Quarta-feira,
1/11/2006
Si me vers avaient des ailles
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 302 >>>
Fechou com chave de ouro a Temporada 2006 do Mozarteum Brasileiro, com dame Felicity Lott (soprano), acompanhada de Maciej Pikulski (ao piano), na Sala São Paulo. Foi felicíssimo o programa, que começou com Robert Schumann e que encerrou a noite com sir Nöel Coward. Como os músicos brasileiros costumam dizer, Felicity e Maciej foram do erudito ao popular com muita sabedoria, com muito humor, sem que o público pudesse sequer sentir a transição. Antes do intervalo, a platéia se deliciou com a pronúncia e com a expressividade do alemão de dame Felicity, também, em Richard Strauss, que musicou desde Goethe (e Michelangelo) até Herman Hesse. Fora a teatralidade da intérprete que, de vestido longo, fez um belo uso do gestual, sem cair na afetação, encarnando poesias e canções como se fossem o melhor da ópera. Depois do intervalo, com a troca de roupa, Felicity encontrou uma audiência mais solta, mais habilitada a entender e a reagir a Reynaldo Hahn, com sua francofilia venezuelana, e sobretudo a Maurice Yvain, que arrancou risadas graças a Yes! (da opereta homônima). Esta última peça contou, ainda, com a participação especial do mesmo Maciej Pikulski, que, na hora exata, soltava seu yes simpático. Jai deux amants, de André Messager, manteve o tom descontraído e, mesmo para quem não manejava bem o idioma de Voltaire, ficou claro o tema e seus desdobramentos. Sir Nöel Coward, além de encerrar, coroou a apresentação com Mad about the boy, Alice is at it again, If love were all e A bar on the Piccola Marina. Coward era homem dos sete instrumentos (catorze, segundo Lord Mountbatten, citado no programa), mas parece que, de tudo o que andou aprontando, seu cancioneiro é o que mais conserva seu valor intacto (fica a provocação aqui aos cinéfilos fãs do autor...). Foi uma noite civilizadíssima, para poucos e bons ouvintes. O Mozarteum, para completar, fechou sua 25ª temporada com números impressionantes. Que 2007 não demore demais a chegar.
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Julio Daio Borges
Editor |
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