Sexta-feira,
29/1/2010
Digestivo nº 451
Julio
Daio Borges
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INTERNET EM 2000-2009
Para a internet, a década ficou inicialmente marcada pelo estouro da bolha, no mesmo ano 2000. O fim da "exuberância irracional", porém, coincidiu com o início da "colaboração" — e, em 2001, nascia a Wikipedia. Nessa filosofia, já trabalhava o CardosOnline, desde 1998 (e o próprio Digestivo, desde setembro de 2000). Modelos "pré-bolha" ainda nasceriam, e morreriam, inclusive no Brasil — que assistiu à derrocada do NO., em 2002. Os blogs, embora tivessem nascido na década anterior nos Estados Unidos, começariam a despontar, no nosso País, em 2002 (ainda sob muitas críticas). Apesar de ter inventado os "projetos colaborativos", a primeira metade da década se encerraria com a internet ainda em descrédito. A maré começaria a mudar a partir de 2004, com a IPO do Google (uma prova de que a internet ainda poderia dar lucro). 2004 seria, também, o ano da descoberta do Orkut, e das "redes sociais", e de outro projeto colaborativo importante, no Brasil, o Trama Virtual. A segunda metade da década seria marcada pela nova ascensão da internet, que ficou conhecia, mais genericamente, como "Web 2.0". A internet de "conteúdo produzido pelo usuário" (pelos "leitores" e não só pelos "colaboradores"), de feeds RSS e de podcasts. Entre alguns do sites mais representativos dessa "nova" Web, estariam o Flickr e o del.icio.us (ambos seriam comprados pelo Yahoo). Ainda em 2005, John Battelle publicaria o primeiro livro sobre o Google. Impulsionada pela banda larga, a Web 2.0 consolidaria o e-commerce de sites como a Amazon — um fenômeno que permitiria, a Chris Anderson, desenvolver a teoria do Long Tail (ou da Cauda Longa). O YouTube aconteceria (e seria vendido para o Google) nesse mesmo momento. E os jornalistas brasileiros, finalmente, começariam a se render aos blogs (em 2006). Em 2007, nasceria, muito timidamente ainda, o Twitter; e, no Brasil, o Interney Blogs, capitaneado pelo blogueiro que mais faturava em reais. O MySpace chegaria, e iria embora do nosso País, enquanto o Facebook só aconteceria, de verdade, a partir de 2009. O Buscapé atravessaria a década e seria vendido por 300 milhões de dólares; enquanto a Estante Virtual revolucionaria o e-commerce de livros usados desde 2005... Agora, 2010 se anuncia como o ano dos livros eletrônicos. E esta década será — mais do que nunca — a dos dispositivos móveis conectados à Rede Mundial de Computadores. A Apple logicamente quer continuar dominando; como Steve Jobs dominou a década passada... Será que vai?
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LITERATURA EM 2000-2009
O início da década do novo século, obviamente, seria "assombrado" pela literatura do século anterior. Assim, os primeiros anos da década de 2000 assistiriam a reedições de monstros como Guimarães Rosa (pela Nova Fronteira, com direito a exposição no Museu da Língua, Centenário e 50 anos do Grande Sertão); Nélson Rodrigues (que continuaria crescendo pós-Ruy Castro, com edições de Caco Coelho, e mudança da Companhia das Letras para a Agir); Rubem Fonseca (com bons livros de contos, romances medianos e também migração para a Agir); e Dalton Trevisan (com obras como Pico na Veia e Macho Não Ganha Flor, merecendo, ainda, o epíteto de mestre do conto, e mantendo-se na Record). Mais para o final da década, seriam reeditados, igualmente, Jorge Amado, Vinicius de Moraes e Jorge Luis Borges, pela Companhia das Letras. Graças ainda à editora de Luiz Schwarcz — acompanhada de quase todas as grandes —, a década de 2000 ficaria conhecia como aquela em que o livro de bolso, finalmente, decolou no Brasil (com selos como Companhia de Bolso e Sabor Literário). Também a década dos eventos literários, capitaneados pela Flip; e dos prêmios literários, com destaque para o Portugal Telecom. A Geração 90 continuaria assombrando, com seus autores de qualidade duvidosa, e a chamada Geração 00 ficaria eternamente associada à internet (aos sites literários e aos blogs). O principal autor internacional do período continuaria sendo Philip Roth (mais um Nobel-que-não-foi). E o principal autor nacional do período seria Milton Hatoum, com Dois irmãos, Cinzas do Norte e Órfãos do Eldorado. Ainda se destacariam, na prosa, Cíntia Moscovich, Michel Laub e Daniel Galera; na poesia, Paulo Henriques Britto, Douglas Diegues e Fabrício Carpinejar (este oscilando um pouco); e, na crônica, Ricardo Freire, Antonio Prata e Ana Elisa Ribeiro. A principal editora a surgir, entre as tantas ligadas à internet, seria a Livros do Mal — que, além do mesmo Galera, revelaria Daniel Pellizzari e Clarah Averbuck. O principal crítico literário, no Brasil, se revelaria Sérgio Rodrigues, de NO. e NoMínimo; e, dos anos 2000, Paulo Polzonoff Jr., com passagens pelo Rascunho, por este Digestivo, por blogs e por livros como O Cabotino. A década veria, ainda, a consolidação de editoras (como, por exemplo, as aquisições do Grupo Ediouro); e a chegada das espanholas, como Planeta e Prisa-Santillana. E se pairou a ameaça da digitalização de volumes, promovida pelo Google, o livro atravessaria a década longe da pirataria (ao contrário de CDs e DVDs, no mesmo período). A nova década, contudo, acenaria com o Kindle — e o negócio do livro, então, mudaria para sempre...
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IMPRENSA EM 2000-2009
A década de 2000 continuaria assistindo à migração do melhor jornalismo para o formato livro. E um dos destaques mais marcantes, nesse sentido, seria a coleção Jornalismo Literário, da Companhia das Letras, que nos brindaria com clássicos como Hiroshima, Fama e Anonimato e O Segredo de Joe Gould (entre outros). Tom Wolfe, da mesma turma, continua em evidência na década, começando com Ficar ou não ficar. E até E.B. White ressurgiria, prevendo o 11 de Setembro... Entre os jornalistas brasileiros, marcariam a década os lançamentos de Joel Silveira (na mesma coleção da Companhia das Letras), Ruy Castro (com Carmen e muitos outros livros) e Elio Gaspari (com sua coleção sobre a ditadura militar). Na linha monstros sagrados, Ziraldo tentaria reviver o Pasquim (com OPasquim21), mas quem conseguiria o feito seriam Sérgio Augusto e Jaguar com as respectivas antologias pela editora Desiderata. Ivan Lessa apareceria mais em livro, até com Mario Sergio Conti. E Paulo Francis continuaria assombrando — no bom sentido — a década de 2000. Desde os 5 e 10 anos de sua morte até uma editora com o seu nome, até um perfil assinado por Daniel Piza (até um documentário, recentemente). Na ala das revistas, a Cult mudaria de mãos, a Trip mostraria longevidade e a Piauí chamaria a atenção (junto com a Serrote). Os jornais, depois de heróica resistência, confirmariam a previsão de Philip Meyer e começariam a morrer, solenemente, na década dos 2000 — com destaque para a Gazeta Mercantil, a Gazeta Esportiva, a Tribuna da Imprensa e a longa agonia do Jornal do Brasil... E, no mundo, alguns dos principais veículos prefeririam não ser mais chamados de "jornais", como o Guardian; tendo a crise do formato se abatido até sobre o New York Times. Confirmariam o óbito, ainda, revistas como a Economist, a Time e a New Yorker... A internet e o jornalismo feito nela, em compensação, se desenvolveriam — tendo como uma de suas principais bíblias o livro We the Media, de Dan Gillmor (e, pasmem!, a Wikipedia). Para completar, o STF acabaria com a obrigatoriedade do diploma (para se exercer a profissão); e o mesmo Guardian convocaria blogueiros para trabalhar (sem exigir sequer experiência em jornalismo). Nos anos 2000, os jornalistas virariam commodity (como alguém previu)... E, na década de 2010, não será a blogosfera que vai ameaçar os grandes veículos, mas, sim, a "statusfera"...
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Julio Daio Borges
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