Segunda-feira,
7/8/2006
Animé et très décidé
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 291 >>>
Lauro Machado Coelho costuma afirmar que não tem muita paciência para Pierre Boulez. E, de fato, o Quarteto Parisii, executando uma peça do Livre pour quatour, de Boulez, parecia mais estar afinando seus instrumentos, ou tentando arrancar, de um instrumento harmônico – de cordas –, um som de percussão. Mas Lauro, apesar do gancho, teria esquecido tudo se ouvisse, em seguida, Debussy e, principalmente, o Quinteto para clarinete e cordas, K 581, de Mozart (no final). Foi na Temporada 2006 dos Concertos BankBoston, numa quarta-feira disputada com jogo de futebol no estádio do Morumbi, e em uma noite que teve ainda Darius Milhaud (o eterno secretário de Paul Claudel no Rio; sempre uma recordação da “música popular brasileira”, do século XIX, mas, desta feita, não exatamente pela peça escolhida...). O livreto mencionava a admiração de Brahms por esse Quinteto de Mozart, que, em sua época, introduzia o clarinete ao público e na literatura. E, realmente, o larghetto (2º movimento) lembra muito o Quinteto para clarinete e cordas, op. 115, de Brahms, que, quando composto, provocou lágrimas nas pessoas em volta (que, com ele, sensivelmente tomaram contato). Agora, pelos Concertos BankBoston, graças à eficiência de Romain Guyot, o solista, pudemos notar como, ainda em Mozart, o clarinete se arriscava, dando os primeiros passos, às vezes alçando vôo, um pouco preso, quem sabe, ao virtuosismo e à necessidade de mostrar serviço. (Leopold teria feito notar, a Wolfgang, os fraseados de execução difícil.) No menuetto (3º movimento), num apelo à consagração, dialoga o clarinete com o violino – mas incontestavelmente, no final da peça, é que marca seu lugar para sempre em orquestras (não só) de câmara. E, confirmando, mais uma vez, a civilidade das Temporadas BankBoston, os músicos circulariam entre o público nos intervalos... Boulez ficaria mesmo no aquecimento (e no esquecimento). Com o consentimento do Lauro.
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Julio Daio Borges
Editor |
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