Quinta-feira,
10/8/2006
Só é louco quem não é
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 291 >>>
Campos de Carvalho tem fama de louco e incompreendido na História da Literatura Brasileira. Vai ver que é por isso que desperta tanto a simpatia dos escritores novatos (que adoram se identificar com incompreendidos, loucos e até fracassados). Mas Campos de Carvalho, felizmente, é mais do que isso; é mais do que o mito. Talvez seja o que a sua mais nova edição pela José Olympio, com apresentação de Antonio Prata, reunindo crônicas e cartas veio mostrar. Antes de entrar no conteúdo em si, vale dizer que os Prata têm sido seus protetores, desde os últimos anos de vida até a morte, quando Mario e Antonio, por falta de quorum, simbolicamente carregaram seu caixão. Dentro da coleção Sabor Literário, a primeira metade do volume abriga as cartas que Campos de Carvalho escreveu para si próprio, mas que alguém inadvertidamente publicou no Pasquim. Talvez tenha sido um dos seus poucos momentos de notoriedade desde que o escritor desistiu, nos anos 60, de seus romances. Campos de Carvalho não tinha nada a ver com as inclinações políticas do hebdô mas, de certa forma, combinava com o jeito desbocado, desregrado e por que não dizer? amalucado do jornal fundado por Tarso de Castro. Impossível não rir (até gargalhar) com as descrições de Campos de Carvalho para Paris e Londres turista completamente desorientado, não se identificava com nada e achava tudo aquilo um absurdo. (É de se perguntar o que foi fazer lá...) Já a segunda parte do volume contém crônicas. Aí, não são tão divertidas, até um pouco sombrias, à beira do surrealismo (ou seria realismo fantástico?) e da ininteligibilidade. Em resumo, não é um clássico da nossa literatura, mas um autor muito habilidoso que parece ter nascido na época e no lugar errados. Teria chegado, enfim, sua hora?
>>> Cartas de Viagem e Outras Crônicas - Campos de Carvalho - 126 págs. - José Olympio
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Julio Daio Borges
Editor |
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