Sexta-feira,
27/10/2006
Estilo radical
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 301 >>>
A Piauí conseguiu ser uma das revistas mais aguardadas e mais comentadas dos últimos tempos. Lá se vão quase dez anos do lançamento da Bravo!, que também provocou alguma comoção quando saiu mas que gerou certa desconfiança por ser excessivamente “plástica”. Em 1998, a internet comercial ainda engatinhava e ninguém acreditava que o texto pudesse ter, novamente, mais importância do que a imagem. Uma revista tinha de ser acintosamente bonita, como a Bravo!; e a Caros Amigos, então um hit menos engajado, era vista como de projeto gráfico ultrapassado. Tudo bem que, em 2006, a Piauí não é exatamente a última moda em matéria de design, mas seu texto vem se impondo gradativamente. Também, pudera: conseguiu o feito de trazer Ivan Lessa de volta ao Rio, quase trinta anos depois da sua partida – e ele produziu um texto que justifica a afirmativa de Diogo Mainardi de que seja um dos maiores escritores do Brasil... Rubem Fonseca é outro; é, ainda, um dos nossos maiores contistas vivos, junto com Dalton Trevisan – e está na Piauí com “Miriam”. A revista de João Moreira Salles, com direção de Mario Sergio Conti, quer ser nada mais nada menos que a New Yorker brasileira. O primeiro número é igualmente auspicioso graças a reportagens como a de Vanessa Barbara, sobre os amaldiçoados atendentes de telemarketing. A missão da Piauí, portanto, é civilizatória. Resta saber se vai haver ressonância por parte do público; se os anunciantes vão literalmente comprar a idéia; e se a redação vai manter esse nível depois de três décadas em que a tradição do bom texto foi deixada para trás. São pelo menos uma trinca de enigmas para a Piauí resolver. A isso, junte-se inevitavelmente o tema do “suporte” papel. A revista não se posicionou com relação à internet – e qualquer profissional de mídia sabe que, independente da qualidade da publicação, esse posicionamento hoje é fundamental.
>>> Piauí
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Julio Daio Borges
Editor |
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