Segunda-feira,
12/3/2007
O senhor é escritor?
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 320 >>>
Para quem achava que a Flip era um ovo de Colombo – porque nunca se tinha conseguido levar tantas pessoas “normais” a um evento de literatura –, Afonso Borges chega a São Paulo com o Sempre um Papo. Há mais de vinte anos (a Flip vai fazer cinco), Afonso começou em Belo Horizonte e foi expandindo seu circuito para mais de dez cidades brasileiras até chegar, em 2006, a São Paulo. A fórmula, a princípio, não é nada mirabolante: usando como gancho um lançamento recente, Afonso Borges convida um escritor para falar de seu livro, com ampla participação da platéia. No último dia 7 de março, por exemplo, Bernardo Carvalho esteve no Sesc Paulista (o Sesc, aqui, é um dos apoiadores do projeto – a patrocinadora é a Cosipa) discorrendo sobre o recentíssimo O sol se põe em São Paulo (Companhia das Letras, 2007), seu trabalho em geral e suas outras obras. Afonso, pelo que se pôde depreender, não é muito técnico nas perguntas, não fica especificamente na literatura e deixa o público se soltar. Ou seja: o Sempre um Papo contempla piadas, até confissões do autor (Bernardo Carvalho mostrou seu desespero com os índices descrescentes de leitura no Brasil) e nunca censura as perguntas, mesmo as mais estapafúrdias, do público. Ao mesmo tempo em que é um alento para a literatura, e sobretudo para os solitários escritores, o Sempre um Papo traz, embutido, o questionamento sobre a eficiência de tantas outras iniciativas que: ou não duraram tanto ou, transformadas em mera ação promocional, terminaram espantando os leitores. Apesar de suas claras ambições de mainstream, Borges chega à capital paulistana para abalar as estruturas dos eventos de literatura. As tradicionais sessões de autógrafo com palestra (e vinho ruim) têm de ser urgentemente repensadas.
>>> Sempre um Papo
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Julio Daio Borges
Editor |
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