Segunda-feira,
19/9/2005
Pas de Deux
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 245 >>>
No já clássico documentário sobre jazz de Ken Burns, o baixista de Ornette Coleman, o mesmo do álbum Free Jazz (que inaugurou o subgênero), conta que, de repente, numa apresentação, apareceu um sujeito que posicionou a cabeça estrategicamente à boca de seu contrabaixo (acústico) e ele estranhou. Naquela época, ninguém entendia o tipo de música que faziam, onde parecia que um instrumento ia para um lado e o outro, para o outro (na mesma banda). No meio dessa incompreensão generalizada, subitamente, o baixista se tranqüilizou: o sujeito que queria escutar, com tanta atenção, as notas que ele tocava, apenas na aparência de forma aleatória, era ninguém menos que Leonard Bernstein. O célebre regente da New York Philarmonic (também um dos mais jovens de sua história) sempre flertou com o pouco convencional e quis, corajosamente, juntar o melhor de dois mundos: o da música erudita e o da música popular. Para isso, além de reger, e de marcar época com as suas interpretações (como aquelas para as sinfonias de Mahler), Bernstein compôs... musicais. Sim, musicais da Broadway que se tornaram tão ou mais famosos (e celebrados) que os seus recitais rigorosamente clássicos , como West Side Story, Candide e On the Town. Além disso, Bernstein foi precursor em uma outra pequena grande coisa que hoje Daniel Barenboim brada como feito seu mas que não foi ele quem começou: Leonard Bernstein idealizou uma orquestra multicultural que atravessasse as diferenças entre os homens, que promovesse a integração dos povos e que, sobretudo, celebrasse a paz. Pois a Montblanc, patrocinadora mundial da Philarmonia of the Nations (o sonho realizado de Bernstein pelas mãos de Justus Frantz), trouxe o seu CD até nós. No justíssimo tributo a Leonard Bernstein, que dá título ao álbum, estão os inesquecíveis trechos de Maria, a abertura de Candide e o Times Square: 1944 de On the Town, entre outros. Bernstein que podia dançar com os Beatles e, no momento seguinte, dialogar com Beethoven talvez nutrisse natural simpatia pelo Brasil. Na falta de confirmação post-mortem, podemos devolver esse sentimento com a mesma intensidade graças a essa iniciativa, local e global, da Montblanc.
>>> Philarmonia of the Nations
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Julio Daio Borges
Editor |
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