Sexta-feira,
23/6/2006
É uma ver-gonha
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 284 >>>
Sim, a televisão já foi boa. (Bem antes de Boni – que, ultimamente, só serve para ir à Veja e proclamar: “A TV está ruim”.) Pelo menos, é a principal mensagem de Boa Noite e Boa Sorte. Para quem perdeu no cinema, o DVD é ainda mais imperdível. Coroa a trajetória “séria” de George Clooney, o sobrinho de Rosemary Clooney, que, depois de hits televisivos como Plantão Médico (ER), foi descoberto pelos Irmãos Cohen (que, por sua vez, de tempos em tempos nos impedem de concluir que o cinema acabou). Por culpa de uma participação em O Brother, Where Art Thou? (2000), um Ulisses (e, não, Ulisses) para tela grande, Clooney resolveu ser ator. E agora, também, diretor. E, ao contrário de muitos galãs, e cômicos, na mesma trilha, podemos já admitir que ele leva jeito para a coisa. Boa Noite e Boa Sorte basicamente encena os embates entre Edward R. Murrow, um dos âncoras do jornalismo da CBS nos anos 50, e o malfadado senador Joseph McCarthy. Sim, o do macarthismo, da “caça às bruxas”, devorador de comunistas nos EUA. Murrow é de uma inteligência assombrosa. (Para a televisão, é quase milagrosa.) Não admira que tenha sido perseguido e quase aniquilado. Inteligência quando combina com comunicação dura pouco. Onde há muita comunicação, há pouca informação. Ou vice-versa... O fato é que o New York Times repercutia suas intervenções semanais, no CBS Reports. Hoje, que ancora de TV mereceria isso? Hoje, que jornal editorialmente faria isso (olhar além do próprio umbigo)? É pra desistir de tudo, não é, não? Ou para ter esperança (não aquela, a eleitoreira, a política). E pensar que, nos seus primórdios, a TV já foi boa. Como a internet é hoje. (Afinal, é ela quem atualmente está derrubando âncoras...) Boa Noite e Boa Sorte talvez sirva como um aviso para preservar a única mídia que ainda resta.
>>> Boa Noite e Boa Sorte (trailer) | Good Night, And Good Luck
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Julio Daio Borges
Editor |
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