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Terça-feira, 7/11/2000
Digestivo nº 8

Julio Daio Borges

>>> ALÉM DO MAIS Em todo canto do globo, todo mundo, nem que seja de soslaio, acompanha a disputa presidencial dos Estados Unidos da América - que ocorre, que se desenvolve, que se encerra neste minuto, agora, já. Cada um escolhe o candidato que lhe desperta maior interesse, maior simpatia, não só aqui, mas também lá, e fica-se torcendo por ele, como se torce numa disputa esportiva, como se torce numa competição qualquer, como se torce num jogo de sorte ou azar. E já que a política do vencedor afeta, direta ou indiretamente, a politicagem nossa de cada dia, deviam nos conceder também, pelo princípio de causa e efeito, o direito de resposta, o direito a voto, o direito de votar. E deveríamos poder lançar também nossos candidatos, nossas plataformas, nossos planos. Verdes, amarelos, azuis e brancos. Ou não. Quer dizer. Pensando bem. Melhor deixar entre Bush e Gore.
>>> http://www.georgewbush.com/
 
>>> O PIOR CEGO É O QUE VÊ TEVÊ A televisão por internet já é uma realidade, inclusive no Brasil. Finalmente está realizado o sonho de se assistir a programas na hora em que se quer, sem intervalos comerciais e sem as imposições da grade de horários. Pelo menos assim acenam as iniciativas da TV UOL, e dos portais Terra e America On Line. Os vídeos seguem o formato Real Player e, mediante uma mínima velocidade de transmissão da dados, permitem reprodução em tempo real, sem a obrigatoriedade de downloads demorados. Se o exemplo for seguido e se os acervos das grandes redes forem disponibilizados, a televisão passará por reformulação e por reavaliação, adaptando-se às práticas da internet e às suas necessidades. Claro, não existe novidade no simples fato de se dependurar um arquivo de vídeo numa homepage ou num site. A novidade está na migração de estúdios e de ícones da televisão convencional para as novas frentes do universo virtual, como fizeram Paulo Henrique Amorim, Lilian Witte Fibe e Marília Gabriela. A dúvida, porém, persiste (e é sempre a mesma): quem é que vai pagar por tudo isso?
>>> TV UOL
 
>>> WHERE ART THOU? Joel e Ethan Coen estão de volta em "E aí meu irmão, cadê você?". Filme que deve passar por produção nacional, dado o título cariocado. Em verdade, conta a saga de George Clooney, John Turturro e Tim Blake Nelson que, fugidos da prisão, vivem de dar golpes malsucedidos pelo estado do Mississippi. Roteirista e diretor dizem ter se baseado em Ulisses, de Homero, coisa que pouquíssima gente vai poder confirmar. Odisséias à parte, nota-se a perseverança naquele tipo de humor que ultrapassa os limites do racional. Os Cohen Brothers romperam, há muito, com a linearidade da narrativa: suas histórias não têm clímax ou anti-clímax; seus heróis ou anti-heróis nem sempre vencem no final. Tem gente que perde a paciência com tanto anti-convencionalismo, e sai da sala xingando. Charles Durning, contudo, protagoniza uma das cenas mais hilárias da história do cinema, quando sobe ao palco e acompanha os passos dos The Soggy Bottom Boys.
>>> http://studio.go.com/movies/obrother/
 
>>> DEUTSCHER EXPRESSIONISMUS Dentro dos ciclos do Expressionismo Alemão, promovido pelo Instituto Goethe, está a coleção do Von der Heydt-Museum, exposta no MAM. Trata-se da derradeira oportunidade de acompanhar os eventos realizados desde setembro, em torno desse movimento que repercutiu na música, no cinema, na literatura, na dança e nas artes plásticas. O choque de cores de um Kandinsky, de um Nolde, de um Mueller, de um Marc derruba qualquer sujeito. (Torna-se obrigatória a parada estratégica no café, para oxigenar o cérebro, apesar do jazz não ser lá dos melhores.) Paula Modersohn-Becker está igualmente bem representada. Uma seção especial dá conta das contribuições de Lívio Abramo, Lasar Segall e Oswaldo Goeldi. Do primeiro, destaca-se a fase em que pendeu para o informalismo; do último, os trabalhos em que usa crayon sobre papel. Por R$ 5,00, com estacionamento grátis, até 10 de dezembro, não tem por que deixar de visitar.
>>> MAM
 
>>> SE AINDA EXISTE ALGO DE FILOSOFIA, OU TUDO ACABA EM ERUDIÇÃO Heidegger, de Rüdiger Safranski, acaba de sair em português, com tradução da escritora Lya Luft. Biógrafo experimentado, Safranski já se aventurara por Nietzsche e Schopenhauer, antes de explorar o politicamente controvertido Martin Heidegger. A tradutora, por sua vez, revela certa inexperiência com o sujeito: ao verter conceitos como o de "eterno retorno" em imprecisões como "eterna volta do mesmo"; ao chamar a obra de Oswald Spengler, ora de "Declínio do Ocidente", ora de "Queda do Ocidente"; ou ainda, ao rebatizar a "Ásia Menor" com o codinome de "Ásia Pequena". Deslizes à parte, tem-se a trajetória intelectual de Heidegger desde a sua iniciação no Catolicismo até os seus últimos dias em Messkirch, passando pela Fenomenologia, passando por Edmund Husserl, passando por Hannah Arendt, passando por Karl Jaspers, passando pelo "Ser e Tempo", passando pelo no Nacional-Socialismo e pela reitoria de Freiburg, os anos mais nefastos do biografado. Como Platão, Heidegger também teve a sua Siracusa, e dela não se recuperou jamais. Reergueu-se, parcialmente, numa Alemanha destroçada, graças a consagração internacional e à atenção que despertou em homens como Sartre e Camus. De terminologia pesada e raciocínios intricados (que nem sempre funcionam), o volume exige fôlego e dedicação além do normal. Funciona mais como iniciação ao círculo e ao entorno de Heidegger do que como introdução à filosofia do mesmo.
>>> "Heidegger" - Rüdiger Safranski - 518 págs. - Geração Editorial
 
>>> MINHA PÁTRIA É MINHA LÍNGUA
"Chegando aqui, não tivendo vaga, cê me procura, que eu arrumo."
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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