Quinta-feira,
17/8/2006
Confessions of a dishwasher
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 292 >>>
Mais de 55 anos se passaram desde a morte de George Orwell, mas, ao contrário de outras velharias do século passado, ele continua obrigatório como leitura. Não só por causa de 1984, de A Revolução dos Bichos e do Big Brother (expressão que ganhou vida própria, em encarnações as mais variadas) – mas por causa dos seus ensaios. Orwell derrubou o seu Muro de Berlim antes de que fosse erigido o próprio. É leitura mais que indicada para fundamentalistas de esquerda, mas não vamos perder tempo, aqui, com política. Sua mais recente aparição, pela editora Companhia das Letras, é Na pior em Paris e Londres (Down and out in Paris and London, no original), com posfácio de Sérgio Augusto. Não propriamente um livro de ensaios de Orwell, mas um testemunho sobre sua experiência em matéria de pobreza na Europa dos anos 20 – com direito a “pegadas” ensaísticas, em alguns capítulos, inevitáveis. Orwell é subempregado, passa fome e mendiga. Arrisca a vida, causa danos irreparáveis à sua saúde e convive com a escória da humanidade. (Ainda que defenda seus colegas de infortúnio em muitas passagens.) É seu primeiro livro e, quando foi publicado, mereceu a pecha de exagerado. Nosso S.A. conta que na edição do próprio Orwell, recuperada recentemente em um sebo, alguns trechos mais picantes estão marcados com “this happened very much as described”. Depois de ler, e ponderar, o leitor descobre que pouco importa se tudo é 100% verdade. É George Orwell. Também indicado – no tempo em que nossos escrevinhadores confessam suas misérias on-line – para provar que gênio não se adquire, necessariamente, com uma boa passagem pela sarjeta. Orwell queria a experiência, sim, mas antes já era George Orwell (essa é que é a diferença).
>>> Na pior em Paris e Londres - George Orwell - 256 págs. - Companhia das Letras
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Julio Daio Borges
Editor |
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