Quarta-feira,
25/1/2006
Paciência e imediatismo
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 263 >>>
O aclamado professor de economia Eduardo Giannetti internou-se quatro meses numa pousada em Tiradentes para escrever sobre juros, sua base biológica e suas implicações filosóficas. A proposta de trabalho soa irresistível e seu objetivo, no mínimo, louvável. As entrevistas que o professor concedeu depois – até na Veja, onde, no final do ano, foi palpitar – são também razoavelmente interessantes. Apenas um problema na equação: O valor do amanhã, o livro resultante desse esforço (pela Cia. das Letras), não cumpre o que promete. Abriga boas teses, esboça pontos de partida instigantes, mas repete-se, constantemente; não aprofunda seus enunciados; e parece sempre se perder no verniz de excelentes citações a outros economistas e renomados pensadores. Em seguida do ótimo Felicidade (2002), Giannetti aparentemente se dispersou – na pressão por mais e mais lançamentos (anuais) –, de modo que não superou sua principal deficiência desde então: coloca os problemas, que pretende resolver, muito bem, mas não alcança uma solução; caminha para a aporia ou para o rebuliço da conclusão que não dá conta de todas as pontas soltas (ou de todas as portas abertas, cada um escolhe sua metáfora). Dizem que as aulas do professor Giannetti são brilhantes e que, entre seus melhores trabalhos, estão Vícios privados, benefícios públicos? (1993) e O mercado das crenças (2003), conclusão reeditada do seu ph.D. em Cambridge. Temos de concordar e de supor, provavelmente, que O valor do amanhã não seja representativo de toda essa capacidade. O livro confirma suas potencialidades, mas, vale repetir, como realização, é falho – até pela constante sensação de que poderia ser resumido em menos de 200 páginas. Eduardo Giannetti deveria ter perdido menos tempo na pousada e gastado mais energia com edição e notas.
>>> O valor do amanhã - Eduardo Giannetti - 328 págs. - Companhia das Letras
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Julio Daio Borges
Editor |
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