Quarta-feira,
25/10/2006
Sarabande
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 301 >>>
São Paulo vive uma espécie de apoteose das suas temporadas de concertos, e até a Veja em São Paulo já reconheceu que, antes de 2006, nunca houve calendário igual. A capital paulista não tem mais por que invejar a Buenos Aires do Teatro Colón e nem tem por que ficar no saudosismo do tempo de Maria Callas... Ainda que a Veja pare um minuto para refletir sobre isso, normalmente a imprensa dá pouca atenção ao fato – e menos atenção ainda, aparentemente, a apresentações antológicas como o virtuose Ilya Gringolts, na semana passada, encerrando a Temporada 2006 dos Concertos Itaú Personnalité. Gringolts, ao violino, levou o Prêmio Paganini aos 16 anos e agora, aos 24, está dando o ar da graça em nosso País. Como se não bastasse, encarou a celestial obra de Bach – que compunha sempre “para a glória de Deus” (aliás, se Deus não existisse, Bach o teria inventado). Enfim, Gringolts deu uma performance digna da expressão “arena sangrenta”, que é como Glenn Gould classificava suas apresentações. O violonista russo executou as três primeiras sonatas (BWV 1001, 1003 e 1005) e as três primeiras partitas (BWV 1002, 1004 e 1006), incluindo a monumental Chacona, de dezessete minutos. A platéia, meio embasbacada, não sabia se prestava atenção na ausência de partitura, na agilidade sobre-humana do performer ou se na grandeza da obra de Bach. Ilya Gringolts, em princípio inabalável, dava conta do programa como se o encarasse diariamente numa espécie de “aquecimento”. Lembrou, de novo, o Gould do livro de Thomas Bernhardt, que tinha na cabeça as obras completas para piano de muitos dos grandes compositores – começava, “na brincadeira”, ao meio-dia e só parava às duas da manhã. Ilya Gringolts, para usar outra expressão do escritor austríaco, é uma dessas “máquinas de fazer arte”. Quem viu, viu; quem não viu, talvez, só na próxima encarnação.
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Julio Daio Borges
Editor |
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