Segunda-feira,
10/10/2005
Na casa do mouro
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 248 >>>
Quem viu Christoph von Dohnányi, em sua estréia no Brasil, regendo furiosamente o balé Petruchka, pela temporada 2005 do Mozarteum Brasileiro, podia imaginar que ele transmitia, quase depois de um século, a bronca de Diaghilev, o encenador, ao compositor Stravinsky, que, em vez de entregar-lhe a encomenda de uma peça pagã, havia produzido apenas fragmentos vários ao piano... Mas, no fim, Diaghilev teve a visão de Petruchka, segundo ele, “o imortal e infeliz herói das feiras russas”, e se entregou – como se entregou, também, a platéia da Sala São Paulo, aos braços de Dohnányi, e da NDR de Hamburgo, regida por ele, depois de ter tido o privilégio de conviver com maestros efetivamente clássicos como Karl Böhm. Já Tchaikovsky surgiu, na mesma noite, com mais uma de suas meditações sobre a morte (segundo os biógrafos, Tchaikovsky era um suicida contumaz), através da sua Sinfonia nº 4, que, por parte de Dohnányi e da NDR, na nossa metrópole, mereceu um tratamento denso, amplo, oceânico, como se aos espectadores fosse comunicada a referida mensagem do “Destino”, conforme a profecia, nos comentários, de Eddynio Rossetto (sempre certeiro nas suas observações). E a imaginação correu solta para prefigurar o que seria Dohnányi e o prelúdio do “Primeiro Ato” do Lohengrin de Wagner; e o que seria a Sinfonia nº 7 de Beethoven, a mesma que teria colocado virtualmente o mesmo Richard pra dançar... – no dia seguinte. É por essas e por outras que a temporada de concertos, nesta nossa capital, tem sido incomparável (na realidade, sem precedentes na história da cidade), como, aliás, colocou Nelson Kunze, da revista Concerto, no Estação Cultura de Gioconda Bordon. E por mais que se diga que Kunze é “parte interessada”, desde o São Paulo Musical que ele não esteve tão coberto de razão.
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Julio Daio Borges
Editor |
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