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Sexta-feira, 9/9/2005
Maior abandonado

Julio Daio Borges




Digestivo nº 243 >>> O slogan da “responsabilidade social”, como mais um entre tantos, já cansou, e desperta a preguiça de quem o ouve associado a um projeto qual for... Então o que você pensaria de uma revista para moradores de rua, cujo maior objetivo é justamente sua “inclusão social”, por meio da própria venda, e de ações outras, contaminando a esfera editorial e, às vezes, transcendendo-a? Parece discurso de “responsabilidade social”, não parece? Parece. É; na verdade. É o discurso da revista Ocas. A Ocas, que deveria ser chata, depois de todo esse palavreado, – na verdade – é muito legal. Despojada do velho discurso de esquerda (que, muitas vezes, fica só no discurso, como estamos vendo), desprovida daquela carga de chavões que remontam a 1968, a Ocas parte para a ação: e reporta a vida dos que vivem na rua, dos que saíram, dos que superaram, dos que estão melhor. Não é uma revista denuncista, planejando uma revolução ou a tomada do poder (até porque esses planos ficam só nisso, não é verdade?), a Ocas “trabalha” a situação atual, e procura agir sobre ela, antes que venha um milagre ou um presidente sebastianista anacrônico. E o bom da Ocas é que ela é uma revista simples e bonita, leve e arejada, barata mas sofisticada na diagramação – e o melhor: é legível. Mesmo quando escrita por seus vendedores, os moradores de rua; mesmo quando composta por depoimentos costurados deles; mesmo quando feita por “gente normal” e, não, por jornalistas stricto sensu. Funciona assim: a revista custa R$ 3 para você e para mim, mas custa R$ 1 para o vendedor ambulante. Ou seja: quando você e eu compramos a Ocas, não estamos simplesmente dando R$ 2 para alguém que veio pedir na janela do carro; estamos adquirindo uma revista boa e estamos devolvendo àquela pessoa, àquele vendedor, sua “função social”. Parece uma bobagem: o que alguém faz com R$ 2? Mas já tem gente vivendo disso; e já tem gente mudando sua vida por isso. É o que mostra a Ocas de aniversário, de três anos de publicação, recheada com testemunhos emocionantes... Deve ser o que chamam “responsabilidade social”; deve ser o que chamam responsabilidade social quando não ficam só no discurso e partem para a ação.
>>> Ocas
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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