Sexta-feira,
2/2/2007
Sim, chamam-me de louco
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 314 >>>
Com o jornalismo colaborativo levado até o limite, os editores andam fora de moda hoje em dia. A crença dos mais entusiasmados em matéria de jornalismo participativo é a de que um editor pode atravancar o processo; qualquer seleção, qualquer “linha”, qualquer entreposto entre o autor e a publicação, atualmente, ganha um novo e inusitado sentido de obstáculo. Mas o Brasil já teve editores lendários; principalmente, de livros; e eles fazem falta... – como José Olympio. Quem vê a José Olympio nas livrarias, como parte do Grupo Record, às vezes não imagina que um nome sólido assim na literatura brasileira teve também sua cota de heroísmo, de glória e até de aventura. Rua do Ouvidor 110, da jornalista Lucila Soares, conta a saga do José Olympio, de livreiro desde Batatais até o Rio, e da José Olympio, a livraria que era igualmente editora, e que foi, literalmente, “a casa” (não só editorial) de gente como José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Raquel de Queiroz e, mesmo, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade e Sérgio Buarque de Hollanda. Ao contrário da crença largamente difundida, de que autores novos não valem o investimento, e só dão prejuízo, José Olympio era “pelos novos”, como se dizia, desde a década de 1930, quando apostou em tiragens ousadíssimas para o período, que, curiosamente, se mantêm até hoje (se é que não diminuíram...). Com o perdão do clichê do jornalismo de business, José Olympio criou um mercado que antes não existia. E mais do que isso: criou ambiente para a Geração de 30, inseriu os escritores no contexto do País e, difundindo idéias que resultaram, inclusive, em ação política, mudou o Brasil. De quantos editores se poderia dizer o mesmo hoje em dia? Editores burocráticos, com os do jornalismo em papel, devem ser realmente abolidos, mas grandes editores, como José Olympio, são estratégicos para o desenvolvimento da Terra Brasilis.
>>> Rua do Ouvidor 110
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Julio Daio Borges
Editor |
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