Sexta-feira,
4/5/2007
Na pior em Parati e em Londres
Julio
Daio Borges
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Digestivo nº 327 >>>
Houve uma época em que A Revolução dos Bichos, de George Orwell, era indicado na escola. Será que era bem compreendido? É provável que não. A parte da fábula — dos animais que se revoltam na fazenda contra o domínio dos homens — é facilmente assimilável na infância. Mas a conclusão de que sempre existirão "explorados" e "exploradores" — no regime que for — não parece ao alcance nem de alguns adultos hoje... O fato é que o livro é um clássico, para ser lido "numa sentada" (bem ao gosto do clichê), e foi reeditado, neste ano, pela Companhia das Letras, com posfácio de Christopher Hitchens. Hitchens se portou mal em Parati, na Flip 2006, contrastando, ironicamente, com Fernando Gabeira (que, na comparação, deu uma aula magna). Chegou ao Brasil declarando, pelos jornais, que era impressionante o que Orwell havia realizado tendo — "apenas" — uma mente mediana. Mediana ou não, para quem prometia tanto, o posfácio de Hitchens deixa, novamente, a desejar. Por haver se tornado persona non grata aqui, talvez, inclusive, seu posfácio tenha até prejudicado a edição de Animal Farm (o título original). O fato, mais uma vez, é que se trata de um page-turner tão brilhante que é praticamente impossível não passar dias (meses ou, até, anos) pensando nos personagens — tão demasiadamente humanos — que Orwell criou. Seu molde — está na cara para quem conhece História — é a Rússia pós-Revolução, com Lênin, Stalin e Trotski suinamente representados. Com laivos de nazismo, claro; afinal é difícil não associar o porco Garganta, do Ministério da Propaganda (1984), com Goebbels, para quem uma mentira repetida mil vezes vira verdade. Enfim, estamos falando de uma lição de século XX que não pode ser esquecida. E que, no Brasil, ou não foi aprendida ainda ou precisa urgentemente ser relembrada. Viva a Revolução. De Orwell.
>>> A Revolução dos Bichos
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Julio Daio Borges
Editor |
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