Quarta-feira,
10/8/2005
Quem é essa figura que narra?
Julio
Daio Borges
|
Digestivo nº 239 >>>
A Et Cetera é uma bela revista. Ao menos plasticamente, a única revista brasileira com “cara” de revista de literatura: grossa, encorpada, vasta. Com projeto gráfico bonito e arejado, privilegiando o texto (viu, designers?), com um índice respeitável e quase 200 páginas. Mas é meio chata (sorry, Editores da Travessa). Isso porque provavelmente – apesar dessa aparência revolucionária – são, mais uma vez, os mesmos nomes que hoje infestam as poucas publicações literárias. Nelson de Oliveira, que, por exemplo, há alguns meses deu uma longa entrevista ao Rascunho (nem precisava tanto), está lá, de novo, em entrevista para Paulo Sandrini (óbvio que não tem mais nada pra falar). E assim Augusto de Campos, Claudio Daniel, Fabrício Carpinejar... Aliás, a Geração 90 precisava tomar cuidado: mal “estourou” e já está pecando por superexposição... E a Et Cetera publica muita poesia. Mais do que o recomendável. Poesia é muito perigoso; pois, como se sabe, o número de poetastros é muito maior do que o número de seres humanos. Mas não vamos nos indispor com nenhum nome (eles sabem quem eles são). “Pra dizer que não falei das flores”, o melhor momento da Et Cetera, que talvez valha a totalidade desta quinta edição, é a entrevista de Michel Laub a Flávia Rocha, numa fase pós-Bravo! em que ele escreve seu novo romance. E não por eles (Michel e Flávia) serem jornalistas; muitos outros também são (ou tentam ser) – mas, sim, porque a entrevista tem “valor agregado”. E Michel Laub não está em todo lugar; nem Flávia Rocha. Outro bom momento, embora pulverizado pelos excessos da recorrente Geração 90, é o “dossiê” “Como pensar uma literatura em que, aparentemente, temos mais autores do que leitores?” (um título capcioso). Et Cetera continua sendo uma bela revista; mas que ela, nas próximas vezes, entregue dentro o que promete fora.
>>> Travessa dos Editores
|
|
>>>
Julio Daio Borges
Editor |
|
|