Quarta-feira,
9/8/2006
Promessa
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 291 >>>
Para quem está cansado do boom de cantoras sem expressão, é um alívio encontrar um cantor (homem) com projeto. Ele é Mateus Sartori, que, mesmo com a morte proclamada do CD, ainda grava um álbum com conceito ou, basicamente, começo, meio e fim. Para gravar Todos os Cantos (com distribuição da Tratore) – na contramão dos “espontâneos” de qualquer barzinho – Mateus teve trabalho e, ao que parece, não poupou esforços. Como se afirmasse uma tendência: quem sempre ligou, aparentemente lança discos cada vez mais elaborados; já quem nunca ligou (ou então liga pouco), aproveita para jogar a culpa nas gravadoras, na pirataria, no establishment... Para que se tenha idéia da coragem de Mateus Sartori, nesta época de vacas magras para as artes da indústria fonográfica, ele grava logo com Guinga, “Neblina e Flâmulas” (composição do violonista com Aldir Blanc). Quem não tem medo do “melhor do mundo” (às seis cordas; segundo Ed Motta), não tem medo de nada. E, para não ficar só nos clássicos (outra saída “fácil”), Sartori encara um dos novos darlings da MPB (ou daquilo em que ela se transformou): reinterpreta “O Quilombo”, de Lenine, lado a lado com Renato Braz. Só escorrega, talvez, no francês de “Joana Francesa”, afinal, ninguém é perfeito (e não poderia faltar Chico Buarque). Enfim, quando se fala tanto em atitude – para vender rocks mal escritos, engabelar adolescentes politicamente ou carimbar estampas da moda –, Todos os Cantos sobrevive a muitas audições, sempre altivo, numa pretensão (saudável) que, como regra, falta hoje aos nossos cantores (e cantoras). Mateus Sartori talvez ainda não seja um nome tão conhecido quanto mereça, mas, se permanecer firme na mesma trilha, não vai demorar muito.
>>> Todos os Cantos - Mateus Sartori - Tratore
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Julio Daio Borges
Editor |
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