Segunda-feira,
23/4/2007
Chorões e seresteiros
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 326 >>>
Talvez por influência dos guitarristas de rock, e do decadente star system, até no Brasil às vezes temos a impressão de estar assistindo a mais uma geração de ases do violão, fritando as cordas do instrumento como se só a velocidade, em música, importasse. Buscando as raízes do virtuosismo aqui mesmo em nosso País, talvez tenhamos ficado presos a mestres como Baden Powell, que era estridente no dedilhado e fez muito barulho (quando a MPB ainda era popular), e, claro, Raphael Rabello, cuja discografia extensa e cuja morte precoce, de certo modo, consagraram o modelo 10 anos a 1000 (em suposta oposição a 1000 anos a 10). Villa-Lobos, nosso pai esquecido do violão, era efetivamente um monstro, mas não só na execução: formalmente, na composição; e, incansavelmente, na invenção. Villa, simplesmente, resolveu humilhar o maior virtuose de seu tempo, Andrés Segovia, escrevendo para ele, por exemplo, doze estudos que, de tanta ginástica, terminaram por irritar o executante. Alvaro Henrique, mais um maluco a querer escalar o Everest das seis cordas, está divulgando, atualmente, seu registro de toda a obra de Villa-Lobos para violão solo. Em poucas apresentações pelo Brasil, permanentemente no YouTube e se você insistir em DVD na sua casa, Alvaro, na saudável obstinação para com o mestre, relembra aos brasileiros que se dispuserem a tanto o quanto Heitor Villa-Lobos, nos 120 anos de seu nascimento, nos humilha indiscriminadamente com seu gênio. Obrigado, portanto, Alvaro, por desviar a atenção das firulas dos contorcionistas das cordas de agora. Villa-Lobos, igualmente, agradece. E que o seu empreendimento sonoro chegue aos ouvidos de quem, realmente, interessa.
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Julio Daio Borges
Editor |
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