Segunda-feira,
23/10/2006
Dentro da Floresta
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 301 >>>
Em tempos em que o jornalismo anda tão desacreditado, com o eterno encolhimento das redações, com a concorrência crescente das novas tecnologias e com a decorrente crise de identidade das empresas de mídia, o jornalista, quando abordado, não se mostra naturalmente a pessoa mais animada do mundo. Portanto, é no mínimo surpreendente encontrar alguém como Matinas Suzuki Jr., que acredita ainda no bom jornalismo e na sua prevalência, quando o que vende bem (quando vende) é sensacionalismo, “celebridismo” e até desinformação. Matinas está à frente do curso de Jornalismo Literário da Casa do Saber. Além de acumular a experiência de professor em cursos universitários de graduação, coordena a coleção de mesmo nome pela editora Companhia das Letras e, sobretudo, prega que o jornalismo é capaz de produzir heróis como George Orwell, Joseph Mitchell e o nosso Euclides da Cunha. Os Sertões, para Matinas, é a maior obra de jornalismo literário de todos os tempos; Mitchell é um monumento que a New Yorker se deu ao luxo de sustentar; e Orwell, aposta, será no futuro mais lembrando por seu jornalismo – existencial? – do que por sua ficção. Com uma platéia seletíssima, que inclui nomes como Marcos Caetano e Gisela Rao, a Casa do Saber tem encampado, às quartas-feiras, debates apaixonados num momento em que teóricos, nos Estados Unidos, já calculam até o ano de extinção dos jornais em papel... No Brasil, o próprio Matinas, apesar de sua coleção, se surpreende com o boom editorial do jornalismo literário em livro: Janet Flanner, A.J. Liebling, e E.B. White – são apenas alguns dos nomes nos últimos anos. Embora tenha feito parte do establishment jornalístico, Matinas afirma que o jornalismo brasileiro não poderá fugir para sempre da qualidade; pena que ele seja, justamente, uma exceção à regra.
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Julio Daio Borges
Editor |
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