Quarta-feira,
27/9/2006
Até o amor virar poeira
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 298 >>>
Mudamos de século, a internet revirou tudo, mas musicalmente falando continuam as mesmas duas opções estéticas de antes: explodir ou não com a forma? Na música pop, para usar um exemplo mais pedestre, a disputa é pelo fim ou pelo renascimento da forma-canção. No pop rock, digamos assim, a escolha fica entre o Radiohead (e as incursões solo de Thom Yorke) e, aqui, o Skank. A canção está tão imbricada na história da música nacional que compositores brasileiros eruditos se ressentem dela – e compositores populares cansam da experimentação (quando se arriscam) e, alegremente, retornam a ela. A guinada do Skank, para discos sonoramente “mais redondos”, portanto, é uma ilusão. E como toda ilusão, às vezes, prazenteira – como Cosmotron (2003). Era um álbum tão perfeito, naquele momento, que acabamos confundindo com uma obra-prima. Precisou sair, agora, Carrossel, para percebermos que não – que não é, talvez, por aí... Carrossel parece Cosmotron reloaded. É a mesma sonoridade sessentista e setentista, mais que assimilada, que igualmente assombra o rock pop internacional. Samuel Rosa – perguntado sobre, na MTV Brasil – “não diz nem sim nem não (faz que não entende e disfarça)”. Carrossel é aprazível; não resta dúvida. Ainda mais nos anos 2000 – em que: quem conhece música, perdeu o contato com a canção; e quem domina a forma-canção, não entende nada de música. Entre enciclopédias musicais que não emplacam nenhum hit e reis do hit parade que não sabem nem falar português, vamos deixar... a vida nos levar? E um Skank desce justo, redondo, de vez em quando. Não é uma completa novidade pop (historicamente falando), mas tem uma levada boa, não agride os tímpanos, e proporciona achados de letra & música como “Antitelejornal”. Cosmotron não foi exatamente um estouro de vendas (pegou a morte do CD); nem o Skank quer fazer ponte de safena (gravar Acústico) – então, o que será do futuro? Cosmotron reloaded deve, ao menos, segurar a maré de shows. Mas... e depois?
>>> Carrossel
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Julio Daio Borges
Editor |
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