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Quarta-feira, 20/9/2006
Milagres não existem

Julio Daio Borges




Digestivo nº 297 >>> Logicamente, quando se pensa em “autores novos”, a tendência é evocar uma geração surgida junto com a internet e, hoje, com idade em torno de 30 anos. Jeanette Rozsas é uma autora nova que está aí para desfazer esse e outros mal-entendidos. Jeanette tem uma trajetória que, além de diferente das atuais receitas de bolo, é interessante. Embora conviva fraternalmente com autores novos da Geração 00, Jeanette Rozsas começou a escrever só depois dos 50 anos. Tudo bem, era advogada e escreveu, desde muito antes, até por obrigação de ofício. Mas a literatura de Jeanette Rozsas nasceu fora dos escritórios, fóruns e “peças” em geral: floresceu em oficinas literárias. Na aurora da World Wide Web, enquanto seus colegas de literatura brasileira contemporânea lidavam com o HTML e seus mistérios, Jeanette estabelecia o grupo Contares, junto a amigas afeiçoadas, como ela, à palavra escrita. Reunindo-se sempre, a turma do Contares adquiriu o hábito saudável de convocar, em ocasiões especiais, jornalistas, críticos e escritores – extraindo ao máximo ensinamentos de profissionais tarimbados, ou do mercado, ou apenas mais habituados ao desafio do papel em branco. Pois o Contares frutificou: rendeu um primeiro livro de mesmo nome; um segundo (Outros Contares); e até uma edição temática (Contares conta o Natal). Jeanette, com a experiência entre capas, foi abrindo asas e encarando vôos solo: montou um currículo só com premiações em concursos literários do Brasil e do exterior, para, paralelamente, publicar seu primeiro livro de contos, Feito em silêncio (Vertente, 1996). Ainda ligada à carreira de advogada, venceu o concurso da Associação de Magistrados Brasileiros (em 1998), no Rio, e transformou o texto premiado no pocket Autobiografia de um Crápula (2003). No ano passado, trouxe à luz Qual é mesmo o caminho de Swann? (7Letras), uma coleção de contos novos elogiados até por Luiz Ruffato (um dos descobridores da Geração 90); e, neste ano, desbravando o universo dos livros em áudio, viu dramatizado seu policial As Sete Sombras do Gato (Audiolivro). Jeanette Rozsas, apesar de ter rodado o mundo (literário e o outro), com seus escritos debaixo do braço, é modesta e estaria felicíssima em ser apenas indicada para o último Jabuti. Será que precisa? Jeanette Rozsas conseguiu sozinha o que a maioria, reclamando em conjunto, não conseguiu ainda.
>>> As Sete Sombras do Gato | Qual é mesmo o caminho de Swann? | Autobiografia de um Crápula
 
>>> Julio Daio Borges
Editor
 

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