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Quarta-feira, 26/7/2006
Rua dos varredores

Julio Daio Borges




Digestivo nº 289 >>> Marcos Sacramento é um artista de palco. “Artista de palco” parece redundância, mas não é, não. Desde que inventaram a gravação, existem “artistas de estúdio” (e só de estúdio) – que fazem, também, uma apresentação ou outra, mas mais porque precisam do que por qualquer outra coisa (ainda mais agora, que a cópia não vende nada, mas a performance continua valendo para o público pagante). Assim, Fossa nova, o último disco de Marcos Sacramento, acompanhado do piano de Carlos Fuchs, não parece que chamou a atenção logo de início – em estúdio –, mas parece que precisou do empurrãozinho da estréia ao vivo, no Mistura Fina do Rio – no palco, portanto. Em seu primeiro disco – a estréia pela Biscoito Fino –, Sacramento já havia provado que era denso – mesmo cantando sambas. Era profundo, quero dizer, mesmo quando alegre; “pra cima”. Agora, imagine quando o tema é assumidamente “fossa” (mesmo que “nova”). Fossa nova, nesse aspecto, não é um disco fácil de atravessar – e talvez seja por isso a tal demora na sua aceitação. Marcos Sacramento possui aquilo que um músico de jazz apontou em Elis Regina (que considerava a maior cantora do século): seu canto carrega uma carga de dramaticidade que não deixa o ouvinte impune. Sabe-se que Elis, por exemplo, se debulhou em lágrimas quando registrou “Atrás da porta” – porque estava efetivamente vivendo aquilo e sofreu, de fato, quando cantou. Sacramento transmite a mesma sensação; e Fossa nova produz uma inquietação semelhante. É simbólico que o CD tenha saído pela Olho do Tempo, uma gravadora de músicos, para músicos, por músicos. Impossível arriscar um salto mortal no grande mercado do jeito que está. Ou, pelo contrário: somos mais verdadeiros quando nos aproximamos da dúvida; ou quando nem ligamos mais... Em resumo: se você se cansou da indústria, mas também dos “alternativos” – que não são alternativa a coisa nenhuma, pois querem todos ser mainstream –, seu intérprete é Marcos Sacramento. De novo: o maior do momento.
>>> Fossa nova - Carlos Fuchs e Marcos Sacramento - Olho do Tempo
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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