Realizadores brasileiros, aliás, ganharam entrevistas antológicas de Cristiane Correa (e foram, merecidamente, um hit, no reino dos vídeos da internet). Ainda que o grande acontecimento, em termos de YouTube, tenha sido a transmissão exclusiva, e ao vivo, de um show do U2. Nossa televisão — abandonada até em sua versão "a cabo" — teve como "melhores momentos", justamente, as reprises dos 40 anos da TV Cultura. E até Colin Powell teve os seus 15 minutos "a mais" de fama, ao falar sobre liderança. Mas quem mereceu nossa leitura, ao falar de poder, foi Robert Greene. Os Donos do Poder (Globo) — by the way —, de Raymundo Faoro, fez 50 anos e mereceu edição comemorativa. Assim como Formação Econômica do Brasil (Companhia das Letras), de Celso Furtado. Lynn Hunt contou uma bela história dos direitos humanos, enquanto Richard Koch, mais na linha da "autoajuda", nos ensinou a conseguir 80% dos resultados só com 20% do esforço. Melhoramos?
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Julio Daio Borges
Editor |
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