Quarta-feira,
7/6/2006
Der Wegweiser
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 282 >>>
Daniel Taylor, na foto de divulgação, às vezes se confundia com Mick Hucknall, do Simply Red. O mesmo cabelo enrolado, o mesmo ar juvenil... – mas quanto à voz, quanta diferença. Daniel Taylor veio a São Paulo para abrir a Temporada 2006 de Concertos BankBoston. Taylor não é, obviamente, um cantor pop: é um contratenor. Para quem não sabe, aquele tipo de timbre que continua, de certa maneira, a tradição dos castrati. Quem assistiu a Farinelli, o filme, sabe: jovens cantores líricos eram literalmente castrados antes da idade adulta para preservar o tom de voz. Muitos morriam no caminho, mas os que sobreviviam faziam história – até o início do século passado (o XX). Daniel Taylor não é, naturalmente, um castrato: é um artista virtuose que apenas preserva o seu registro vocal nessa mesma faixa de freqüência. Além de usar as cordas vocais como verdadeiro instrumento, e ter deslumbrado os circunstantes com peças de John Dowland (1563-1626) até Gustav Mahler (1860-1911), Taylor é uma das figuras mais simpáticas da cena lírica atual a passar por São Paulo. Não executou apenas com perfeição o programa, conversou com o público, revelou seu estado de espírito para cada obra e, principalmente, imprimiu sua marca em cada performance. Foi divertido, compenetrado e didático nos momentos certos – complementando o canto com um gestual sempre apropriado. O único senão foi não ter executado as três canções da série Winterreise, de Schubert – um ponto alto bastante esperado. Mas, até aí, foi nobre, e convocou Marie-Eve Munger, uma jovem soprano que, nesta turnê, Taylor exemplarmente apóia. Se continuar nesse nível em 2006, a Temporada de Concertos BankBoston vai, mais uma vez, confirmar porque é uma das mais celebradas da cidade.
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Julio Daio Borges
Editor |
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