Terça-feira,
22/8/2006
Tiro de Letra
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 293 >>>
A Flip e outros eventos literários que agora se multiplicam parecem evidenciar que as pessoas querem, realmente, saber como os escritores escrevem. Quem são esses seres por trás da “voz”? O que pensam? Como se tornaram o que são? Como conceberam seus livros? José Domingos de Brito, farejando essa tendência anos antes, ou não, coligiu declarações de escritores em dois volumes interessantes: Por que escrevo? e Como escrevo?, ambos pela editora Novera. Brito não é íntimo de nenhum dos autores, nem extraiu deles confissões ao longo da vida, apenas foi colecionando trechos de entrevistas, textos soltos e declarações várias, dos próprios escritores, sobre seu ofício. Antes da Flip, e de suas diversas (re)encarnações, era o caso de se perguntar: mas isso interessa, efetivamente, a alguém, a não ser escritores e escrevinhadores? Pode apostar que interessa, sim. É uma pena, para J.D. Brito, que seus volumes não estivessem à disposição dos ávidos freqüentadores (mais freqüentadoras, no final) da IV Festa Literária Internacional de Parati. Qual o conforto, para alguém que escreve, de saber que seu ídolo escrevia da mesma forma? Que usava máquina de escrever; ou que abominava o computador e preferia escrever a mão? Que acreditava na inspiração (Drummond); ou que não acreditava em inspiração alguma (João Cabral)? Que seguia um roteiro; ou que não seguia roteiro nenhum? Isso faz diferença no final das contas? A explosão de oficinas de texto – outra praga desta nossa época – parece indicar, simultaneamente, que os escritores em potência (ou em botão) clamam por algum direcionamento. Picasso dizia que toda criança era um artista – o problema estava em manter o artista dentro da criança enquanto ela crescia... Quando você aponta um caminho, para alguém, não está excluindo todos os outros? Quando você diz, numa “oficina”, que existe uma maneira correta de escrever, não está apenas replicando imitações de você mesmo ou do seu processo de escrever? Os livros de J.D. Brito combinam, perfeitamente, com os questionamentos “literários” do momento.
>>> Por que escrevo? | Como escrevo?
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Julio Daio Borges
Editor |
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